Polícia Judicária deteve suspeitos extremistas sírios que ameaçaram navio português

Dois sírios que mantiveram sequestrada mais de 10 dias a tripulação de um navio de bandeira portuguesa estão já detidos nas instalações da PJ. Durante a passada madrugada os homens foram detidos numa operação em alto mar que contou com um navio da Marinha e com o Grupo de Ações Táticas da Polícia Marítima. Estão indiciados pelos crimes de crimes de atentado à segurança de transporte por água, introdução ilegal em lugar vedado ao público, ameaça agravada e permeância ilegal em território nacional.
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"Um navio da Marinha Portuguesa e o Grupo de Ações Táticas da Polícia Marítima, da Autoridade Marítima Nacional (AMN), em articulação com a Unidade Nacional Contra-Terrorismo da Policia Judiciária (PJ), lançaram uma operação de abordagem ao navio mercante "Vestwind", com bandeira portuguesa, na madrugada do dia de hoje, ao largo da Costa do Algarve e procederam à detenção de dois indivíduos que clandestinamente haviam entrado a bordo", anuncia um comunicado conjunto das entidades envolvidas, divulgado na quinta-feira à noite.

É revelado que "a ação conjunta foi desencadeada na sequência de um pedido de socorro do capitão do navio, o qual, juntamente com a restante tripulação, estavam a ser vítimas de ameaças graves contra as suas vidas e contra a segurança da embarcação".

Segundo ainda este comunicado, "os detidos, indocumentados, respetivamente com 23 e 24 anos de idade, entraram no navio no dia 08.06.2023, no Porto de Izmir - Turquia e, desde que foram detetados, demonstraram uma atitude não colaborante com a autoridade do navio, passando a assumir comportamentos ameaçadores contra a tripulação".

De acordo com esta fonte oficial, "no percurso marítimo entre a Turquia e as aguas territoriais portuguesas, o comandante do navio solicitou sucessivos pedidos de apoio e assistência, para proceder ao desembarque dos dois clandestinos, diligencias que, apesar de insistentes não acolhimento de diferentes países".

Esta ação conjunta e coordenada com a Autoridade Marítima Nacional, "permitiu que a PJ realizasse um vasto conjunto de recolha de prova na embarcação em referência, fundamentando a indiciação da prática de crimes de atentado à segurança de transporte por água, introdução ilegal em lugar vedado ao público, ameaça agravada e permeância ilegal em território nacional".

O Grupo de Ações Táticas (G.A.T.) da Policia Marítima é uma unidade de reserva estratégica da Polícia Marítima "altamente treinada e disciplinada, especialmente equipada para executar ações policiais não convencionais, reduzindo o risco associado a uma situação de emergência ou ataques coordenados a alvos específicos", é explicado na página da internet da AMN.

A história começou no passado dia 10 de junho, quando a tripulação do navio mercante de carga Vestvind, que tinha partido da Turquia com destino à Polónia, detetou dois passageiros clandestinos a bordo.

De acordo com a versão que chegou às autoridades portuguesas os dois homens, de nacionalidade síria, foram, numa primeira fase, trancados numa divisão do cargueiro, enquanto o comandante do navio tentava, em vão, que as autoridades de Itália e Grécia fossem detê-los e levá-los para terra.

Num momento que ainda não foi esclarecido os homens conseguiram libertar-se e terão ameaçado a tripulação com facas, tendo esta sido obrigada a refugiar-se no interior da embarcação, deixando os sírios no convés.

Com acesso ao centro de operações e ao rádio, o comandante fez um alerta a Portugal, que chegou ao Sistema de Segurança Interna (SSI).

O relato era alarmante, apresentando os sírios como alegados suspeitos terroristas.

De acordo com o Expresso, que na noite de quarta-feira noticiou que o navio esperava um "porto de desembarque há mais de uma semana", o comandante Maximiliano Zidekter, "terá inspecionado os pertences dos dois homens e encontrou fotografias de ambos com Kalashnikovs nas mãos" e que "depois de relatar os factos às autoridades italianas, foi conduzida uma investigação que levou a suspeitas de que os dois sírios possam pertencer a grupos extremistas".

Segundo o mesmo jornal, "quem confirmou a sua identidade aos italianos foi o Governo sírio, cuja definição de extremista pode diferir daquela perfilhada pelas autoridades europeias".

Conta ainda o Expresso que jornais italianos que têm acompanhado a situação descrevem que "a tripulação descobriu dois homens escondidos entre a carga, feridos, um deles com gravidade, e avaliou que precisam de ajuda médica urgente. Foi aí que o navio pediu autorização ao porto de Messina para entregar os indivíduos às autoridades locais. Messina, porém, disse não ter pessoal especializado para este tipo de operações".

Assim que foi informado da situação, o secretário-geral do SSI, embaixador Paulo Vizeu Pinheiro, de imediato mobilizou PJ que, juntamente com a Polícia Marítima e o apoio da Marinha, delineou a estratégia de abordagem para a detenção dos suspeitos.

A operação de alto risco que salvou o navio de bandeira portuguesa do sequestro aconteceu na última madrugada em alto mar, ao largo do porto de Sines.

Não houve resistência, nem violência e os homens foram trazidos para terra, encontrando-se nas instalações da PJ.

Para já, a PJ ainda está a investigar eventuais ligações dos homens com atividades extremistas, ainda não havendo essa confirmação.

Os detidos serão presentes a primeiro interrogatório judicial para a aplicação de medidas de coação, tida por conveniente, junto do Tribunal de Instrução Criminal de Faro.

O Vestvind, que é propriedade de uma empresa alemã, seguiu para o seu destino na Polónia, carregando pás eólicas. O navio tem cerca de 130 metros de comprimento e 30 de largura e foi construído em 2016.

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