Robôs portugueses ajudam no cancro, na velhice e na ciência

A inteligência artificial é uma realidade com aplicações quase infinitas. Instituto Superior Técnico tem três exemplos concretos
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Divertir crianças com cancro, ajudar idosos a ter uma vida ativa ou estudar o cérebro humano. Tarefas importantes e nobres, realizadas também agora com ajuda de inteligência artificial.

Exemplo disso são o projeto Monarch, o iCub e o Vizzy, três robôs que o DN foi conhecer ao Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa, a convite da PlayStation. O contexto? O lançamento do jogo Horizon Zero Dawn, em que o ambiente é pós--apocalíptico e as máquinas mandam na Terra.

Fomos recebidos pelo professor João Sequeira e por três robôs do projeto Monarch, que ocorreu entre 2013 e 2016 e foi coordenado pelo próprio, em colaboração com várias universidades europeias e empresas portuguesas.

"A ideia era ter os robôs na pediatria do IPO, em Lisboa, a interagir com crianças", começa por explicar. O objetivo foi medir a aceitação das crianças aos robôs, bem como a interação entre ambos, o que acabou por se revelar um sucesso, também entre os graúdos. "Vagueavam pela pediatria e estabeleciam interações via voz e tato. Reconheciam as pessoas através de uma etiqueta e faziam várias brincadeiras. Até uma versão simplificada do jogo da apanhada. E isto era suficiente para as crianças estarem deliciadas", diz.

Houve até uma espécie de "integração social", porque as crianças "perseguiam e abraçavam os robôs".

As reações ao vaguear dos robôs pela pediatria eram o mais interessante e até os adultos diziam "bom dia" às pequenas máquinas. "Um pontapé de saída", segundo João Sequeira, para coisas maiores, uma vez que o Monarch começou como um projeto que tinha como objetivo ver a reação de pessoas à introdução de robôs no contexto diário.

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Outra máquina que está no IST é o iCub, um robô que se assemelha a uma "criança pequena". É usado para estudar o comportamento do cérebro humano e existe o objetivo de ensinar tarefas à criança robótica "apenas por demonstração".

"A ideia é interagir de forma tão natural quanto possível e que aprenda por demonstração, que é um mecanismo que nós humanos usamos muito", diz José Santos Vítor, presidente do Instituto de Sistemas e Robótica.

Destaque ainda para o facto de o projeto ser open source, ou seja, qualquer pessoa pode desenvolver o software que o move. "Cruzamos e trabalhamos por cima dos resultados de outros investigadores", afirma Santos Vítor. O "boneco" é montado em Portugal, no Reino Unido e em Itália. É o modelo "mais avançado do mundo", só existem 30 em funcionamento e um deles está em Portugal. O iCub teve um investimento inicial de 8,5 milhões de euros e cada réplica custa "entre os 300 e os 400 mil euros".

Por último, José Santos Vítor falou sobre o Vizzy, desenhado para "criar empatia", dado que o principal objetivo do robô é o trabalho com idosos.

Totalmente produzido no Instituto Superior Técnico, foi desenhado com rodas para que se desloque melhor. Além de tarefas básicas "de escritório, como ir buscar um café ou um papel", o principal propósito será mesmo ajudar os idosos a terem uma "vida ativa". O robô pode acompanhar as pessoas nas deslocações dentro ou fora de casa, evita obstáculos, tem jogos e outras atividades e até pode ir buscar uma bebida, detetar quando o fogão ficou aceso, etc.

Ou seja, tem tudo para que os idosos não fiquem simplesmente a "deixar o tempo passar".

Os robôs foram desenvolvidos no Instituto de Sistemas e Robótica de Lisboa (ISR-Lisboa), afiliado ao IST, e que faz parte do Laboratório de Robótica e Sistemas de Engenharia ()LARSyS. O ISR-Lisboa é um centro de investigação onde trabalham cerca de 50 investigadores doutorados e 80 estudantes de doutoramento, de várias nacionalidades.

Máquinas a mandarem nos humanos? "Futuro muito longínquo"

"Será o mundo um dia governado por inteligência artificial?". Pergunta inevitável dados os avanços tecnológicos que se verificam praticamente a cada dia.

A resposta é "Não", ou pelo menos nenhum de nós estará vivo para o ver. Quem o diz são os professores João Sequeira, João Santos Vítor, Pedro Lima e Rodrigo Ventura, e o técnico de laboratório Ricardo Nunes.

Nenhum acredita num total domínio das máquinas sobre a raça humana, como já foi descrito em vários livros ou contado em diversos filmes. Se acontecer, será apenas num "futuro muito, muito longínquo", afirmaram os especialistas, depois de alguns segundos de silêncio, sorrisos e olhares em redor da sala.

Ainda que seja evidente que o homem e a máquina estejam cada vez mais interligados. Rodrigo Ventura, professor de 42 anos, dá o exemplo de como está automatizado o funcionamento dos armazéns da Amazon, em que há robôs para ir buscar as encomendas.

Também José Santos Vítor, presidente do Instituto de Sistemas e Robótica, deu o exemplo de como as compras online servem para que fique criado um "perfil" digital que pode ser usado por várias aplicações na internet. Mas apesar de tudo, ressalva, ainda existe uma "grande distância" entre humanos e robôs no que toca à resolução de determinadas tarefas e problemas.

"Há uma grande diferença entre os sistemas virtuais não incorporados, digamos assim, e o exemplo dos robôs", considerou Pedro Lima, também professor no IST, de 55 anos, referindo-se aos sistemas presentes nos assistentes digitais, como a Siri ou a Cortana.

Definido que não iremos ser tomados de assalto por robôs armados super inteligentes (pelo menos nos próximos anos), ficou também assente que são necessárias regras éticas para esta atividade. E que é tão complicado "seguir as regras como criá-las".

Em total acordo estiveram os presentes na última questão em conversa. "Se tivesse, um robô o que este faria?".

"Tarefas domésticas", ecoou na sala.

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