O empreendimento Vale do Lobo, foi erguido dentro dos limites legais, sem que tenha havido interferência política em favor do empréstimo da CGD. A crise imobiliária que começou nos EUA, porém, estragou os planos dos acionistas. É assim que Diogo Gaspar Ferreira descreve o cenário que se desenrolou entre 2006 e 2018.A 11.ª audição do julgamento referente à Operação Marquês foi dominada pelo 'capítulo' Vale do Lobo. Realizada nesta quinta-feira, dia 11 de setembro, no Campus de Justiça (em Lisboa), a sessão ficou marcada pelas intervenções de um dos 28 arguidos (19 pessoas singulares e 9 empresas) do processo.Estavamos em 2016. Cinco investidores, entre eles Gaspar Ferreira, avançaram para a compra do empreendimento turístico luxuoso Vale do Lobo, juntamente com a Caixa Geral de Depósitos (CGD), que adquiriu uma posição de 25% no capital, além de se ter tornado financiadora do projeto.Isto porque, tal como explicou ao tribunal, a CGD se tornou financiadora e, simultaneamente, acionista do projeto. O banco público emitiu, por um lado, um empréstimo de 222 milhões de euros, para pôr tudo em marcha. Ao mesmo tempo, colocou em cima da mesa 2 milhões de euros e ficou com 25% do capital, tendo direito a estar por dentro de toda a operação.O acordo estipulado que a CGD tinha direito a um administrador, mais precisamente Jorge Guimarães, "que ia lá regularmente", participava nas reuniões mensais do Conselho de Administração e recebia os relatórios mensais sobre a atividade.Diogo Gaspar Ferreira garante que não sentiu "qualquer influência de natureza política" e que nunca foi mencionada uma decisão nesse sentido. Sublinha ainda que a relação com Armando Vara (então na administração da CGD) nunca excedeu os limites do profissionalismo.Ainda assim, escutas exibidas na sessão levam o Ministério Público a crer no contrário, com conversas sobre férias balneares e eventos de ténis no Algarve, onde surgiram convites para jantares, a título de exemplo.Negócio corria "muitíssimo bem"... até ao colapso do Lehman BrothersO arguido entende que o empreendimento Vale do Lobo estava no caminho certo para o sucesso, de tal modo que 2007 "correu bastante melhor do que nós tínhamos previsto". Nesse sentido, "estava tudo muitíssimo bem", pelo que, garante, nada fazia prever aquilo que estava para vir.A bolha do imobiliário rebentou no ano seguinte. As sirenes dispararam quando o Lehman Brothers declarou falência, em setembro de 2008. O banco de investimento norte-americano acabaria colapsar, gerando-se a crise do subprime, em virtude de um mercado de hipotecas demasiado arriscado.Neste cenário, CGD optou por não flexibilizar as condições do crédito e o empreendimento acabaria por ser vendido a um fundo detido pelos sócios da ECS Capital, em 2018. De todo o modo, o prometido "sucesso" foi impedido precisamente pela crise, frisa Gaspar Ferreira..Operação Marquês. "Vale do Lobo? Tudo foi feito com o maior rigor", garante ex-CEO