Pfizer vai atrasar entrega de vacinas na UE. Países europeus preocupados
As entregas da vacina contra o coronavírus desenvolvida pela BioNTech e pela Pfizer para os países da União Europeia serão adiadas nas próximas semanas por causa dos trabalhos na fábrica da empresa farmacêutica norte-americana Pfizer na Bélgica.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, confirmou esta sexta-feira em Lisboa esse atraso, numa visita oficial a propósito do arranque da presidência portuguesa do Conselho Europeu, mas disse que tem o compromisso da Pfizer de que esse atraso será compensado por uma maior capacidade de distribuição nas semanas seguintes, permitindo cumprir os calendários de vacinação do primeiro trimestre nos países da UE, com as doses previamente acordadas com a farmacêutica.
"Falei pessoalmente com o CEO da Pfizer e lembrei que temos um acordo para a entrega de um determinado número de doses da vacina para o primeiro trimestre. Foi uma conversa franca e ele garantiu que a Pfizer cumprirá".
Era muito importante transmitir-lhe a mensagem de que precisamos urgentemente das doses garantidas no primeiro trimestre", defendeu.
"Penso que é bom que estejam cientes de que para nós é uma situação muito difícil, uma vez que as primeiras doses foram administradas e, quatro semanas depois, terá de ser administrada a segunda dose das vacinas da Pfizer. Há, portanto, também uma necessidade médica de manter aquilo que acordámos, o planeamento que acordámos, e as entregas", reforçou.
Sobre este atraso da entrega das vacinas nas próximas semanas, o primeiro-ministro português António Costa aconselhou os países membros da União Europeia a seguir o modelo de Portugal na aplicação da vacinação: "Foi para prever problemas deste tipo na distribuição das vacinas, seja a partir da farmacêutica ou dos canais de distribuição, ou outros, que Portugal decidiu administrar apenas metade das doses que recebeu e manter uma reserva de outra metade que permita, no caso de atrasos como este, aplicar a segunda dose da vacina dentro dos prazos estipulados"
Antes, o ministério da saúde da Alemanha tinha já dado conta desse atraso das entregas pela Pfizer ."A Comissão Europeia e, por meio dela, os estados membros da UE, foram informados de que a Pfizer não será capaz de cumprir totalmente o volume de entrega já prometido nas próximas três a quatro semanas devido a modificações na planta de Puurs".
A Pfizer disse que as obras de renovação visam aumentar a capacidade de produção a partir de meados de fevereiro, de acordo com o ministério.
A mesma informação foi também divulgada pelas autoridades norueguesas. "A redução temporária afetará todos os países europeus", indicou o Instituto de Saúde Pública norueguês.
"Não é conhecido, de momento, o tempo que poderá levar até a Pfizer regressar à capacidade máxima de produção, que será aumentada de 1,3 para dois mil milhões de doses" por semana, segundo a mesma fonte.
A presidente da Comissão Europeia afirmou ainda que as duas marcas de vacinas já disponíveis no mercado - Pfizer e Moderna - terão produção suficiente para a vacinação de 80% da população da UE. E brevemente estará disponível uma terceira marca, AstraZeneca.
Na conferência de imprensa, Ursula von der Leyen e António Costa foram questionados sobre a proposta da Grécia para que se crie um certificado europeu de vacinação - de forma a facilitar, por exemplo, a circulação de pessoas no espaço comunitário.
O chefe do Governo português defendeu, sobre esta matéria, que esse certificado deve ser "homogéneo" para todos os cidadãos dos países da UE e aprovado "o mais rápido possível" para poder ser entregue às pessoas que dentro de semanas completarão o processo de vacinação tomando a segunda dose.
A delegação da Comissão Europeia que veio a Lisboa foi presidida por Ursula von der Leyen e composta pelos vice-presidentes executivos Frans Timmermans (Pacto Ecológico Europeu), Margrethe Vestager (Uma Europa Preparada para a Era Digital), Valdis Dombrovskis (Uma Economia ao serviço das pessoas), o Alto Representante e vice-Presidente Josep Borrell Fontelles (Uma Europa mais Forte no Mundo), os vice-Presidentes Maroš Šefčovič (Relações Interinstitucionais e Prospetiva) e Margaritis Schinas (Promoção do Modo de Vida Europeu), e ainda os comissários Nicolas Schmit (Emprego e Direitos Sociais) e Elisa Ferreira (Coesão e Reformas).
O governo português esteve presente através do primeiro-ministro, António Costa, e ainda dos ministros da Economia (Pedro Siza Vieira), Negócios Estrangeiros (Augusto Santos Silva), ministra de Estado e da Presidência (Mariana Vieira da Silva), das Finanças (João Leão), Defesa (João Cravinho), Administração Interna (Eduardo Cabrita), Modernização do Estado e da Administração Pública (Alexandra Leitão), Planeamento (Nelson de Souza), Ciência e Ensino Superior (Manuel Heitor), Saúde (Marta Temido), Ambiente (João Pedro Matos Fernandes), Agricultura (Maria do Céu Antunes) e ainda a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias.
No início da conferência de imprensa no CCB, o primeiro-ministro afirmou que a recuperação económica será o primeiro dos três principais objetivos da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, com a operacionalização até junho de todos os instrumentos financeiros já concebidos.
"Esta presidência portuguesa ocorre num momento muito importante do combate à pandemia de covid-19, que está a ter graves consequências económicas e sociais", declarou, elogiando depois o trabalho desenvolvido pelas instituições europeias, em especial a Comissão, na resposta à crise económica, social e sanitária.
De acordo com o primeiro-ministro, nas três dimensões fundamentais da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, "a recuperação económica é o principal objetivo".
"Todos os instrumentos financeiros concebidos têm de ser operacionalizados o mais depressa possível. A 'bazuca' europeia [verbas do fundo europeu de recuperação] tem mesmo de ser disparada", disse, antes de se referir às restantes duas prioridades da presidência portuguesa: O desenvolvimento do Pilar Social da União Europeia e o "reforço da autonomia estratégico" da Europa no mundo.
O primeiro-ministro e a presidente da Comissão Europeia convidaram hoje formalmente os chefes de Estado e de Governo da União Europeia, as suas instituições e os parceiros sociais a participar na Cimeira Social, a realizar em maio, no Porto.
Os ministros da Saúde de seis Estados-membros da União Europeia (UE) afirmaram hoje estar "seriamente preocupados" com o atraso na entrega das vacinas Pfizer/BioNTech, numa carta endereçada à comissária europeia para a Saúde, Stella Kyriakides.
Na missiva - citada pela agência de notícias francesa, AFP - os ministros da Saúde da Dinamarca, Estónia, Finlândia, Lituânia, Letónia e Suécia, referem que o anúncio de atrasos nas entregas das vacinas Pfizer/BioNTech "mina a credibilidade do processo de vacinação" e destacam que, ainda que o processo de compra conjunta de vacinas pela Comissão Europeia tenha trazido "otimismo à União Europeia inteira", a situação atual é "inaceitável".
"Vemo-nos agora na obrigação de informar a nossa população e os grupos de risco que a sua vacinação será adiada, não obstante os esforços consideráveis dos nossos governos para assegurar uma entrega dentro dos prazos", frisam os responsáveis na carta.
Nesse âmbito, os ministros pedem à Comissão para contactar "urgentemente" a Pfizer e a BioNTech para "pedir uma explicação pública" e "sublinhar a necessidade de se assegurar a estabilidade e a transparência das entregas".