O planeta atinge na quinta-feira a sobrecarga, data em que se consumiram todos os recursos gerados para este ano, significando que a humanidade utiliza a natureza 1,8 vezes mais depressa do que os ecossistemas se conseguem regenerar.O dia da sobrecarga do planeta (Earth Overshoot Day) é, segundo as contas da organização internacional de sustentabilidade pioneira da “Pegada Ecológica”, a “Global Footprint Network”, a data em que a procura da natureza por parte da humanidade ultrapassa a capacidade da Terra de a reabastecer durante todo o ano.A Terra, nas contas da organização, esgota na quinta-feira o que tinha para dar aos seres humanos este ano, que passam agora a usar o “cartão de crédito”..Portugal esgota esta segunda-feira recursos naturais disponíveis para 2025 . Uma ultrapassagem que acontece porque, explica a “Global Footprint Network” num comunicado, as pessoas emitem mais dióxido de carbono (CO2) do que a biosfera pode absorver, usam mais água doce do que a que é reposta, colhem mais árvores do que as que podem crescer de novo, pescam mais rápido do que as reservas de peixe se reabastecem, entre outros fatores.A utilização excessiva além do que a natureza pode renovar “esgota inevitavelmente o capital natural da Terra” e compromete a segurança dos recursos a longo prazo, “especialmente para aqueles que já têm dificuldades em aceder aos recursos necessários para funcionar”, alerta.Ainda que o dia da sobrecarga deste ano seja o mais precoce de sempre, a “Global Footprint Network” diz que o dia se tem mantido com alguma estabilidade nos últimos 15 anos, rondando a passagem dos primeiros sete meses do ano..Humanidade esgota recursos do planeta e vive a crédito a partir de quinta. Apesar da tendência de estagnação a associação ambientalista portuguesa Zero nota, também em comunicado, que mesmo sem grande variação do dia da sobrecarga a pressão sobre o planeta continua a aumentar devido à acumulação de danos.A humanidade, destaca a Zero, tem de “acelerar o passo e promover as mudanças necessárias” para reduzir o impacte que as suas atividades e necessidades têm sobre a capacidade de carga do planeta.E a Zero dá exemplos: se metade do mundo implementasse um “Green New Deal” com o nível de ambição da União Europeia (UE) a sobrecarga podia ser adiada 42 dias nos próximos 10 anos.Se fosse aplicada uma taxa por tonelada de carbono de cerca de 100 dólares, o adiamento seria de 63 dias. E se os humanos comessem metade da carne que comem atualmente o “cartão de crédito” acionado agora só seria usado dentro de 17 dias.A “Global Footprint Network” adverte que o excesso de emissões de CO2 não causa só perda de biodiversidade ou esgotamento de recursos, mas também faz estagnar a economia, aumenta a inflação, a insegurança alimentar e energética, as crises sanitárias e os conflitos. E quem não se prepara, sejam cidades ou países, enfrentará riscos mais elevados, adverte a organização.A sobrecarga é também uma falha do mercado, uma ameaça aos consumidores excessivos de recursos, e que se não for trabalhada a sobrecarga do planeta terminará em catástrofe, avisa.Também a Zero diz que a tendência para antecipar “o uso do cartão de crédito ambiental é uma ameaça para o bem-estar das gerações presentes e futuras”.A Zero advoga como solução a promoção de uma economia do bem-estar, em que a prosperidade não é definida apenas pelo crescimento do PIB, mas pela saúde ecológica, equidade social e bem-estar humano, numa lógica de reorientar os sistemas produtivos e de consumo para respeitarem os limites planetários, assegurando simultaneamente a satisfação de necessidades básicas e a qualidade de vida de todas as pessoas.Uma abordagem cujo caminho passa, diz a associação, por uma lei que garanta que os direitos das gerações futuras e a defesa da justiça intergeracional são parte integrante do processo de decisão. Acrescenta que vários países estão a trabalhar neste sentido e que em Portugal as associações Zero, Oikos e Último Recurso estão a preparar uma proposta de Lei também com este intuito.Todos os anos a “Global Footprint Network” anuncia no Dia Mundial do Ambiente, 5 de junho, a data do “Earth Overshoot Day”.Na página da organização fazem-se os cálculos também país a país, segundo os quais Portugal esgotou os recursos que tinha disponíveis logo a 05 de maio passado. Se todos os habitantes do planeta consumissem como os portugueses seriam necessários quase três planetas.