Arranca dia 19 de maio a realização das Provas de Monitorização da Aprendizagem (ModA), o novo modelo de avaliação externa que substitui as Provas de Aferição. Estes exames vão decorrer no período letivo, ao contrário das provas finais de 9.º ano ou dos exames nacionais de Secundário, aplicados depois do término do ano letivo. E é aqui que reside o problema, segundo professores e diretores. “Cada escola está a adaptar a realização das provas de acordo com as suas características, como número de turmas ou o número de alunos que precisam de realizar as provas em sala à parte. Isso implica que, durante o turno da manhã, as escolas possam não abrir quando for a realização dessas provas”, explica ao DN, Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP). O representante acrescenta que, para além da disponibilidade de salas, são necessários professores que “ou estão a dar aulas ou estão a vigiar exames”. “A realização dessas provas traz constrangimentos ao normal decurso do dia a dia das escolas porque são as únicas provas que são realizadas durante o tempo letivo”, conclui.A Missão Escola Pública (MEP) - um movimento apartidário de professores - partilha as mesmas preocupações. “Há cancelamento de aulas e aumento do trabalho dos professores para assegurar a realização de provas que não têm impacto na avaliação dos alunos e que, como a experiência nos ensina, não mobilizam o seu empenho, tornando-se assim instrumentos sem validade para monitorizar aprendizagens”, afirma Cristina Mota, porta-voz da MEP.Para Paulo Guinote, professor de História e Geografia de Portugal, “a insistência em marcar provas em período letivo, a um mês do final das aulas é um erro que já devia ter sido corrigido”. “Seria muito mais adequada a sua realização após o final do ano, até porque neste momento ainda há conteúdos por lecionar e é praticamente obrigatório paralisar as aulas dessas turmas e outras para realizar as provas em condições”, explica.Ainda há alunos sem material informáticoA 15 dias do arranque das provas, a MEP garante haver ainda alunos sem computadores e critica a avaliação em formato digital, sem a garantia de equidade. “A simples existência de um formulário para as escolas reportarem necessidades em termos de equipamentos e conectividade é”, segundo Cristina Mota, “prova de que a capacidade digital não está assegurada em todas as escolas”. “Estamos a pouco mais de um mês da realização das provas de 9.º ano, que valem 30% da avaliação final dos alunos, e continua a haver alunos sem acesso garantido aos recursos necessários para realizar as provas em condições de igualdade”, sublinha. A MEP garante ainda que a capacidade digital continua a não estar garantida em todas as escolas e que a aplicação destas provas irá perturbar significativamente o funcionamento normal das instituições de ensino. Os professores pedem ainda que “o Ministério da Educação corrija com urgência o rumo seguido e ponha fim à obsessão tecnológica que agrava desigualdades, prejudica a qualidade do ensino e desrespeita os seus principais protagonistas: alunos e professores”.Os professores defendem também mudanças significativas no modelo de avaliação externa das provas MoDA e pedem “coragem” ao Governo para que estas provas contem para avaliação. A MEP entende também que deveriam ser aplicadas apenas a uma amostra, como nos estudos internacionais (PISA, TIMSS).Já para Paulo Guinote, “ao assumir o digital como desígnio o atual ministro deveria ter repensado a estratégia e cronograma da sua difusão”. O docente alerta para a falta de literacia digital de muitos alunos, com conhecimentos que se restringem “ao uso lúdico dos equipamentos”. “Uma transição digital obrigaria a um papel diferente da disciplina de TIC no currículo e a um investimento que não pode ser feito em modo de sucessivos remendos de um mau tecido”, salienta.Apesar das críticas, a MEP diz não ser contra a digitalização, mas sim “o processo em curso se transformou numa teimosia política, desconsiderando fatores essenciais como a equidade no acesso, as condições de trabalho dos professores e os verdadeiros objetivos da avaliação externa”.“A digitalização da avaliação não pode atropelar o direito de todos os alunos a uma escola pública de qualidade e de todos os professores a condições dignas de trabalho. Quando a tecnologia se torna um obstáculo em vez de uma ferramenta de inclusão, o futuro da educação está seriamente ameaçado”, refere.Cristina Mota lança ainda um alerta, e diz acreditar que “face à desorganização e sobrecarga gerada, os sindicatos poderão vir a agendar greves pelo menos no âmbito das provas ModA”.