Paulo Paço: “A ministra tem razão: o INEM não pode continuar no estado em que está”
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Paulo Paço: “A ministra tem razão: o INEM não pode continuar no estado em que está”

Em declarações ao DN, o presidente da Associação Nacional de Técnicos de Emergência Médica (ANTEM) critica a gestão da emergência médica em Portugal, nos últimos anos, e considera ser necessário perceber o que levou a mais uma demissão.
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Esta instabilidade no INEM tem causado problemas na operação?
Não sinto que haja um impacto muito grande nas pessoas que trabalham na emergência médica. Não me dá a sensação de que os operacionais mudem a sua atitude ou a sua postura, até porque temos excelentes profissionais e não creio que vá impactar a atuação. Mas, como é óbvio, esta instabilidade no que diz respeito à gestão do INEM tem outros impactos negativos, até porque existem uma série de problemas graves que é necessário solucionar, e que por falta de vontade política ou de quem geriu o instituto nos últimos anos, têm contribuído para degradar a situação. Defendemos, por exemplo, que a introdução da Paramedicina em Portugal seria a solução para este tipo de problemas. Até para introduzir a ordem no caos que é a emergência médica em Portugal, em que ninguém sabe muito bem por quem é assistido, ao fim e ao cabo.

E como viu as declarações da ministra da Saúde sobre o INEM, em que foi anunciada uma auditoria e criticou o funcionamento do instituto, pondo em cima da mesa uma refundação?
Acolhemos essas declarações, na altura, com muita satisfação. Falta perceber exatamente o que se pretende fazer. Colocámo-nos desde logo à disposição da ministra para qualquer situação de auditoria ou de aconselhamento da nossa parte, até porque temos um conselho consultivo vasto, com pessoas extremamente experientes, algumas delas que escrevem para manuais que são utilizados um pouco por todo o mundo nestas questões, e por isso colocámo-nos à disposição da ministra para auxiliar. Agora, obviamente, temos a nossa visão, que achamos que é a melhor para o INEM. Achamos que é o caminho a traçar. Só nos resta mesmo aguardar com moderação e com calma e tranquilidade para perceber quais são as vontades dos políticos, porque são eles quem legisla, independentemente dos presidentes que venham a assumir funções no instituto.

Como recebeu a Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica a notícia da demissão de Vítor Almeida?
Acho que é urgente e importante saber o que ocorreu. O dr. Vítor Almeida foi recentemente nomeado como presidente do INEM e, ao fim de pouco mais de uma semana, pede a demissão por divergências com o Ministério da Saúde. Acho que era importante perceber quais são essas divergências, quais foram, o que pediu ou exigiu o dr. Vítor Almeida ao Ministério da Saúde, que alterações sugeriu, quais as propostas apresentadas e que foram chumbadas pelo ministério. Isto de só dizer que se pede a demissão e não se justificar, nem perceber o porquê é um bocado limitado, percebe? E não só isso, como levanta toda uma nuvem de dúvidas sobre o que realmente se passa no INEM. Por exemplo, desde 2020 até o ano passado o instituto devolveu ao Estado cerca de 118 milhões de euros. Como é que um instituto que está no estado em que está, consegue um excedente orçamental e devolve dinheiro ao Ministério da Saúde - porque, neste caso, o dinheiro tem de ser sempre devolvido à tutela. Como é que isto acontece? Ainda muito recentemente, era o dr. Luís Meira o presidente em funções, veio dizer que o INEM tem um deficit de 25 milhões de euros. Na altura, até sugeriu que se aumentasse a percentagem do valor dos seguros que é retirado para o INEM. Há uma série de ocorrências que é necessário perceber o que está a funcionar ou não. O que é certo é que aquilo que a ministra da Saúde disse é verdade, é factual: o INEM não pode continuar no estado em que está. Está a prestar um péssimo serviço à população, está a colocar a Saúde Pública em causa. Isso é inequívoco. E assim não pode continuar. Temos de perceber em que sentido queremos progredir, porque as evidências estão aí, é fácil de comprovar. Não é necessário inventar nada de novo, porque nesta área está tudo praticamente inventado, e nós acreditamos e provamos por A mais B, já várias vezes, que a paramedicina é sem dúvida absolutamente nenhuma o caminho a seguir.

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