Papa confessa que é "experiência dolorosa" falar com vítimas de abusos

O Papa Francisco confessou que é uma "experiência dolorosa" falar com vítimas de abusos e que a Igreja em Portugal está a enfrentar a situação com serenidade.
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"Falar com pessoas abusadas é uma experiência muito dolorosa, que também me faz bem, não porque me dê gozo escutar, mas porque me ajuda a assumir a responsabilidade desse drama", afirmou Francisco, na conferência de imprensa no avião que o transportou de Lisboa, onde presidiu à Jornada Mundial da Juventude (JMJ), para Roma.

Na quarta-feira, na Nunciatura Apostólica, em Lisboa, o líder da Igreja Católica recebeu um grupo de pessoas que foram vítimas de abusos, como habitualmente faz, para dialogar sobre o que classificou de "tremenda peste".

Segundo o Papa, "o processo na Igreja portuguesa vai bem e com serenidade", frisando que se procura "a seriedade nos casos dos abusados".

"Os números, às vezes, acabam por ser empolados, pelos comentários, e isso custa-nos sempre, mas a realidade é que está a ser bem conduzido e isso dá-me uma certa tranquilidade", declarou, reiterando "tolerância zero" aos abusos.

Reafirmando que o processo na Igreja portuguesa "está a ir bem" e que está informado de como avança, o Papa considerou que "as notícias, por aí, empolaram-nas, mas as coisas estão a ir bem".

O Papa Francisco defendeu que os membros da Igreja que ocultaram abusos têm de assumir essa irresponsabilidade.

"Os pastores que, de alguma forma, não assumiram essa responsabilidade, têm de assumir essa irresponsabilidade. Depois ver-se-á de que modo, em cada um deles, mas é muito duro o mundo dos abusos", afirmou Francisco, a bordo do avião que o transportou de Lisboa, onde presidiu à Jornada Mundial da Juventude, para Roma.

Francisco foi questionado por um jornalista português sobre se tinha conhecimento do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais Contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa e o que deve acontecer com os bispos que sabiam de casos de abuso e não os comunicaram às autoridades.

Na resposta, o chefe da Igreja Católica lembrou que cerca de "42% dos abusos acontecem nas famílias", sustentando que "ainda é preciso amadurecer e ajudar, para que se descubram essas coisas".

Francisco pediu depois ajuda aos jornalistas para que "todos os tipos de abusos sejam resolvidos", notando que o abuso sexual de menores não é o único.

O trabalho infantil e o abuso das mulheres são outros exemplos que apontou, referindo, neste último caso, a mutilação genital feminina.

"Dentro do abuso sexual, que é grave, há uma cultura do abuso que a humanidade tem de rever e converter-se", defendeu.

Francisco recebeu na quarta-feira um grupo de 13 vítimas de abusos na Igreja portuguesa, segundo a sala de imprensa da Santa Sé, "acompanhados por alguns representantes de instituições da Igreja portuguesa, responsáveis pela proteção dos menores", alguns dos quais disseram depois, publicamente, que o Papa lhes pediu perdão.

Segundo o comunicado, o encontro, que aconteceu no primeiro dia da visita do Papa a Portugal para presidir à JMJ, que hoje terminou no domingo, "decorreu num clima de intensa escuta e durou mais de uma hora, concluindo-se pouco depois das 20:15".

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais Contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815.

Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, período abrangido pelo trabalho da comissão, cujos dados foram divulgados em fevereiro.

No dia 26 de abril, foi apresentado o Grupo Vita, criado pela Igreja Católica para acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis. É um grupo que funciona em articulação com as comissões diocesanas de Proteção de Menores.

A criação desse grupo foi uma decisão da Conferência Episcopal Portuguesa tomada após a publicação do relatório da Comissão Independente, que foi também uma iniciativa da Igreja Católica.

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