Sónia Falcão: "Precisamos de criar mais ídolos e exemplos que as jovens queiram seguir"

Consulting Lead na Microsoft, a profissional trabalha há mais de duas décadas na tecnologia, uma área que continua a ser dominada por homens, e defende a importância de atrair mais mulheres para o setor.

Os dados do Eurostat sobre a presença feminina nas atividades ligadas à tecnologia em Portugal são claros e inequívocos: apenas 14,4% dos profissionais são mulheres. Este valor está abaixo da média europeia, mas também abaixo daquilo que Sónia Falcão, consulting lead na Microsoft, considera necessário. Porém, reconhece dificuldade na contratação paritária. "Mesmo para a nossa empresa é difícil atingir estes rácios, porque é muito difícil encontrar mulheres no mercado com background tecnológico e experiência. Temos de ser mais intencionais para o conseguir", aponta ao DN. Além do esforço que defende dever ser feito pelas empresas, considera essencial que a atração do público feminino para a tecnologia comece nas escolas. "A tecnologia tem de ser introduzida como algo divertido, é o primeiro passo. Mas também precisamos de criar mais ídolos e exemplos que as jovens querem seguir", defende.

Sónia Falcão recorda os tempos de faculdade no Instituto Superior Técnico e sublinha que a opção de embarcar neste setor foi, para si, um acidente de percurso de que nada se arrepende. "Éramos, de facto, muito poucas na turma. Seríamos à volta de 10% num curso muito grande, com cerca de 220 alunos", partilha. Apesar de reconhecer que sentiu "uma desconfiança adicional" dos colegas neste período, quando iniciou o seu percurso profissional o cenário mudou. "Onde sentia mais diferença era no contacto com clientes, aí senti diferença no tratamento. Mas consegui utilizar isso a meu favor, porque os clientes tratavam-me com mais calma, tinham mais cuidado a falar comigo e eu também sentia que podia desafiá-los mais sem que levassem a mal", revela.

Depois de breves experiências em cargos mais técnicos, no início de carreira, Sónia Falcão entrou na Microsoft em 2001, onde permanece até hoje. Já desempenhou muitos cargos, incluindo de liderança de equipas, e atualmente assume a função de consulting lead na direção executiva da multinacional. Embora aponte que o seu local de trabalho é diverso e inclusivo, admite que, durante muito tempo, essa não era a realidade geral do mercado de trabalho. No entanto, aponta que hoje as questões da paridade e da diversidade são cada vez mais valorizadas pelas empresas, ainda que defenda a necessidade de continuar a insistir em medidas como as quotas obrigatórias. "Quando era jovem, era contra as quotas. Tinha a visão romântica de que ia progredir só com o meu mérito, mas com a idade tornei-me mais pragmática. Não podemos esperar, é urgente acelerar e medidas como as quotas ajudam nesse processo", defende.

Além disso, acredita que as empresas têm o dever de contribuir para a mudança de paradigma. Mais do que apontar uma medida mágica que solucione os problemas da paridade nas organizações, diz ser no conjunto de medidas que está a solução. "Por exemplo, desafiamos muito os nossos recrutadores a ter candidatos em igual número sempre que possível. E também criámos programas de formação e transformação de competências para preparar pessoas que possam vir de um background diferente", detalha. Não basta, contudo, dar oportunidades iguais no acesso ao mercado de trabalho, importa também garantir remuneração igual para homens e mulheres, diz.

Focada nos objetivos, Sónia Falcão já sabia que pretendia chegar a um cargo executivo na gigante tecnológica e esse foi um dos motivos que a levou a aceitar o convite para participar no programa de formação de líderes da CIP e da Nova SBE, o Promova. "Acho que foi a formação certa, dada da forma certa no momento certo para mim. Começámos com um processo de autodescoberta de que gostei muito", partilha. A conjugação da dinâmica de desenvolvimento pessoal com a formação em competências mais técnicas facilitou o cumprimento da meta que tinha traçado: fazer parte da direção executiva da empresa. E assim aconteceu em junho. "Foi uma boa oportunidade para desenvolver algumas competências de liderança", reforça.

Diversidade é a norma

Presente em Portugal há mais de três décadas, a Microsoft encara as questões ligadas à diversidade e igualdade - de género, étnica e religiosa - como parte fundamental da sua estrutura, que deve ser preservada e incentivada. Ao DN, Sónia Falcão confirma que "desde muito cedo começámos a controlar estes rácios" no equilíbrio de géneros na força laboral que, globalmente, é constituída por cerca de 30% de mulheres. A falta de oferta no mercado de trabalho condiciona uma subida mais acentuada destes números, sublinha a consulting lead. "Portugal é um exemplo. A nossa direção executiva anda à volta dos 40% ou 50% de mulheres em cargos de liderança. Ainda não estamos onde queremos, há partes do mundo em que é mais difícil consegui-lo", conclui.

Com o apoio CIP/CGD/Fidelidade/Luz Saúde/Randstad

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG