A investigadora Raquel Vaz-Pinto foi keynote speaker na Grande Conferência do DN sobre Defesa Nacional.
A investigadora Raquel Vaz-Pinto foi keynote speaker na Grande Conferência do DN sobre Defesa Nacional.FOTO: Leonardo Negrão

Portugal deve pensar "mais em qualidade" e menos em quantidade nos investimentos em Defesa

Raquel Vaz-Pinto, investigadora na Universidade Nova, analisou as alterações à ordem global e alertou que Portugal se habituou "a não pensar em defesa".
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Atravessam-se "tempos de transição", com alterações à ordem mundial, e os "sinais são claros e houve momentos que acabaram por catalisar essa mudança: desde a invasão da Ucrânia à Guerra do 7 de outubro [entre Israel e Hamas], passando pela tensão no Indo-Pacífico ou a proliferação do nuclear na Coreia do Norte".

A conclusão é de Raquel Vaz-Pinto, professora e investigadora no Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) da Universidade Nova de Lisboa. Falando na abertura da segunda parte da Grande Conferência do DN sobre Defesa Nacional, a investigadora foi keynote speaker e procurou retratar o estado da defesa, da estratégia e da sociedade num mundo em transição.

Na apresentação, a docente explicou que, apesar das alterações, "os Estados Unidos continuam a ser a super potência. A China é o melhor candidato para chegar a esse estatuto", mas ainda não está a esse nível. E há uma "parte de competição explícita" entre as várias potências globais, que vem de ainda antes da administração Trump. "George W. Bush fez um acordo com a Índia que englobava o nuclear", exemplificou.

Além disso, referiu, há ainda "desafios" que marcam a geopolítica atual, como "as democracias iliberais na União Europeia (UE), como a Hungria, que reagiu de uma forma diferente da Polónia à ameaça de Moscovo". Mas há "sinais positivos" que vêm da Alemanha (onde a nova presidência de Frederich Merz é "bastante interessante") ou de Itália, que tem "uma política externa atlanticista". Estas mudanças são também visíveis nos casos da Suécia e da Finlândia, que se juntaram à NATO, algo que seria "impensável há uns anos" e que o fizeram devido à ameaça de Moscovo.

Ameaça, essa, que se materializou, por exemplo, na Estónia, onde um ataque russo a cabos submarinos "deixou o país quase parado durante um dia". Estas infraestruturas, considerou Raquel Vaz-Pinto, devem ser protegidas e "o mapa dos cabos submarinos deve ser encaixado no conceito de estratégia", porque aquilo que Moscovo fez no Báltico foi "testar águas" para ver como a Europa "responde" numa situação semelhante.

E Portugal? Para a investigadora é claro: "Deve pensar mais em qualidade e menos em quantidade, bem como procurar reter os militares e os melhores, algo que se tem tentado fazer com o Plano de Profissionalização Militar."

Há, no entanto, "um ponto mais difícil", que é "pensar em defesa". Segundo a investigadora, as pessoas "habituaram-se" a não o fazer. "Quantos dos filhos dos amigos, dos sobrinhos ou afilhados, olham para a carreira militar como sendo interessante e atrativa? Habituámo-nos a não pensar em defesa."

Concluindo a intervenção, Raquel Vaz-Pinto apresentou ainda um inquérito que fez juntamente com outros investigadores, onde procuraram analisar o pensamento da população sobre a defesa. Para isso, utilizaram uma analogia: "Se o Orçamento de Estado fosse de 100€, quanto iria para Defesa? Só 5% acertaram no valor. Numa fase posterior, foi revelado o verdadeiro valor e 67% consideraram que é insuficiente." Por isso, a investigadora deixou um apelo: "Façamos pedagogia para trazer a defesa como um pilar fundamental da democracia e da soberania. Não queremos ter defesa só por ter. É um elemento de dissuasão em primeira linha."

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