Passaram três dias desde que dois incêndios, em Sever do Vouga e Oliveira de Azeméis, deflagraram no distrito de Aveiro. Na região -- uma das mais fustigadas pelos fogos desde o passado domingo --, já arderam quase 20 mil hectares segundo o sistema europeu de satélites, Copernicus. Agora, sabe o DN, a Polícia Judiciária (PJ) já está no terreno para investigar a origem de pelo menos estes dois incêndios, por suspeitas de fogo posto. .Isto já depois de terem sido identificados alvos de investigação pela PJ, com outros a serem detidos por suspeita de autoria em vários incêndios, com vários exemplos no dia de terça-feira. Em Valongo, por exemplo, a Judiciária constituiu arguidos quatro funcionários da Junta de Freguesia que utilizaram indevidamente uma roçadora de disco metálico com o índice de perigo de incêndio no nível máximo -- algo que é proibido. Este incêndio aconteceu na passada segunda-feira, tendo consumido um hectare e causado “danos em viaturas”. O autarca, Alfredo Sousa, confirmou ter sido constituído arguido, mas indicou que “em nenhum momento” deu ordens de “meter um disco na roçadora”..Em Santo Tirso, a PJ (em colaboração com a GNR) prendeu um homem de 50 anos, suspeito de ser autor de um incêndio florestal no concelho. O detido não tinha quaisquer antecedentes neste tipo de crime. Mais a sul, em Aveiro, a PJ deteve um homem, 55 anos, que já era reincidente. É suspeito de ter ateado o incêndio em Cacia, na madrugada de segunda-feira. .Segundo um balanço publicado pelo DN no início do mês, o número de detidos por suspeita do crime de incêndio chegava aos 44, no final de agosto, sendo suspeitos de atear fogos por negligência ou dolo. Destes, 20 estavam sob alçada da PJ, sendo que “cerca de um terço” eram reincidentes nesta prática. Desde dia 14 (sábado), a GNR já deteve sete pessoas por suspeitas do crime de incêndio florestal, todas na região norte e centro, as zonas com o maior número de ignições nos últimos dias..Segundo o relatório de atividades do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais (SGIFR), feito pela Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), estas duas zonas já têm em curso, desde o final de 2023, algumas medidas de prevenção. .A região norte, por exemplo, tem no terreno o Programa Regional de Ação, com medidas para garantir, entre outros aspetos, que a área ardida acumulada anualmente seja inferior a 242 340 hectares ou reduzir o número de ignições em 80% nos dias de elevado risco de incêndio. Já na região centro, de acordo com o relatório do SGIFR, os planos sub-regionais desta zona “estão em estado avançado de desenvolvimento, com progressos significativos na construção e estabilização das comissões técnicas e das fichas projeto”. “A adaptação das Áreas Prioritária de Prevenção e Segurança juntamente com as ocupações das faixas de gestão de combustível têm sido as principais prioridades”, lê-se ainda, algo que demonstrava “o empenho na adaptação às necessidades específicas da região..Dia fica marcado pela morte de três bombeiros.O dia de terça-feira foi, nas palavras de André Fernandes, comandante nacional da Autoridade de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), “muito difícil”. E começou com uma má notícia: três bombeiros perderam a vida. Segundo o comandante nacional da ANEPC, os operacionais da corporação de Vila Nova de Oliveirinha (concelho de Tábua) combatiam um incêndio em Nelas, e a equipa “terá sido surpreendida por uma frente de fogo”. As circunstâncias ainda estão a ser apuradas..No briefing que fez pelas 20.00, o comandante nacional da ANEPC referiu que, a essa hora, havia 64 incêndios em curso, que afetavam 25 municípios. Durante o dia foram efetuadas 177 missões aéreas (81 em ataque inicial e 96 em ataque ampliado). De acordo com André Fernandes, os fogos já tinham desalojado 62 pessoas. Em Águeda, por exemplo, “foram evacuados dois estabelecimentos de lares”..Questionado sobre as críticas que os autarcas dos concelhos afetados foram ecoando ao longo do dia em relação à falta de meios e alguma descoordenação no terreno, André Fernandes referiu: “Assim que são ativados os Planos Municipais de Emergência, há uma estrutura de coordenação municipal e, acho, não tem havido falhas nesse aspeto. Em relação aos meios, o perímetro, por exemplo, do incêndio de Oliveira de Azeméis, Sever do Vouga e Albergaria-a-Velha tem 100 quilómetros. É natural que os meios estejam espalhados e acompanhem as frentes de fogo. Mas é natural que os meios não cheguem.”.Confrontado ainda sobre alegadas falhas na rede de comunicações SIRESP - que também foram assinaladas ao DN por fonte no terreno -, André Fernandes disse não terem sido reportados “problemas nas comunicações do SIRESP nos diferentes teatros de operações”. Fonte do MAI corrobora esta versão, garantindo ao DN que “apesar do número elevado de solicitações, a rede SIRESP tem respondido sem falhas”. O DN questionou diretamente a ANEPC sobre este assunto, não tendo resposta até ao fecho desta edição..Mais dados.Morte de bombeiros: 254 em 44 anosNos últimos 44 anos morreram em serviço 254 bombeiros, incluindo os quatro que morreram nos últimos três dias no combate aos incêndios florestais, segundo a Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP). Os dados enviados à Lusa indicam que o ano com o maior número de bombeiros mortos foi em 1985, com 19 óbitos, dos quais 14 ocorreram num incêndio em Armamar. Em sentido contrário, a LBP refere que, nas últimas quatro décadas, 2019 foi o único ano de exceção, não tendo contabilizado qualquer morte..Segunda-feira foi dia com mais fogosUm total de 277 incêndios rurais deflagraram na segunda-feira em Portugal, o dia com mais fogos este ano, indicou a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil. Destes 277, 40 duraram mais de 90 minutos e transformaram-se em grandes incêndios e 54 passaram para o dia de ontem. O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) indica que desde o início do ano ocorreram 5788 fogos..Aguiar-Branco recebeu LBPO presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, recebeu António Nunes, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses. Manifestando “consternação e condolências” pela morte dos três bombeiros, Aguiar-Branco disse que o Parlamento “tudo fará” para colaborar no sentido de ultrapassar “a situação com a maior rapidez possível”. E garantiu: a AR acompanha a situação “a par e passo”, para estar alerta, caso seja necessária em caso de emergência.