Português acusado de quatro homicídios em Madrid nega intenção de matar
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Português acusado de quatro homicídios em Madrid nega intenção de matar

O homem revela atropelou os convidados do casamento para fugir deles, na sequência de uma discussão originada no interior do restaurante.
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O português que em 2022 matou quatro pessoas e feriu nove num casamento em Espanha, num atropelamento, disse esta quinta-feira em tribunal que não acelerou o carro de forma intencional e que fugia de pessoas que o queriam matar.

Nascido em 1987 e residente em Espanha, M. da S. M., de nacionalidade portuguesa, está a ser julgado em Madrid.

Segundo a Procuradoria espanhola, em 6 de novembro de 2022 lançou intencionalmente o carro que conduzia contra convidados de um casamento em Torrejón de Ardoz, na região de Madrid.

M. da S. M. disse esta quinta-feira que entrou no carro, com dois filhos menores, para fugir dos convidados do casamento, que na sequência de uma discussão originada no interior do restaurante o perseguiam e ameaçavam de morte com "navalhas e pistolas".

Segundo o relato que apresentou em tribunal, entrou no carro para abandonar o local, buzinou sempre para todas as pessoas se afastarem e foi quando ouviu tiros que se baixou e o veículo acelerou "com o peso" do seu corpo, negando assim a acusação de que o fez de forma intencional.

O homem garantiu que não teve consciência de ter atropelado pessoas e que só percebeu o que se tinha passado quando, horas mais tarde, a polícia o deteve numa outra zona da região de Madrid.

"O carro acelerou pelo peso do meu corpo. Eu não tinha intenção de atropelar [ninguém]. Queriam matar-me com as pistolas e as navalhas", disse, garantindo que ouviu um impacto, viu um espelho do carro partido quando voltou a levantar-se, mas não viu sangue.

"Não sabia que tinha apropelado essas pessoas", afirmou.

Questionado pela procuradora do Ministéro Público se "pisou o acelerador", M. da S. M. respondeu que "automaticamente, o corpo, com o medo, acelerou" e garantiu que as pessoas que o perseguiam desde o interior do restaurante gritavam: "Português, vamos-te matar".

M. da S. M. está acusado pelo Ministério Público de quatro crimes de homicídio e mais nove de tentativa de homicídio, com a Procuradoria espanhola a pedir que seja condenado a 226 anos de prisão.

Na acusação do Ministério Público, a que a Lusa teve acesso, lê-se que o arguido, conhecido como "o português" e com antecedentes penais, foi à festa de um casamento em Torrejón de Ardoz, com dois filhos e dois sobrinhos, tendo um destes menores protagonizado um incidente dentro do restaurante, pelo que o grupo foi convidado a abandonar o local, já na madrugada de 06 de novembro de 2022.

A discussão continuou fora do restaurante e foi então, segundo o Ministério Público, que o acusado se dirigiu ao carro que tinha estacionado nas imediações e "acelerou o motor sabendo da presença das pessoas ali concentradas".

"Com total vontade de causar-lhes a morte ou assumindo a possibilidade de que isso acontecesse, atropelou várias delas", lê-se no documento.

"O acusado dirigiu o veículo" para as vítimas "sem lhes dar a oportunidade de se afastarem", acrescentou o Ministério Público.

O arguido fugiu do local após o atropelamento e foi detido horas mais tarde.

Os dois filhos, que tinham então 16 e 17 anos e iam com o acusado no carro quando fugiu, foram entregues à mãe pelas autoridades.

No atropelamento morreram uma mulher de 66 anos, dois homens, de 68 e 37, e um menor, de 17 anos, todos espanhóis.

As acusações particulares - das famílias das vítimas mortais - pedem que o português seja condenado a prisão permanente revalidada periodicamente, uma pena prevista no Código Penal espanhol que pode traduzir-se, na prática, numa prisão perpétua.

"Pegou no carro e lançou-o contra a multidão, como num atentado 'jihadista'", realçou em 12 de maio, quando arrancou o julgamento, em declarações aos jornalistas, o advogado Juan Manuel Medina, que representa a família do rapaz menor de idade que morreu.

O julgamento deverá terminar na sexta-feira, com as alegações finais de todas as partes, não havendo ainda data para ser conhecida a sentença.

M. da S. M. está a ser julgado por um júri popular.

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