Os Serviços de Urgência dos hospitais de Barcelos, Caldas da Rainha, Chaves, Guarda, Santarém e Tomar já tiveram de encerrar temporariamente por falta de médicos nas escalas, mas as Urgências das unidades de Almada, Amadora-Sintra, Aveiro, Barreiro, Braga, Bragança, Famalicão, Figueira da Foz, Lamego, Leiria, Lisboa, Matosinhos, Penafiel, Ponte de Lima, Porto, Póvoa de Varzim, Portalegre, Portimão, Santa Maria da Feira, Torres Vedras, Viana do Castelo, Vila Nova de Gaia, Vila Real e Viseu também estão a registar grande pressão e algumas podem ter de vir a encerrar..Este balanço foi feito pelos sindicatos médicos, que preveem que a situação ainda se agrave mais em novembro, pois, na primeira semana de outubro, o número de médicos que está a recusar fazer mais do que as 150 horas extraordinárias previstas na lei passou dos 1500 para os 2000, segundo a Federação Nacional dos Médicos (FNAM)..Esta estrutura sindical andou em caravana pelos hospitais do país a apelar aos médicos para que não façam nem mais uma hora extra dos que as 150, como protesto contra as medidas aprovadas unilateralmente pelo Governo para o SNS, ao fim de 16 meses de negociações. E parece estar a funcionar, sobretudo em unidades do Norte e do Centro, como Viana do Castelo, Vila Real, Barcelos e Viseu..O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) prolongou o pré-aviso de greve às horas extras nos cuidados primários até 22 de outubro, o que tem levado ao cancelamento de muitas consultas..Perante esta situação, a Ordem dos Médicos pediu uma reunião urgente com o ministro da Saúde, Manuel Pizarro. Ontem, à saída do encontro, o bastonário mostrou-se satisfeito e anunciou ter havido "uma postura diferente da tutela", com "nova abertura" para "reabrir a negociação de algumas matérias, nomeadamente do horário de 35 horas semanais". No entanto, Carlos Cortes deixou explícito haver urgência em que as matérias discutidas passem a "um compromisso escrito até final do próximo mês"..Tanto a FNAM como o SIM confirmaram ontem ao DN terem recebido durante a tarde uma missiva do ministério para o agendamento de nova reunião, mas manifestam-se céticos quanto às promessas feitas à Ordem..A vice-presidente da FNAM, Vitória Martins, disse ao DN que "esta e outras promessas foram feitas ao longo dos 16 meses de negociações com os sindicatos, mas nunca foram vertidas num documento escrito por parte do Governo". Portanto, sublinha, "já não caímos em deslumbramentos de reuniões. Já passámos essa fase". E o voltar às negociações implica haver "uma proposta escrita do ministério que a FNAM possa avaliar com toda a seriedade e com o objetivo de que possamos todos salvar o SNS", assume..O secretário-geral do SIM, Roque da Cunha, também se manifesta cético, dizendo mesmo: "Pela experiência que tivemos destes meses de negociação não acredito que de um momento para o outro o ministério mude de atitude". Roque da Cunha diz que os médicos "agradecem os esforços que o Sr. Bastonário está fazer no sentido de apoiar o reforço do SNS, mas só com uma proposta escrita é que acreditamos que se pode voltar a negociar"..A vice-presidente da FNAM especifica mesmo que a questão dos horários, referida ontem pelo bastonário, foi abordada nas reuniões pela tutela, mas nunca colocada por escrito. "A única proposta escrita colocada em cima da mesa só surgiu na última reunião, a 28 de agosto, e era sobre o regime de dedicação plena. E dela constam medidas que conflituam diretamente com o nosso acordo coletivo de trabalho, que não é transversal para todos os médicos. É um regime que premeia os médicos que estão exclusivamente dedicados à atividade hospitalar no SNS e a FNAM tem defendido uma aproximação da valorização salarial para todos os médicos da ordem dos 30% e sem perda de direitos"..Para haver uma inflexão nos protestos previstos para os próximos tempos - duas greves nacionais: a 17 de outubro, com manifestação em frente ao Ministério da Saúde, pelas 15.00 horas; e nos dias 14 e 15 de novembro -, "isso só depende do ministro da Saúde e das políticas que o Governo quer para o SNS", que os sindicatos dizem ter atingido uma "situação limite". Para Vitória Martins, "o que os médicos esperam e a população também é que haja um verdadeiro interesse político em relação ao SNS, de forma a resolver os seus problemas e a dar a toda a população o direito de acesso à saúde, que é um direito de todos"..No final da reunião com o ministro, o bastonário referiu ainda que "todas as propostas discutidas hoje pela Ordem dos Médicos (OM) e que tiveram abertura da parte da tutela serão apresentadas numa reunião de emergência do Fórum Médico - plataforma que reúne todas as organizações médicas - que a OM vai marcar para dia 12, em Coimbra"..O bastonário lembrou que um dos temas abordados foi também o de abertura para uma nova carreira médica, já que esta "é uma reivindicação médica de há vários anos. Há necessidade de termos uma carreira médica que tenha em conta os setores da Saúde, Justiça e Defesa, sem esquecer que há médicos no setor público, privado e social"..O DN contactou o Ministério da Saúde para saber se vai ser apresentada uma proposta escrita com medidas, mas não obteve resposta.