Aos 62 anos, Mário Morais de Almeida vai presidir, a partir desta quarta-feira, à Organização Mundial de Alergia (World Allergy Organization, WAO). Será o primeiro português a fazê-lo, com um mandato que terminará a 31 de dezembro de 2026..Fundada em 1951, a WAO junta várias sociedades de alergologia de todo o mundo, juntando especialistas e contribuindo em “programas diretos de divulgação educacional, simpósios e palestras”..Segundo a nota de candidatura, o objetivo de Mário Morais de Almeida é, entre outros, “incrementar a promoção mundial da prevenção das doenças do foro da alergologia e combater o aumento do número de doentes destas patologias, que atinge quase metade da população global”..Em conversa com o DN, o especialista diz que esta eleição “prestigia, por um lado, a especialidade no país, que já cá existe há algumas décadas”. “Mas é bom que se saiba que nem todos os países a têm. Haver especialistas que conseguem integrar, digamos, a abordagem destas doenças, de uma maneira holística, de uma maneira global, é muito bom”. Isso, “em Portugal, tem sido pioneiro”. Por cá, a alergologia é “uma especialidade que está muito bem implementada”, mas poderia estar “muito melhor”, com mais médicos a trabalhar, quer “na rede pública ou na rede privada”..De acordo com Mário Morais de Almeida, existem, neste momento, “entre cerca de 200 a 300” médicos alergologistas a trabalhar em Portugal. Todos os anos, diz, “formam-se entre cinco e seis especialistas. É uma taxa algo baixa, até porque há sempre pessoas que se reformam”. “Precisávamos de mais resposta, porque as necessidades não-satisfeitas na população ainda são muitas”, sublinha..Ainda assim, o país está “consideravelmente bem”, algo demonstrado “também, por haver um português com currículo suficiente para poder assumir esta função”..Com uma candidatura assente em três pilares (“reduzir disparidades locais e globais, posicionar a WAO como farol de harmonia orientador de segurança e qualidade no tratamento e acolhimento de todos”, e torná-la “ainda mais visível”), a prioridade do próprio Mário Morais de Almeida é, sobretudo, “tentar reduzir as diferenças, as diversidades que existem no acesso aos cuidados”..“Essas disparidades existem em cada paí, e Portugal também não é exceção”, realça, acrescentando que aquilo que vai tentar fazer ao longo do mandato será, também, “tentar criar recomendações, algumas linhas de orientação que considerem precisamente esta dificuldade”..Exercendo desde 1986, Mário Morais de Almeida já desempenhou vários cargos. Segundo a nota biográfica, é autor e coautor de mais de 350 trabalhos científicos, de mais de 250 artigos para revistas internacionais e de mais de 30 capítulos de livros sobre imunoalergologia. Durante três mandatos, foi presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica, presidiu ao Colégio de Alergia e Imunologia Clínica da Ordem dos Médicos, da Sociedade Luso-Brasileira de Alergologia e Imunologia Clínica e da Associação Portuguesa de Doentes Asmáticos. Desde 2008 que é diretor do Centro de Imunoalergologia no hospital CUF Descobertas, em Lisboa..A presidência da WAO é, no entanto, o ponto mais alto da carreira do médico? Recordando que “a carreira se fez, fundamentalmente, na parte assistencial” e que “isso dá mais prazer”, Mário Morais de Almeida refere que “balanceando” esse fator e juntando-lhe “a questão da investigação e da formação que os próprios médicos fazem e dão a outros” - bem como o reconhecimento “pelos outros especialistas a nível global”, de que tem “a competência e a capacidade para poder estar à frente desta organização” - é algo, confessa, que pode “considerar um momento bastante alto da carreira”.