Operação Marquês. Sócrates diz que "juíza vai mostrando a sua completa parcialidade"

Um dos casos mais complexos da justiça portuguesa começa esta quinta-feira a ser julgado no Campus da Justiça, em Lisboa. Há mais de 20 arguidos, sendo um deles o ex-primeiro ministro José Sócrates.
Antigo primeiro-ministro, José Sócrates, no Campus de Justiça, em Lisboa
Antigo primeiro-ministro, José Sócrates, no Campus de Justiça, em LisboaFoto: Leonardo Negrão

Processo é "tão ridículo, bruto e violento", lamenta Sócrates

José Sócrates recordou momentos deste processo, entre os quais o referente ao "perigo de fuga", em 2014, "quando estava a entrar no país, não a sair" e quando uma juíza considerou havia perigo de fuga "por estar a tirar um doutoramento no Brasil". "Obrigou-me a apresentar periodicamente na esquadra da GNR, ainda me lembro desses anos", disse aos jornalistas durante a pausa para almoço.

E concluiu: "Este processo é tão ridículo, tão bruto e violento (...). O que acontece neste processo é absolutamente escandaloso".

"Juíza vai mostrando a sua completa parcialidade", acusa Sócrates durante a pausa para o almoço 

Durante a interrupção para almoço, José Sócrates voltou a prestar declarações à saída do tribunal aos jornalistas. "A juíza não concorda com nada do que a defesa faz e, com isso, eu julgo, a juíza vai mostrando a sua completa parcialidade", acusou à saída do tribunal.

"A longa mão do Conselho Superior da Magistratura [CSM] está por todo o lado", criticou, tendo referido que este "é o julgamento do lapso de escrita".

Para Sócrates, "este julgamento nunca deveria existir". "Estou a batalhar para que [o julgamento] não exista, pela simples razão que é suportado numa manigância judicial", acusou.

"Não é razoável que um Estado de direito democrático tenha, ao longo de 10 anos, três acusações", considerou. "Isto viola aquilo que são os princípios básicos do que é o Estado de direito democrático e aquilo que são as diretivas comunitárias", prosseguiu.

Sessão interrompida para almoço. Trabalhos retomam às 14h00

Após duas horas de sessão marcadas pela troca de argumentos entre Pedro Delille e a juíza que preside ao coletivo, os trabalhos são suspensos para almoço, retomando às 14h00.

Depois do anúncio, Sofia Fava, ex-mulher de José Sócrates (e também arguida no processo) fala com o antigo governante. Carlos Santos Silva também troca algumas palavras com a ex-mulher de Sócrates.

Sessão começou há quase duas horas. Defesa de Sócrates e juíza têm trocado argumentos em exclusivo e trabalhos não avançam

Inicialmente marcada para as 9h30, a sessão de julgamento começou com uma hora de atraso.

A decorrer há quase duas horas, a audiência tem sido marcada pela troca de argumentos praticamente exclusiva entre a defesa de José Sócrates e a juíza Susana Seca, impedindo os trabalhos de prosseguir.

"Não se vislumbram" argumentos para a suspensão dos trabalhos, como alega defesa de Sócrates, que avança com mais um requerimento

Depois de voltar a não se pronunciar sobre o requerimento de Pedro Delille, advogado de José Sócrates, para juntar os processos onde José Sócrates é arguido, a juíza Susana Seca anuncia que "não se vislumbram" quaisquer argumentos para a suspensão dos trabalhos, como alega a defesa do antigo primeiro-ministro.

"Estamos nas situações prévias do decurso do julgamento, às quais se seguirão as exposições introdutórias", diz a magistrada.

Pedro Delille volta a pedir a palavra e apresenta um requerimento, "que vai ser longo". Isto depois de ser interpelado por um dos procuradores do Ministério Público para que a defesa do antigo primeiro-ministro apresente, se assim for o caso, os vários requerimentos ao mesmo tempo para poupar tempo à sessão e não "atrasar" os trabalhos.

Requerimento da defesa de Sócrates para a recusa da juíza "não impede o prosseguimento da audiência"

Susana Seca comunica agora a decisão sobre o pedido de recusa sobre si própria.

"Entende o tribunal que o pedido de recusa" não se aplica pelo argumento da urgência processual. O requerimento, diz, "não impede o prosseguimento da audiência".

Coletivo já apreciou os requerimentos e regressou à sala

O coletivo de juízes já apreciou os requerimentos e regressou à sala.

