PSP trava invasão de propriedade e discurso xenófobo de líder do grupo Reconquista no Martim Moniz
Munido de uma coluna de som e de um microfone, o mais conhecido elemento do grupo extremista Reconquista, Afonso Gonçalves, invadiu, na manhã desta sexta-feira, na varanda de um prédio na rua do Benformoso - zona com uma grande população migrante - junto ao Martim Moniz, em Lisboa, para proferir palavras anti imigrantes, uma das principais bandeiras desta organização. Na varanda pendurou um cartaz onde se lia "Portugal aos portugueses" apelando à "remigração".
Alertada pelos agentes à civil que patrulham a zona, a esquadra local da Polícia de Segurança Pública (PSP) destacou para o local elementos fardados das Equipas de Intervenção Rápida (EIR), tendo um dos operacionais subido até junto de Afonso Gonçalves e retirado o microfone e a coluna.
Fonte oficial da PSP confirmou ao DN o sucedido, adiantando também que foram identificados cinco elementos, entre os quais Afonso Gonçalves, alegadamente ligados ao sucedido.
Apesar do discurso xenófobo e provocatório, o enquadramento legal para estas identificações não são de crime de ódio, mas, neste caso, de intrusão em propriedade. Porém, para haver consequências penais para os identificados o proprietário teria de fazer queixa, o que não aconteceu. Ao ser retirado do local pela polícia, os imigrantes presentes aplaudiram a ação da PSP.
Não é a primeira vez que o extremista faz ações do género. Afonso já gravou diversos vídeos na zona, sempre com mensagens anti imigração. Na semana passada, ao utilizar tribuna na Assembleia Municipal de Lisboa, foi retirado do local pela Polícia Municipal (PM) por proferir palavras xenófobas. A justificação da assembleia foi de que os valores são contrários aos da instituição. Alguns dos presentes entoaram frases como “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais”.
Também recentemente, o líder da Reconquista foi expulso de um evento no Porto em que o tema era imigração. Durante um dos painéis, Afonso Gonçalves começou a proferir palavras anti imigração, com uso da falsa teoria da substituição populacional.
A Reconquista é o grupo extremista de Portugal com maior presença nas redes sociais. Todas as ações são amplamente filmadas e publicadas na internet, principalmente no X (antigo Twitter). O foco do grupo é recrutar homens portugueses jovens. Como o DN mostrou em reportagem no ano passado, um dos objetivo da Reconquista é influenciar a política do país, sendo um dos responsáveis a convencer os altos quadros do Chega a utilizar o termo “remigração”.
PSP diz que invasão aconteceu em "local de culto informal"
O Comando Metropolitano de Lisboa da PSP explicou, em comunicado enviado às redações, que pelas 13:30 "procedeu à retirada de dois indivíduos, ativistas associados a movimentos de extrema direita, da varanda de um prédio sito na Rua do Benformoso, procedendo à sua identificação, bem com de outros três indivíduos, que os terão apoiado".
Os cinco indivíduos foram conduzidos à esquadra "para diligências processuais", tendo depois saído em liberdade.
A polícia detalhou que a invasão aconteceu numa altura em que havia uma "uma elevada concentração de pessoas", que se organizavam para aceder ao local de culto informal existente na Mouraria.
"Os ativistas escalaram, com a ajuda de um escadote, um prédio, colocando-se numa varanda no 1.º andar, onde exibiram tarjas e proferiram discurso contra a imigração, em língua portuguesa e em língua inglesa", narrou a PSP.
"Perante a informação do proprietário do edifício, um cidadão português, de que não autorizou a utilização do local pelos indivíduos, e que não pretendia que lá se mantivessem, foi ordenada a retirada dos mesmos do local. Porquanto não terem cumprido a ordem, foram retirados coercivamente, tendo o acesso ao prédio aos polícias sido facultado pelo proprietário", indica a nota.
A PSP diz que a intervenção dos ativistas, além de não ter sido "comunicada às autoridades competentes, nos termos da lei, teve potencial para ser considerada provocatória, dado que foram efetuados relatos que os mesmos se manifestavam também contra o Islão". No entanto, a polícia ressalva que "não foram registados quaisquer comportamentos violentos".