“Tu ainda vais ser como os cães de Pavlov. Quando eu olhar para ti de determinada maneira, já sabes o que é para fazer”. “Cala-te! Vê lá se queres ficar com a tromba cheia de sangue!”. “O Domingo é o dia da família! Deves servir-me a mim!”. “Devo ser a tua prioridade! Tens que viver em função de mim! ”. "Ou vens para casa, ou eu vou atrás de vocês e mato-os a todos". Estas são algumas das violentas agressões verbais atribuídas pelo Ministério Público ao agente da PSP suspeito de ameaçar de morte a mulher e os sogros , e que constam do despacho de acusação a que o DN teve acesso. A notícia, inicialmente avançada pelo Expresso, envolve um agente de uma unidade de violência doméstica que, tal como se pode ler no documento, alardeava impunidade por manter relações de proximidade com procuradores. Com base em prova pericial, documental e testemunhal, o Ministério Publico considera estarem em causa, na forma consumada, em autoria material e concurso efectivo, os seguintes crimes: um crime de violência doméstica, nove crimes de ameaça agravados, três crimes de introdução em lugar vedado ao público e um crime de ofensa à integridade física, praticados aos longo de quase duas décadas de violência doméstica, defende o MP. O arguido foi detido, em cumprimento de mandado de detenção emitido pelo Ministério Público no dia 18 de Março de 2025. Foi sujeito a primeiro interrogatório judicial de arguido detido no dia seguinte, tendo-lhe sido aplicada a prisão domiciliária sob vigilância eletrónica, como medida de coação. “Com a dedução da acusação saem forçados os indícios até agora existentes, mantendo-se integralmente válido o juízo que determinou a sujeição do arguido à medida de coação a que se mostra sujeito, pelo que se promove a sua manutenção”, lê-se no documento datado de 15 de setembro de 2025.O Público noticiou em janeiro que, de 2019 a 2023, a IGAI instalou 196 processos administrativos por violência doméstica visando efetivos da PSP e da GNR. O jornal também acrescentava que muitos dos agentes visados nestes processos disciplinares ou administrativos e mesmo condenados por violência doméstica se mantinham em funções. O DN perguntou à PSP se o chefe visado neste processo se mantém em funções ou não, mas até ao momento ainda não obteve resposta..PSP: inquérito disciplinar aguarda decisão judicial A Direção Nacional da PSP, em resposta enviada ao DN, sublinha que “acompanha com a maior atenção e rigor todos os processos em que estão em causa suspeitas de prática de crimes por parte de elementos policiais, em especial quando relacionados com matérias tão sensíveis como a violência doméstica” Relativamente à composição e funcionamento dos Núcleos de Investigação e Apoio a Vítimas Específicas (NIAVE), a PSP “reitera que a seleção dos seus elementos obedece a critérios de experiência profissional, formação especializada e perfil adequado ao exercício das funções, sendo posteriormente assegurada formação contínua e acompanhamento técnico”. Os factos em causa ocorreram em 16 de março de 2025, tendo o referido indivíduo sido detido nesse mesmo dia pela PSP de Leiria. Por despacho de 19 de março de 2025, o Juízo de Instrução Criminal de Leiria determinou a aplicação da medida de coação de obrigação de permanência na habitação com vigilância eletrónica. Por despacho de 20 de março de 2025, foi determinada a instauração de processo disciplinar ao referido elemento policial. O processo disciplinar corre termos no Comando Metropolitano de Polícia de Lisboa (COMETLIS) e encontra-se presentemente na situação de “aguardar decisão judicial”, motivo pelo qual não foram até ao momento realizadas diligências instrutórias relevantes. De acordo com informação da PSP, à data dos factos o chefe já não estava a trabalhar no RIAV – resposta Integrada de Apoio à Vítima