Plano para 3.ª dose derrapa. Só 12% acima dos 65 anos estão vacinados
Até esta sexta-feira tinham sido vacinadas 315 mil pessoas com a 3.ª dose da vacina contra a covid-19, cerca de 12,6% do total da população com mais de 65 anos que está abrangida por este reforço.
Este número foi facultado ao DN por fonte que está a acompanhar o processo e que veio a ser depois confirmado pela Direção-Geral de Saúde (DGS).
Um número que, no entanto, está muito longe do previsto no plano que tinha sido traçado pela Task Force (TF), quando ainda liderada pelo vice-almirante Gouveia e Melo, apurou o DN.
O antigo coordenador tinha informado a Assembleia da República, no momento em que deixou o cargo, no final de setembro, que o reforço de proteção para a covid-19 representava vacinar cerca de 2,5 milhões, havendo precisamente, a 28 de setembro, cerca de 2,5 milhões de vacinas disponíveis, estando ainda previsto chegarem no quarto trimestre mais 6,1 milhões de doses, as quais se vão juntar as já contratadas para os primeiros meses de 2022.
DestaquedestaqueO plano era que todos os maiores de 65 anos estivessem vacinados com a 3ª dose até 19 de dezembro, já próximo da entrada oficial na estação de Inverno.
O plano era que todos os maiores de 65 anos estivessem vacinados com a 3ª dose até 19 de dezembro, já próximo da entrada oficial na estação de Inverno. O problema é que, ao ritmo atual - uma média de 16 mil vacinas por dia nos 19 dias que decorreram - nessa data apenas estarão vacinadas 690 mil pessoas, ou seja, 27% do previsto, ficando quase três quartos da população mais vulnerável desprotegida numa altura crítica.
De acordo com o plano delineado, ao dia de hoje deviam estar vacinadas, pelo menos, 500 mil pessoas. "Vamos iniciar a faixa dos 70/80 na próxima semana e no plano inicial devíamos avançar a 22 de novembro com os 65 anos, mas se não recuperarmos o atraso que temos agora, pode escorregar, pelo menos, uma semana", assinala a referida fonte.
Citaçãocitacao"Com as alterações na task force e a devolução do processo ao Ministério da Saúde tem-se vindo a assistir a alguns bloqueios no processo de vacinação que podem deitar a perder muito do que já se conseguiu".
Esta semana a Ordem dos Médicos alertou para os atrasos que se estão a registar na vacinação. Num comunicado assinado pelo bastonário Miguel Guimarães, a Ordem referia: "Com as alterações na task force e a devolução do processo ao Ministério da Saúde tem-se vindo a assistir a alguns bloqueios no processo de vacinação que podem deitar a perder muito do que já se conseguiu".
Sobretudo "porque nos aproximamos do inverno e os casos de infeção respiratória estão a crescer". Na mesma nota, a Ordem defendia ser necessário agilizar de forma urgente a administração da terceira dose da vacina contra a Covid-19 aos profissionais de saúde.
Mas em relação à população em geral, outros especialistas já vieram alertar para a situação. Na semana passada, o pneumologista e diretor da Faculdade de Medicina de Coimbra, Carlos Robalo Cordeiro, alertava para a necessidade de se acelerar o processo de reforço da vacinação dos grupos mais vulneráveis, idosos em lares, e as faixas etárias acima dos 65 anos. O professor referia mesmo ser preciso perceber que "a pandemia ainda não acabou".
O coordenador do Grupo de Crise para a Covid-19 da Ordem dos Médicos, Filipe Froes, também defendeu ontem ao DN a necessidade de se avançar com a vacinação contra a covid junto das populações mais idosas e dos profissionais de saúde, sublinhando mesmo que a infeção de profissionais de saúde tem um impacto forte na atividade diária das unidades e na sobrecarga de trabalho.
O DN enviou várias questões à Direção Geral de Saúde (DGS) na passada quarta-feira sobre a falha na execução desde plano de reforço de vacinação, pedindo também que fosse explicado a que se deve o atraso que se está a verificar e que medidas pretendem tomar para acelerar o processo.
A DGS não reconhece a derrapagem e respondeu ontem ao final do dia desta forma: "As pessoas elegíveis estão a ser chamadas de forma progressiva e por faixas etárias decrescentes, estando a ser utilizadas diversas metodologias de convocatória dos utentes e de apelo à vacinação. A estratégia de convocatória inicia-se por processos centrais, com chamada por SMS ou pelo SNS 24, depois recorre a métodos locais, com intervenção dos cuidados de saúde primários por contacto telefónico, seguindo-se o método de auto agendamento no portal da DGS, que habilita pessoas que não são contactáveis pelo SNS. O último mecanismo é a Casa Aberta, que possibilita que a pessoa se aproxime do processo sem necessidade de contacto prévio, estando neste momento prestes a iniciar-se essa modalidade para os maiores de 80 anos. Além da combinação destas metodologias, tem havido um investimento crescente em campanhas e ações de comunicação, para esclarecimento do público-alvo, dos seus cuidadores e familiares, bem como apoio dos agentes locais em muitas regiões, particularmente nos locais com menores acessibilidades, e também apoio às pessoas com dificuldades de mobilidade".
Em entrevista ao jornal "Público" a diretora-geral de Saúde, Graça Freitas, realçou que "esta faixa etária é, de facto, a mais difícil por todas as razões: pela idade, porque dominam menos os meios de comunicação".
A mesma fonte que está a acompanhar o processo - e que não está autorizada a falar porque a comunicação deixou de estar centralizada na TF e passou para a DGS - confirma esta perceção.
Citaçãocitacao"A preocupação que temos não é a capacidade instalada para vacinar, nem a disponibilidade das vacinas, mas a possível baixa motivação das pessoas para se vacinarem"
"Há uma baixa taxa de resposta às SMS (50 a 60%) e a baixa adesão ao auto agendamento também poderá ser por infoexclusão. Temos a expectativa que nas faixas etárias mais baixas a facilidade de agendar será maior e que o ritmo vai aumentar. A preocupação que temos não é a capacidade instalada para vacinar, nem a disponibilidade das vacinas, mas a possível baixa motivação das pessoas para se vacinarem", assevera.
Portugal ultrapassou esta semana os mil casos diários de covid-19, mais cedo do que o previsto pela ministra da Saúde, Marta Temido, que, na semana passada, alertou para o facto de podermos chegar até aos 1300 até final do ano. Na quinta-feira foram 1382 casos e 1289 na sexta.
Atualizado às 11h25 com a resposta da DGS