O SOS Racismo condenou esta terça-feira a morte de um homem na Cova da Moura após ser baleado pelas autoridades, naquilo que referiu ser "mais um na longa lista de mortos às mãos da PSP".."Odair Moniz junta-se à longa lista de pessoas negras mortas às mãos da polícia de segurança pública" e a "sua morte acontece num contexto político de exacerbação do discurso de ódio e de um securitarismo estigmatizante dirigido às comunidades negras", refere a associação antirracista, que questiona a justificação da PSP..Em comunicado, a PSP explicou que um homem em fuga morreu na segunda-feira após ser baleado pela polícia na Cova da Moura, quando tentava resistir à detenção e agredir os agentes com uma arma branca depois de se ter despistado e embatido noutras viaturas.."Como é que alguém que se despistou num carro em fuga pode sair em condições de querer agredir agentes armados? Tendo sido a tentativa de agressão com arma branca, segundo a PSP, supõe-se então ter existido uma efetiva proximidade com o agente atirador? Se sim, porque não alvejou a vítima na parte inferior do corpo para imobilizá-la, em vez de atirar para a axila?", questiona a SOS Racismo..Para a associação, "em todos os casos de brutalidade policial que resultaram em mortes de cidadãos negros, racializados, a PSP nunca foi convincente sobre as condições e motivos destas mortes"..Por outro lado, o SOS Racismo considera que a PSP está "inegavelmente infiltrada pela extrema-direita racista", pelo que "as mortes de pessoas negras às mãos de agentes policiais levantam as maiores dúvidas e preocupações sobre as reais motivações das intervenções"..Nesse sentido, a associação pede um inquérito para apurar "todas as responsabilidades dos agentes envolvidos neste assassinato, incluindo as da própria cadeia de comando" e, enquanto decorrer o processo, "exige-se a sua suspensão imediata de funções"..Para o SOS Racismo, há "um padrão de intervenção policial que opta por uma espécie de exceção jurídica em que a violência e a morte nos territórios e corpos habitados por pessoas negras passam a ser uma regra". .Também o movimento Vida Justa contestou, na segunda-feira, a versão da polícia sobre o homem baleado na Cova da Moura, Amadora, e exigiu "uma comissão independente para investigar as mortes em circunstâncias estranhas que ocorrem na periferia" de Lisboa..Em declarações à Lusa, Flávio Almada, porta-voz do Vida Justa, disse que, segundo o relato dos moradores do bairro da Cova da Moura, "a versão da polícia é totalmente falsa". .Flávio Almada, morador no bairro, onde fica a associação Moinho da Juventude, na qual trabalha, disse que "a história está muito mal contada" e que se assiste à construção de "uma narrativa" que justifique a ação policial..Segundo os relatos recolhidos no bairro, o que houve foram "dois tiros num trabalhador desarmado", afirmou..Recordando que "não é a primeira vez" que algo semelhante acontece na Cova da Moura, Flávio Almada falou numa "cultura de impunidade" policial e instou a PSP a "assumir a sua responsabilidade" e a desencadear uma investigação "séria e isenta"..MAI determina abertura de inquérito.Na segunda-feira, a ministra da Administração Interna determinou à Inspeção-Geral da Administração Interna a abertura de um inquérito "com caráter de urgente" sobre a morte de um homem na Cova da Moura, na Amadora, após ser baleado pela PSP..Além deste inquérito na IGAI, a PSP já tinha anunciado a abertura de um inquérito interno junto dos polícias e de testemunhas para apurar as circunstâncias que originaram esta ocorrência..Segundo aquela força de segurança, os agentes da PSP deram ordem de paragem a um homem que, ao visualizar a viatura policial, encetou fuga para o interior do bairro da Cova da Moura, tendo o condutor entrado em despiste, abalroando viaturas estacionadas e o carro em que seguia ficado imobilizado..De acordo com a PSP, na rua principal do bairro os agentes abordaram o suspeito, que "terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca"..Após o disparo, o suspeito foi assistido no local e transportado para o Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, onde veio a morrer pelas 06:20.