São cerca de 3000, espalhados por 25 municípios do país, sobretudo no litoral. São os únicos bombeiros profissionais do país e passou por um conjunto de provas rigorosas antes de abraçarem a profissão. Estão expostos a várias situações de risco, em todo o tipo de ambientes, dos fogos florestais a urbanos, pelo que o stress acaba por ser um elemento sempre presente na vida dos sapadores. São maioritariamente homens, embora, atualmente, o “número de mulheres estar a aumentar nos sapadores”, como conta ao DN Ricardo Cunha, presidente do Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores (SNBS), desafiado a traçar um perfil destes profissionais que, na quarta-feira, se manifestaram em grande número e ruidosamente em frente ao Parlamento, exigindo, entre outros aspetos, melhorias salariais..O subchefe de segunda, do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa, explica que para se concorrer a bombeiro sapador é preciso ter entre 18 e 25 anos e ultrapassar diversas provas. “Posso dizer que são provas mais exigentes do que para muitas das carreiras das forças especiais do Exército”, avalia o sindicalista. “Os jovens são submetidos a testes escritos, médicos, psicológicos, psicotécnicos. São muitas fases até atingirem a recruta. A recruta dura seis meses e muitos acabam por desistir. Os bombeiros são submetidos a elevados níveis de treino e de pressão psicológica durante a recruta para que, quando entrarem na vida real, não sejam confrontados com algo que os possa afetar”..Ainda assim, ao longo da carreira profissional há situações “que nos ficam na cabeça, são os nossos fantasmas”. Ricardo Cunha lembra-se de vários casos difíceis de encarar que enfrentou, em serviço. “No meu quartel, apanho muitas pessoas que são colhidas por comboios. Outro caso: não sei se as pessoas têm noção do que é apanhar uma pessoa queimada. Não é só a imagem, é também o cheiro, que fica. Ou um cadáver em decomposição.” .E relata um caso particularmente marcante: “Foi um acidente, no Eixo Norte-Sul. Uma carrinha foi contra um pilar, arrancou o tejadilho e quando cheguei a vítima tinha metade do crânio de fora. Ainda estava viva. Nem sequer houve tempo de desencarcerar, são vítimas para retirar imediatamente porque pior do que estão não ficam e têm de ser logo transportadas ao hospital”, explica. “Tive de o abraçar, segurá-lo pelo pescoço, lembro-me de ele fazer respirações pausadas e, de cada vez que respirava, escorria-lhe sangue e massa encefálica pelo rosto abaixo”. .Muitos sapadores “acabam por precisar de apoio psicológico - que também temos - e são medicados porque viveram situações que os incomodaram. Tentamos sempre ser um bocadinho psicólogos uns dos outros e aliviar as coisas, mas há camaradas que se fecham muito. Depois acabam por desenvolver problemas, até em casa, com as mulheres, porque ficam mais irritados, não são tão tolerantes. Somos treinados para ocorrer às situações, chegar lá e fazer, mas também as sentimos”. .O stress constante acaba por tirar, literalmente, anos de vida a um sapador. “Há estudos que dizem que um bombeiro sapador tem uma esperança média de vida 15 anos inferior” à média. Por isso, uma das reivindicações, que levaram à manifestação prende-se com a idade da reforma. “Estamos a pedir, para o bombeiro sapador e o subchefe - que são os que entram em edifícios a arder ou fazem desencarceramento -, que o acesso à aposentação possa ser feito aos 50 anos de idade, com 30 anos de serviço”. .Os salários são outra questão, bem como a progressão profissional. “O bombeiro sapador inicia a carreira com 1075 euros brutos”. Ricardo está há vários anos com a carreira estagnada. “Os concursos de promoção são muito demorados e as vagas limitadas. Posso dizer que só ao fim de 12 anos é que consegui ser promovido ao posto seguinte de bombeiro sapador. Estou como subchefe há sete anos”..O SNBS é favorável à profissionalização de todos os bombeiros “até para haver uma melhor distribuição por todo o território”. E destaca: “O sapador é o único bombeiro, no país, verdadeiramente profissional, com elevados níveis de exigência e formação. Trabalhamos em tudo o que seja: matérias perigosas, produtos químicos, biológicos. Somos treinados e capacitados em resgate urbano, incêndios urbanos, industriais e florestais e desencarceramento”. E deixa um alerta: “Os bombeiros voluntários, muitas vezes, trabalham sem formação adequada. Quem é que acaba por estar em risco? As pessoas. Não estou a criticar os voluntários, porque também há excelentes profissionais, mas os bombeiros deviam ser profissionalizados e, para isso, basta haver vontade política. Só que é um assunto que não dá votos e nenhum Governo pega nisto”..Por agora, não estão previstas novas ações de luta: “Estamos a aguardar para ver se o Governo acelera os procedimentos”, conclui o presidente do SNSB.