Rankings continuam a dividir comunidade escolar: diferença entre privado e público acentuou-se
O desempenho dos alunos do ensino privado na avaliação externa supera a dos do ensino público. Segundo a agência Lusa, a média nacional dos exames do secundário realizados em 2024 manteve-se praticamente inalterada em relação ao ano anterior, mas duplicaram as escolas públicas com média negativa. No que se refere às provas finais de 9.º ano a média nacional melhorou, mas a maioria das escolas não chegou à positiva. As dificuldades foram sentidas, sobretudo, nas escolas públicas: em 683, a média foi negativa, o que representa 75,22% do total de escolas públicas, enquanto nos colégios foram apenas 21 aqueles que não chegaram aos três valores (15,56%).
Os alunos dos colégios voltam a ter melhores resultados, sendo que o Grande Colégio Universal, no Porto, lidera este ano a tabela realizada pela Lusa, que contabiliza apenas as 525 escolas que no verão do ano passado realizaram pelo menos 100 exames do ensino secundário. Os alunos do Colégio Universal fizeram 191 provas e a média foi de 16,51 valores, não muito distante da média interna atribuída pelos professores do colégio ao trabalho realizado pelos seus alunos ao longo do ano (17,04 valores). Num universo de 448 escolas públicas e 76 privadas, é preciso descer até ao 33.º lugar para encontrar a primeira pública com melhor média nacional: a Escola Básica e Secundária Dr. Ferreira da Silva, em Oliveira de Azeméis.
O que dizem os diretores e dirigentes?
Esta diferença pode ser explicada, segundo José Eduardo Lemos, diretor da Escola Secundária Eça de Queirós, na Póvoa de Varzim, pelas políticas de educação implementadas no anterior Governo do PS. “As políticas para a educação implementadas pelo ex-ministro João Costa fizeram pior do que a pandemia. Substituiu a avaliação rigorosa por alunos a passar de ano com 7 negativas, introduziu provas de aferição a quem ninguém ligava nada. O mantra da autonomia e flexibilidade curricular, por exemplo, foi terrível para as escolas e para os alunos. Estes resultados refletem essas políticas de facilitismo e falta de exigência. Os privados não foram na conversa daquele Governo”, justifica.
José Eduardo Lemos sublinha ainda ser possível verificar as consequências das medidas nos resultados obtidos em provas internacionais, que “têm vindo a descer desde 2015”. O diretor escolar garante, por isso, que a divulgação dos rankings é essencial para refletir sobre as políticas da educação, “para a população poder avaliar os serviços públicos prestados” e, paralelamente, para se poder “fazer uma intervenção para melhorar o desempenho dos alunos”. “A divulgação é um dos maiores serviços públicos prestados pelos jornais. Dá um exemplo ao Estado daquilo que é transparência. Os jornais tornam esses resultados acessíveis à população, permitindo ter uma ideia dos resultados de cada escola. Trata-se de respeito pelo princípio da transparência e é muito relevante”, sublinha.
José Eduardo Lemos vai mais longe e afirma a importância da divulgação de outros dados, como “o número de alunos por escola, número de professores, quanto gasta cada escola, quanto custa um aluno ao sistema, entre outros números”. “Só assim poderemos saber se os recursos estão a ser bem ou mal geridos”, defende. Já a comparação entre as escolas públicas e privadas, acrescenta, “não faz qualquer sentido”, pois “comparam-se realidades distintas e incomparáveis”. “O que é importante para as escolas para poderem melhorar o trabalho que fazem com os alunos, é comparar escolas com o mesmo perfil, por exemplo, escolas vizinhas e tentar perceber o que essas instituições estão a fazer para terem melhores resultados”, refere.
Em sentido oposto está Manuel António Pereira, presidente da direção Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), totalmente contra a divulgação dos rankings. Isto porque, diz, “se comparam as escolas do público e do privado e são uma fonte de injustiças”. “Há escolas que fazem milagres com os recursos que têm, mas não figuram no ranking. Os pais acabam por escolher instituições com bons resultados, sem saber que há boas escolas que não estão nessas tabelas. Muitos pagam o que têm e o que não têm para pôr os filhos no privado”, afirma. Questionado pelo DN sobre a diferença mais acentuada dos resultados dos alunos do setor público e do privado, nos exames nacionais e nas provas de 9.º ano, o presidente da ANDE diz não ser novidade e pede mais investimento na escola pública. “É preciso investir mais em recursos e nos instrumentos de trabalho e é necessário um novo Estatuto do Aluno para dignificar mais a escola”, alerta.
Para Manuel António Pereira “é preciso não esquecer que a escola pública tem falta de professores e que os privados não sentem essa carência”. “Os colégios escolhem os professores e os alunos. Não são inclusivos e é normal que os privados continuem a ter melhores resultados. Os alunos, quando chegam à avaliação, são postos em igualdade”, refere. O presidente da ANDE quer “melhores condições” na escola pública e garante: “com investimento, os resultados serão melhores”.
Alunos do privado têm notas nos exames mais próximas do desempenho ao longo do ano
Os alunos dos colégios privados conseguem obter nos exames nacionais resultados mais próximos das notas atribuídas pelos professores ao longo do ano. Já nas escolas públicas há maiores diferenças em relação às classificações internas. Entre as mais de 500 escolas públicas e privadas, não há nenhuma onde a média das notas dos alunos nos exames nacionais tenha ficado acima da média das notas atribuídas pelos professores, mas há estabelecimentos de ensino onde os resultados foram muito próximos.
Segundo a análise feita pela Lusa aos resultados obtidos no ano letivo de 2023/2024, houve sete escolas com uma diferença inferior a um valor (numa escala de zero a 20) entre a média nos exames e as notas internas, todas privadas.
Com Lusa