O anúncio da decisão está por minutos.

Sócrates pede a palavra à juíza, que recusa. "O senhor terá de se sentar e esperar"

Depois de sair da sala sem pedir autorização à juíza, José Sócrates volta, retoma o lugar e pede a palavra, ainda antes da interrupção dos trabalhos.

Uma das oficiais de juíza sai da sala, vai buscar o antigo primeiro-ministro e interpela-o sobre a necessidade de pedir autorização à juíza para sair da sala. "Agora tenho de dizer quando vou à casa de banho?", questiona José Sócrates.

De volta ao lugar, pede a palavra a Susana Seca, que lhe recusa a intervenção por estarem a ser discutidas "questões processuais". "O senhor terá de se sentar e esperar pela sua vez de intervir, que não é agora", atira a juíza, após Sócrates questionar: "Pedi para falar e agora não me dá a palavra?"

Sessão interrompida para avaliar os requerimentos da defesa de Sócrates

Após a troca de argumentos entre a juíza e a defesa do ex-PM, a sessão está interrompida para apreciar os requerimentos de recusa.

A pausa deverá ter 10 minutos, enquanto se decide sobre os pedidos de recusa.

Advogado de Sócrates intervém, formula requerimento de pedido de recusa do PGR e da juíza e pede que "não seja praticado nenhum ato" sem avaliação do pedido

Intervém agora o advogado de José Sócrates, Pedro Delille.

Formaliza o requerimento para pedir a recusa da juíza e do Procurador-Geral da República (PGR), representado pelos magistrados do Ministério Público.

Considera que Susana Seca tomou decisões que extravasavam as competências da juíza. Pede que, até que haja uma avaliação dos pedidos de recusa, "não seja praticado nenhum ato" no julgamento.

Pedro Delille refere ainda que o processo só seria "urgente", como considerou a magistrada, se servisse para "encurtar prazos". No entender da defesa de Sócrates, a juíza não tinha competências para declarar este caráter ao processo Marquês.

Susana Seca ouve atentamente os argumentos do causídico atentamente, sem qualquer reação.

A defesa pede novamente a junção dos dois processos que envolvem o ex-PM.

Juíza passa em revista a acusação do Ministério Público

Susana Seca passa agora em revista, um a um, os crimes que são imputados a cada um dos arguidos e lê a acusação do Ministério Público.

Antes, houve um momento bem humorado na sala de audiências, enquanto questionava sobre a intenção dos arguidos em prestar declarações. Quando abordou a defesa de Armando Vara, o advogado disse que o arguido quer falar em tribunal, mas não agora. "Daqui a quatro ou cinco anos, não sei", atira Tiago Rodrigues Bastos.

Em resposta, a juíza gaba o "otimismo" da defesa de Vara. O momento causa alguns risos na sala.

Advogado de Ricardo Salgado critica juíza por não ter questionado se o ex-banqueiro queria prestar declarações

Susana Seca questiona individualmente as defesas de cada arguido sobre se pretendem ou não prestar declarações em tribunal. Francisco Proença de Carvalho, advogado de Ricardo Salgado, intervém depois.

Dizendo que "se compreende" o facto da juíza não questionar se o ex-banqueiro quereria intervir - uma vez que Salgado não está no tribunal -, Proença de Carvalho afirma que a defesa "pretenderia" que o arguido falasse em tribunal. "Mas em função da sua doença [Alzheimer], reconhecida pelo Tribunal, o mesmo não pode e quero que isso fique claro". Francisco Proença de Carvalho entende que isso representa uma "clara violação dos princípios de defesa" do arguido.

José Sócrates vai prestar declarações no início do julgamento. Santos Silva falará no final

Depois da leitura dos despachos introdutórios (onde foi revelado que o tribunal recusou que António Barroca Rodrigues fosse representante legal do grupo Lena), a juíza Susana Seca questiona, um a um, a intenção dos arguidos em prestar declarações.

A defesa de José Sócrates anuncia que o antigo primeiro-ministro falará já no início do julgamento.

Carlos Santos Silva falará no final, segundo a equipa de advogados do empresário.

Sócrates e Santos Silva sentados lado a lado. Zeinal Bava e Henrique Granadeiro na ponta oposta

A sessão de julgamento arranca nesta altura, com a entrada do coletivo de juízes na sala liderado por Susana Seca, acompanhada pelo coletivo de magistrados do Ministério Público. Leva uma hora de atraso em relação ao previsto (9h30).

