Para manter os 80 funcionários, chef Vitor Sobral estima um prejuízo entre 600 a 700 mil euros

O setor da restauração é um dos mais afetados pela pandemia de covid-19 e o depoimento de Vítor Sobral ilustra bem a dificuldade sentida nesta área. Com quatro restaurantes, o chef tem feito de tudo para os manter as empresas a funcionarem.
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Com quatro restaurantes e padarias, o chef Vítor Sobral tem feito de tudo para manter as empresas a funcionar, mesmo que a pandemia o obrigue a ter as portas fechadas, na sequência do confinamento em vigor. "A restauração passa por um momento difícil", refere um dos rostos da restauração em Portugal, setor de atividade que está entre os mais afetados pela crise sanitária.

"É verdade que foram anunciados apoios, mas se não há urgência na atribuição dos apoios a restauração vai ter muitas dificuldades. Estamos descapitalizados", afirmou Vítor Sobral em declarações à TVI 24. Dá ênfase ao facto de que não basta anunciar medidas de apoio. É preciso que cheguem ao terreno "em tempo útil", caso contrário "vai ser extremamente difícil".

Vítor Sobral lembra que quando foram anunciados os apoios anunciados em dezembro, os estabelecimentos ainda estavam abertos. "Neste momento, estamos numa situação completamente diferente daquela que estávamos quando os apoios foram anunciados". O país está de novo em confinamento e os restaurantes estão fechados.

"Tem havido resiliência da nossa parte e eu falo por mim. Tenho tentado fazer tudo o que é possível para manter as minhas empresas a funcionarem. E o take away não é suficiente", relata o chef, que está há mais de 30 anos nesta área.

"Eu continuo a manter os meus funcionários, mas isso é um peso significativo", admite. Vítor Sobral tem atualmente "cerca de 80 funcionários", mas antes de a pandemia começar tinha perto de 115. "O que fiz foi não renovar os contratos aos funcionários que acabaram contrato e todos os outros mantenho".

Refere que o Estado paga uma parte dos ordenados e que além do restante vencimento, existe ainda a despesa para "manter as empresas a funcionar. "A renda, a luz, os seguros, tudo o que faz parte da nossa atividade. Essa despesa mantém-se. Mesmo com a ajuda do lay off do Estado, os custos mantêm-se".

O esforço de manter os cerca de 80 funcionários, alguns dos quais trabalham com Vítor Sobral há mais de duas décadas, e de fazer com que as empresas estejam em funcionamento, apesar das portas fechadas, representa milhares de prejuízos "Acredito que quando tudo isto acabar, se eu conseguir chegar [ao fim da pandemia] em condições de continuar, os meus prejuízos rondem os 600 a 700 mil euros", revela.

Terá de recorrer empréstimos, mas volta a sublinhar que "se os apoios não chegam ao terreno em tempo útil vai ser extremamente difícil". "Eu, como todos os meus colegas da restauração, estamos numa fase difícil, estamos descapitalizados", reforça.

Crê que os empréstimos "sejam feitos a médio e longo prazo e se nos derem dois ou três anos para recuperar a atividade conseguimos com isso fazer face às responsabilidades que temos", considera. Mas se assim não acontecer "muito dificilmente vamos conseguir honrar os nossos compromissos", refere.

"Mas temos de acreditar que vamos conseguir e de alguma maneira lutar para que isso aconteça", defende.

Questionado sobre quantos meses aguenta até chegarem os apoios anunciados, Vítor Sobral começa por dizer que não sabe, até porque é ainda uma incógnita quanto tempo é que vai ter os restaurantes fechados, embora esta terça-feira o primeiro-ministro, António Costa, tenha assumido que é necessário prolongar o confinamento.

"Tenho capacidade para estar fechado mais dois meses, mais do que isso é extremamente difícil, acredito que vá ter de fechar porta. Talvez a única coisa que possa sobreviver, porque ainda estão a funcionar, são as Padarias da Esquina", reconhece.

Destaquedestaque"Neste momento é preferível estarmos fechados, conseguirmos minimizarmos o problema da pandemia porque também precisamos de criar credibilidade lá para fora"

Vítor Sobral prefere, no entanto, não pensar nessa possibilidade. "Acredito que mesmo numa forma tardia, as medidas de apoio anunciadas em dezembro cheguem este mês ao terreno e acredito que outras medidas irão ser pensadas para que isso não aconteça".

Afinal, não se trata apenas do rosto das empresas. "Não é só a questão de eu ficar sem saber o que fazer aos 54 anos, é toda uma equipa, alguns deles trabalham comigo há mais de 20 anos, que fica no desemprego", faz notar.

Apesar da crise que vive o setor, o chef diz ter a "perfeita consciência" de que as portas têm de estar fechadas, perante a atual situação pandémica do país. "Neste momento é preferível estarmos fechados, conseguirmos minimizar o problema da pandemia porque também precisamos de criar credibilidade lá para fora". Caso contrário "o turismo não volta", alerta.

Mas avisa: "se voltarmos a encerrar de novo é o caos. É melhor agora fazermos um esforço complementar e o Governo apoiar-nos nesse esforço do que voltar a abrir e depois voltar a fechar".

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