Portugal expulsa 10 funcionários da embaixada russa
Portugal declarou como 'persona non grata' 10 funcionários da missão diplomática da embaixada russa em Lisboa, dando-lhes duas semanas para abandonar o país, anunciou esta terça-feira o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Em comunicado hoje divulgado, o ministério liderado por João Gomes Cravinho explica que as "atividades" daqueles funcionários são "contrárias à segurança nacional" e refere que o Governo notificou o embaixador russo "esta tarde".
Sublinhando que nenhum dos funcionários expulsos do país é diplomata de carreira, o Governo sublinha "a condenação, firme e veemente, da agressão russa em território ucraniano".
A decisão do Ministério dos Negócios Estrangeiros português segue a linha de vários outros países europeus, que anunciaram a expulsão de diplomatas russos nos últimos dias.
De acordo com uma contagem feita esta tarde pela agência de notícias francesa AFP, o número de diplomatas russos expulsos de vários países da União Europeia desde a invasão da Ucrânia ascende a pelo menos 260.
Desde a manhã de hoje, vários países têm vindo a anunciar expulsões de diplomatas russos dos seus territórios. Foi o caso da Dinamarca e da Itália, que anunciaram a expulsão de 15 e 30 diplomatas russos, respetivamente, e da Espanha, que decidiu mandar sair do país 25 diplomatas e pessoal da embaixada da Rússia, considerando que "representam uma ameaça à segurança".
Também a Lituânia anunciou a expulsão do embaixador da Rússia, assim como a Estónia, a Letónia, a Suécia e a Eslovénia, que, no total expulsaram 63 diplomatas e funcionários russos, acusando-os de "atividades de espionagem ilegais" e de representarem um regime que cometeu "crimes de guerra" na cidade ucraniana de Bucha.
Por seu lado, a União Europeia (UE) acrescentou à lista de sanções à Rússia a expulsão de Bruxelas de dezenas de políticos e empresários russos, além de restrições a quatro bancos.
"Estamos a ampliar as listas de sanções, acrescentando dezenas de pessoas da política ao setor dos negócios e envolvidos em atividades de propaganda, e ainda mais entidades do setor financeiro, da indústria militar e dos transportes, entre os quais quatro importantes bancos russos que, além de serem excluídos do sistema Swift, serão ainda proibidos de participar em quaisquer transições financeiras na UE", referiu, em comunicado, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell.
O Alto Representante para a Política Externa e de Segurança da UE acrescentou ainda ter decido "designar 'persona non grata' vários membros da Representação Permanente da Federação Russa na UE por envolvimento em atividades contrárias ao seu estatuto diplomático".
Já na segunda-feira, a Alemanha tinha declarado 40 diplomatas russos da embaixada de Berlim 'persona non grata', instando-os a deixar o país, enquanto a França avançou com a decisão de expulsar 35 diplomatas russos "cujas atividades são contrárias aos interesses" do país e representam um regime de "incrível brutalidade".
Nos últimos dias, dezenas de civis mortos foram encontrados em Bucha, uma cidade a 60 quilómetros de Kiev que esteve várias semanas ocupada pelas tropas russas e foi recentemente reconquistada pelos ucranianos.
Muitos dos mortos estavam espalhados na rua ou em valas comuns, tendo as autoridades ucranianas e os seus aliados acusado os soldados russos de terem cometido esses crimes.
Moscovo rejeitou em absoluto qualquer responsabilidade e disse que foi feita uma encenação por Kiev, tendo prometido dar "uma resposta à medida" à vaga de expulsões dos seus diplomatas.
Uma medida que a presidência russa (Kremlin) lamentou, afirmando que isso só vai dificultar as possibilidades de comunicação a nível diplomático numa altura em que "as condições já estão difíceis".
Isto "denota uma falta de visão que complicará ainda mais" as relações entre a Rússia e a União Europeia, declarou à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
"E isso, inevitavelmente, levará a medidas de retaliação", acrescentou.
O presidente russo, Vladimir Putin, já tinha assinado, na segunda-feira, um decreto para restringir a concessão de vistos para países da União Europeia e para a Noruega, Suíça, Islândia e Liechtenstein, devido às suas "ações hostis" contra a Rússia.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.480 civis, incluindo 165 crianças, e feriu 2.195, entre os quais 266 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra já causou um número indeterminado de baixas militares e a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, das quais 4,2 milhões para os países vizinhos.
Esta é a pior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945) e as Nações Unidas calculam que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
Notícia atualizada às 19:35