Quem são Luís Bernardo e João Tocha, visados na Operação Concerto
Luís Bernardo, ex-assessor de José Sócrates e antigo diretor de comunicação do Benfica, dono da Wonder Level Partners (WLP), e João Tocha, da First Five Consulting, são visados nas dezenas de buscas realizadas, esta quinta-feira, pela Polícia Judiciária (PJ) no âmbito da operação "Concerto". Estão em causa "fortes suspeitas de favorecimento de empresas do setor da comunicação, publicidade, marketing digital e marketing político, por parte de diversas entidades públicas", explica a PJ, em comunicado.
Consultor de comunicação, Luís Bernardo começou como jornalista em 1992, tendo feito parte da equipa fundadora da TVI, e chegou a assessor dos antigos primeiros-ministros e líderes do Partido Socialista António Guterres e de José Sócrates.
Antes de ascender ao gabinete de Guterres em 1999, aceitou um convite do malogrado dirigente socialista Jorge Coelho para se tornar assessor do então ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho. O atual líder da ONU dedicou-lhe uma nota de louvor em 2002, após a demissão do seu Governo, reconhecendo-lhe “ponderação, sensatez, competência, profissionalismo e grande sensibilidade política”. Durante o Executivo de Guterres, Luís Bernardo acompanhou dossiers importantes como o processo de transição de Timor-Leste ou o acidente de Castelo de Paiva, que levou à demissão de Jorge Coelho.
Entretanto, criou a sua primeira empresa em 2002, a sociedade Ideia Prima – Consultoria de Imagem, Comunicação e Eventos, que teve como sócios algumas pessoas ligadas ao Partido Socialista, do qual é militante desde 1987, tendo integrado em 1990 o Secretariado Nacional da Juventude Socialista liderado por António José Seguro. A firma tornou-se proprietária de alguns órgãos de comunicação social dos concelhos de Sintra Oeiras, nomeadamente Cidade Viva (Sintra), Correio da Cidade (Queluz, Sintra) ou Correio de Oeiras.
Em março de 2005 voltou a estar ligado à política como assessor de imprensa no gabinete do ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, com quem havia trabalhado na TV, e em julho desse ano pediu a exoneração para dirigir a campanha eleitoral à presidência da Câmara Municipal de Lisboa de Manuel Maria Carrilho.
À derrota do candidato socialista seguiu-se a nomeação para assessor do gabinete do então primeiro-ministro José Sócrates em janeiro de 2006, tendo ficado no cargo até à derrota nas legislativas de 2011. Tal como Guterres, também Sócrates lhe dedicou uma nota de louvor, realçando a “forma extremamente leal, competente e dedicada” como trabalhou.
Posteriormente, trabalhou como consultor de comunicação do Sporting (2015-16) e diretor de comunicação do Benfica (2016-17 a 2020-21).
Mais recentemente, a sua empresa Wonderlevel Partners (WLP) prestou serviços de assessoria a entidades governamentais ou dependentes do Governo, autarquias e à Global Media Group (que detém o DN) após a entrada do fundo World Opportunity Fund (WOF) na estrutura acionista, em setembro de 2023, até pedir suspensão do contrato, no final de janeiro deste ano. Esse contrato nunca foi reconhecido pela atual administração da Global Media, tendo Luís Bernardo avançado com uma ação judicial por falta de pagamento durante a atual administração, precisamente por esta não ter reconhecido o negócio.
Já João Tocha, amigo pessoal de Luís Bernardo, é sócio de várias empresas: da TGC - Tocha Global Communication, uma sociedade em nome individual que, entre outras entidades, presta serviços de comunicação à First Five Consulting (F5C); da JTINN, empresa de marketing digital e comunicação; e da 29 Graus, que organiza eventos; tendo também colaborado com o governo de Sócrates. Mas a sua entrada no mundo da comunicação sucedeu na Emirec, ainda na década de 1990.
Assumido maçom, iniciado no Grande Oriente Lusitano (GOL), onde integra a loja Lusitânia, Tocha é sócio-gerente da Tocha Global Communication, trabalhou nas empresas de comunicação LPM e Cunha Vaz e foi diretor do jornal Jovem Socialista nos tempos em que António José Seguro liderava o PS. Nessa altura, tornou-se militante do partido, mas diz não pagar as cotas desde as eleições internas entre Seguro e António Costa, em setembro de 2013.
Tocha foi ainda consultor do antigo presidente angolano José Eduardo dos Santos, de diversos ministérios do Governo português, e do antigo presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César, pelo qual fez campanha. Também coordenou diversas campanhas autárquicas em Portugal.
A Polícia Judiciária (PJ) está a realizar, na manhã desta quinta-feira, dezenas de buscas que visam Luís Bernardo, ex-assessor de José Sócrates e antigo diretor de comunicação do Benfica, e João Tocha, confirmou o DN. As buscas, segundo um comunicado do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), também se estenderam à secretaria-geral do Ministério da Administração Interna.
Na operação "Concerto", estão em causa suspeitas de crimes de corrupção, prevaricação, participação económica em negócio e abuso de poder relacionados com contratos públicos que visam a empresa do consultor de comunicação, a Wonder Level Partners (WLP), e a First Five Consulting, de João Tocha.
Atualizado às 23h50 de dia 6/7/2024 com retificações no percurso profissional de João Tocha, segundo dados facultados pelo próprio.