O Ensino Superior (ES) público disponibiliza 76.818 lugares (mais 691 do que no ano passado) e o privado 24.980 lugares (mais 956 do que em 2024), sendo que o Governo reforçou vagas para áreas críticas, como a Educação Básica (mais 130) e a Medicina (mais 204). Os reitores aplaudem a informação divulgada ontem pela Direção-Geral do Ensino Superior (DGES), mas alertam que é necessário acompanhar o aumento com medidas de incentivo aos alunos.Em declarações ao DN, Paulo Ferreira, presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), vê o aumento de vagas como um sinal “muito positivo”, nomeadamente no que se refere aos cursos de Ensino e de Medicina. “Há um aumento importante de vagas de Educação Básica, nos 20 cursos a nível nacional. Sobem cerca de 20 por cento e isso é uma boa notícia para o país porque precisamos de professores”, sublinha. Contudo, refere, “aumentar só o número de vagas não chega, são necessários colocados (candidatos)”. “Em 2018, o número de candidatos por vaga era de 0,8, o que significa que oferecendo 1000 vagas, colocávamos 800. O ano passado, foi de 1,9 – teríamos tido 1900 candidatos [mas não haveria vagas para todos]. Por isso, aumentar o número de lugares em 20% garante um aumento efetivo de lugares”, explica. Ainda no que se refere aos cursos de Educação Básica, sublinha ser “muito importante que não se falhe nos professores de 1º ciclo” e garante estar a haver “um aumento da procura destes cursos e da capacidade de respostas das Universidades”. “Há mais procura da profissão de professor e há também mais oferta”, afirma. O presidente do CRUP alerta, no entanto, que é necessário olhar para a estrutura etária dos professores existentes, que “tem de ser analisada para saber as verdadeiras necessidades e saber quantos docentes se vão reformar”. “Precisamos também de ver a capacidade de formação, a procura a nível de mestrados e as condições para o exercício da profissão – o que leva, por exemplo, um professor formado em Aveiro a ir para Lisboa”, acrescenta. Assim, diz ser necessário apostar em “incentivos em função do preço da habitação”, bem como em “complementos de salários em função das distância”. “Estas e outras medidas devem complementar o aumento de vagas”, sustenta. O mesmo se passa, segundo Paulo Ferreira, com os cursos de Medicina. “Olhar só para as vagas é redutor. É preciso formar os especialistas e, depois, que sejam retidos no SNS. É a partir daí que a qualidade do SNS melhorará e isso não depende das universidades”, avança. O aumento das vagas é “um bom sinal, mas não basta”. “É preciso uma consolidação da formação de especialistas e capacidade de os introduzir e manter no SNS”, conclui. Analisando o panorama geral das vagas de acesso, o presidente do CRUP entende que, “num cenário de contração demográfica, mas com procura maior de formação académica, é estimulante ver estas medidas”. Segundo o responsável, nos jovens que têm à volta de 18 anos “a procura pelo ES tem vindo a subir”. “Os indícios que temos é que a procura tem aumentado e as ofertas das universidades têm dado resposta”, afirma.Já no que se refere às perdas de vagas em algumas instituições de Ensino Superior, Paulo Ferreira não lhe confere grande importância porque são maioritariamente nos regimes especiais de acesso e não no regime geral “onde são colocados a maioria dos estudantes”.Os dados divulgados pelas DGES estão de acordo com as previsões do CRUP e daquilo que os reitores tinham solicitado. Contudo, aumentar as vagas, diz Paulo Ferreira, não é suficiente: “Precisamos de um programa de bolsas eficaz. Se não houver esse programa, ficaremos sempre deficitários”. Assim, entende ser imperativo “olhar para a capacidade em termos de bolsas e apoios sociais” para “não chegarmos às matrículas e não haver quartos suficientes a preços acessíveis”. “Risco de transformar essa expansão numa prática meramente estatística”Pedro Neto Monteiro, presidente da Direção-Geral da Federação Académica de Lisboa, analisa o aumento de vagas como “uma ambição nobre”, mas alerta que “sem o devido investimento na qualidade da formação, corre-se o risco de transformar essa expansão numa prática meramente estatística”. “A recente divulgação das vagas para o ensino superior em 2025/2026 gerou reações diversas. Se, por um lado, há um esforço inegável do Governo em ampliar o acesso ao Ensino Superior, por outro, subsistem interrogações quanto à sustentabilidade e eficácia desta estratégia. Aumentar vagas sem garantir condições para que os estudantes floresçam academicamente pode ser um exercício de ilusionismo político, com consequências nefastas para o futuro do país”, afirma, em nota enviada às redações. Para Pedro Neto Monteiro, “a história recente do ensino superior português demonstra que o aumento de vagas não tem sido acompanhado pelo necessário reforço de financiamento, infraestruturas e condições de trabalho para docentes e investigadores”.