Na primeira fila, destinada aos réus, um pormenor: José Sócrates está sentado ao lado do seu amigo Carlos Santos Silva, que a acusação acredita ter servido como um testa de ferro para o antigo primeiro-ministro. Ao lado de ambos está Joaquim Barroca, ex-administrador do Grupo Lena, do qual Santos Silva era gestor.

Na ponta oposta dessa fila estão sentado Zeinal Bava e Henrique Granadeiro, antigos administradores da Portugal Telecom (PT).

Ausentes desta sessão estão três arguidos: Ricardo Salgado (ex-administrador do Grupo Espírito Santo), Hélder Bataglia (empresário) e José Paulo Pinto de Sousa (primo de José Sócrates).

Sócrates apresentou pedido de recusa da juíza. "Processo teve como objetivo afastar-me da vida pública"

O antigo primeiro-ministro considera que este é um "processo de lawfare". "Este processo teve como objetivo afastar-me da vida pública", afirmou José Sócrates antes de entrar no tribunal onde será julgado, no âmbito do processo Marquês.

"O sistema judicial não me deixa e não quer que eu recorra daquilo que é a questão central deste processo, que é o lapso de escrita", disse Sócrates, referindo que ontem foram "apresentados dois incidentes, um deles de recusa da senhora juíza".

"A juíza de instrução está em exclusividade, as juízas do julgamento estão em exclusividade, as juízas da Relação estavam em exclusividade. O Conselho Superior da Magistratura tem a sua mão por todo o lado e a último passo nessa escalada foi dado pelo Conselho Superior de Magistratura quando decidiu formar um grupo de acompanhamento do processo Marquês", começou por explicar.

"No meu ponto de vista, isso revela que pela primeira temos um processo judicial que tem um tutela administrativa e isso viola todas regras do direito penal. Por isso apresentamos um pedido de recusa da senhora juíza e pedimos que seja avaliado não só pelos tribunais portugueses, mas que seja feita uma consulta ao tribunal de justiça europeu para se apurar da conformidade da atuação do Conselho Superior da Magistratura com as regras definidas nas diretivas europeias", argumentou.

Sócrates voltou a dizer que apresentou ainda um segundo pedido de recusa referente ao PGR devido às declarações de Amadeu Guerra sobre a Operação Marquês.

"Eu lutei durante anos para que não houvesse julgamento porque tenho direito a isso", diz José Sócrates

À chegada ao Campus da Justiça, José Sócrates voltou a tecer críticas ao Procurador-Geral da República, Amadeu Guerra, que disse numa entrevista ao Observador que é preciso dar ao antigo primeiro-ministro oportunidade "de provar a sua inocência".

"Eu lutei durante anos para que não houvesse julgamento porque tenho direito a isso", afirmou Sócrates.

"O Estado é que tem de provar. Essa declaração do PGR é absolutamente violadora de tudo aquilo que são os princípios básicos do Estado do direito", sublinhou.

"O PGR achou que devia dar-me uma oportunidade. É muita generosidade, mas acontece que não tem o direito de dizer o que disse. Ontem mesmo apresentei um pedido de recusa do senhor PGR para intervir neste processo", afirmou.

Trata-se de "uma declaração violadora das diretivas comunitárias da presunção de inocência e isso diz tudo sobre o processo", disse ainda José Sócrates.

Sócrates chega ao Campus de Justiça. "Quatro anos depois, o Estado força-me a vir de novo ao tribunal"

O antigo primeiro-ministro José Sócrates já chegou ao Campus de Justiça para ser julgado no âmbito da Operação Marquês. Aos jornalistas, afirmou que há quatro anos saiu do tribunal "completamente ilibado de todas as acusações" que o Ministério Público fez. "Quatro anos depois, o Estado força-me a vir de novo ao tribunal para responder exatamente às mesmas acusações de há quatro anos", criticou.

"No fundo o que o sistema judicial faz é o seguinte: A decisão instrutória de há quatro anos não valeu", acusou Sócrates, referindo-se a um "lapso de escrita" como sendo um "estratagema" para o "forçar de novo" a vir ao tribunal.

Começa hoje o julgamento mais complexo da justiça portuguesa

Começa hoje o julgamento da Operação Marquês, o caso mais mediático e complicado da justiça portuguesa. O antigo primeiro-ministro José Sócrates é um dos arguidos deste processo, que se iniciou precisamente há 3877 dias, desde que o ex-governante foi detido à chegada ao aeroporto de Lisboa.

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