Encarregados de educação estão a enfrentar dificuldades para inscrever os filhos nos novos ciclos.
Encarregados de educação estão a enfrentar dificuldades para inscrever os filhos nos novos ciclos.Paulo Jorge Magalhães / Global Imagens

Pais querem mais tempo para matrículas e professores ficam sem acesso aos computadores

Prazo para as inscrições do 6.º ao 9.º ano e 11.º termina esta sexta-feira e muitos pais ainda não conseguiram inscrever os filhos. A plataforma tem estado a funcionar de forma intermitente. Programa E360 também é utilizado por muitas escolas para lançar notas, estando muitos docentes impedidos de o fazer.
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Há pais que ficam acordados durante a noite para tentar inscrever os filhos no Portal das Matrículas (E360), uma tarefa que se tem revelado difícil devido às dificuldades de acesso ao site que têm tornado quase impossível a regularização escolar dos alunos.

O alerta é de Mariana Carvalho, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP). A responsável explica ao DN ter pedido ao Ministério da Educação uma explicação para saber “os trâmites a seguir para que nenhum aluno fique por matricular”. “Esta situação provoca muita ansiedade aos pais e é necessário perceber se deve ou não ser alargado o prazo das matrículas”, afirma. Recorde-se que o Governo decidiu, a 26 de junho, prolongar o período para renovação de matrículas do 6.º, 7.º, 8.º, 9.º e 11.º anos. O prazo, que terminava na passada sexta-feira, foi estendido até sexta-feira, 5 de julho. Contudo, os problemas com a plataforma continuaram tendo sido muito difícil o acesso.

Mariana Carvalho conta que os problemas têm sido recorrentes e não quer que voltem a acontecer. A presidente da CONFAP avança com algumas soluções, que poderiam passar, por exemplo, “por prazos diferenciados para evitar o tráfego concentrado nos mesmo dias”. “O que não pode acontecer é que quem quer inscrever um filho tenha de estar noite dentro a tentar. Por vezes a matrícula é iniciada e não fica concluída, havendo perda de informação e alguns pais podem não se aperceber”, alerta.

Arlindo Ferreira, Arlindo Ferreira, diretor do agrupamento de Escolas Cego do Maio e autor do blogue ArLindo (dedicado à Educação) pede novo alargamento do prazo para inscrições e avança não ter conseguido, ainda, afixar as listas de 1.º ano e pré-escolar porque “não se consegue selecionar os alunos na plataforma”. “As colocações estão em papel, feitas à mão, mas não estão extraídas no Portal das Matrículas”, conta. Por isso, diz, “é necessário prolongar o prazo”. “As escolas não receberam qualquer indicação por parte do ME a não ser o pedido de desculpas às famílias e a informação do prolongamento. Esta situação, com muitos alunos a mudar do 6.º ao 7.º ano, causa transtorno. No meu caso, tenho muitos pedidos de mudanças para a minha escola e não consigo colocar os alunos”, acrescenta.

No seguimento dos problemas registados o ano passado, o anterior Governo adjudicou, em fevereiro de 2024, o desenvolvimento de uma nova plataforma às empresas OutSystems e Babel. Ambas iniciaram os trabalhos em março, altura em que foram detetados problemas com a plataforma.

Este não é o único constrangimento da plataforma E360, com muitas outras funções. É utilizada também para o lançamento de notas nas escolas, algo que tem sido difícil de fazer por parte dos docentes. “O E360 foi uma plataforma que o ME quis impingir às escolas. As outras plataformas como o GIAE ou o Inovar não dão problemas, mas esta sempre funcionou muito mal. Está com problemas desde sábado”, afirma Arlindo Ferreira.

A área informática do ME “tem sido um problema e não uma solução”

Os problemas informáticos não se ficam por aqui. Os computadores do ME deixaram de funcionar no sábado, deixando milhares de professores à beira de um ataque de nervos. Os PC’s bloquearam por causa de um software de proteção, sem aviso prévio. Segundo Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), para resolver o problema, “os docentes recorreram às redes sociais e aos grupos de professores para saber como poderiam voltar a aceder aos PC’s”, não tendo havido indicações por parte do ME. “Este fim de semana muitos diretores não conseguiram trabalhar porque os computadores não funcionam, bem como o E360 não funcionavam. Não houve nenhuma diretiva da tutela e foi pelas redes sociais que se descobriu a solução. Mais uma vez, o digital está a complicar a vida às escolas e aos professores”, lamenta.

O movimento SOS Escola Pública explica, em comunicado, a origem do problema. “Trata-se de uma suspensão imposta por decisões judiciais em Portugal e França no serviço OpenDNS, um dos serviços DNS mais utilizados na Internet, serviço de segurança e privacidade instalado nos portáteis do KIT Digital, cedidos a professores e alunos, levou a que estes deixassem de funcionar corretamente, originando um bloqueio no acesso à Internet”, pode ler-se. No mesmo documento, o movimento alerta para o momento delicado em que a falha aconteceu, numa altura em que “as escolas se encontram em pleno processo de avaliação dos alunos do 1.º ciclo, que terminaram as aulas na última sexta-feira e necessitam desse acesso à Internet para registo da avaliação nos portais de gestão escolar dos agrupamentos”.

O SOS Escola Pública denuncia falhas em várias plataformas: “Desde o portal das matrículas, ao site de apoio aos professores classificadores de provas e exames nacionais, ao SIGRHE (plataforma de recrutamento docente), e a outras plataformas de registo de dados como o SIGO - Sistema de Gestão da Rede Escolar, imprescindíveis ao encerramento do ano letivo e para a preparação do próximo, às páginas da Direção Geral da Administração Escolar (DGAE) ou da Direção Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGESTE). “São muitas as queixas de professores a que temos assistido nos últimos dias”, conclui. Assim, diz o movimento, os problemas vários informáticos estão “inviabilizar e a comprometer o trabalho de professores, gestores escolares e secretarias”.

Filinto Lima relata as mesmas dificuldades e preocupações, afirmando que “a área informática do ME tem sido um problema e não uma solução”. “O E360 é um programa muito antigo, com imensos problemas e poucas potencialidades. Os professores queixam-se das dificuldades há anos. O E360 é da autoria do ME, mas nunca satisfez as necessidades das escolas e é mais um problema do que uma solução”, sublinha. O presidente da ANDAEP pede soluções para estes problemas, admitindo tratar-se de “um problema estrutural que não se resolve de um dia para o outro”. “O digital não está a funcionar”, conclui. No seio das preocupações do representante dos diretores escolares está também o concurso dos professores, cujo resultado ainda não foi ainda divulgado. “Estamos à espera da lista de colocações. Vamos ter milhares de professores em movimentação e essa lista tinha de ser conhecida rapidamente. Ajuda a programar o próximo ano letivo e os professores a organizar a sua vida a tempo e horas”, refere.

O DN contactou o ME para saber o ponto de situação no que se refere às plataformas informáticas e para saber se haverá ou não novo prolongamento de prazo para inscrições, mas até à hora do fecho desta edição não obteve resposta.

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