O restaurante certo em Seattle para provar pastel de bacalhau
Com as bancadas repletas de peixe fresco, também de marisco, e em redor muitos pequenos restaurantes de comida étnica, da vietnamita à sul-americana, não admira que Pike Place Market seja um ponto de visita incontornável em Seattle, mas também um sítio frequentado pelos habitantes da cidade, muitos vindos de outras partes dos Estados Unidos em busca dos empregos bem pagos da Amazon ou da Microsoft. “Há muita gente aqui no estado de Washington que veio da costa Leste, e que tem pais e avós portugueses. E que vêm aqui ao meu restaurante porque conhecem os sabores. Por exemplo, pedem pastéis de bacalhau ou bifanas”, diz Randal Ventura, dono do Lonely Siren, “a Sereia Solitária”, que se situa num dos pisos inferiores do Pike Place Market, mas com vista desafogada, numa Seattle banhada pelas enseadas do Oceano Pacífico, um mar, não esquecer, batizado há 500 anos pelo navegador português Fernão de Magalhães.
O nome do restaurante pode não ser muito português, mas quem olha para ele de fora não pode deixar de notar as inúmeras bandeirinhas verdes e vermelhas penduradas. Contei mais de 30 destas bandeiras portuguesas em miniatura antes de entrar para conversar com Randal, que finalmente conseguiu uns minutos depois de servidos os almoços.
Como se adivinha pelos traços asiáticos, o lusodescendente tem já várias ascendências, nomeadamente filipina, por parte da mãe. E apesar de não falar português, é impressionante como pronuncia bem a palavra papo-seco, quando me desafia a provar o pão que coze ali mesmo no Lonely Siren. Chega bem quentinho à mesa onde estamos a conversar e de imediato Randall deita num pires “azeite virgem português, o melhor do mundo”, para irmos molhando o pão.
A história familiar de Randal é bem curiosa. O avô paterno era do Alentejo e foi colocado nos Açores, na base aérea das Lajes. “Ele conheceu a minha avó na Terceira, mas ela era de São Miguel. Depois casaram e um dia decidiram vir para os Estados Unidos, para escapar à ditadura em Portugal. O meu pai já era nascido. Tinha 12 anos quando veio para a América. Instalaram-se em Providence, em Rhode Island”, conta Randal.
Adolescente recém-chegado aos Estados Unidos, o pai de Randall, depois de viver numa Nova Inglaterra com forte comunidade portuguesa, acabou por entrar para a Força Aérea também, e ser destacado para o Havai, onde também são inúmeros os descendentes de portugueses. “São muitos os portugueses no Havai. E há coisas que achamos que são havaianas, como as malassadas, que na realidade vieram de Portugal”, nota, entre risos, Randal. Mas no ambiente multiétnico das ilhas havaianas, foi por uma filipina que o pai se apaixonou.
A profissão do pai fez Randal conhecer várias partes da América. E manteve sempre o contacto com a avó açoriana. “Faço cozinha de influência portuguesa. E procuro recriar os pratos da minha avó. Carne de porco com amêijoas é um dos pratos que tem sucesso aqui no Lonely Siren. Também os pastéis de bacalhau”. Randal pergunta se quero provar. Hesito, receando estar a dar trabalho e a cozinha já ter fechado. Mas o chef insiste. Levanta-se e fala com alguém, e passados uns minutos estou a comer um pastel de bacalhau acabado de fritar. “É o melhor de Seattle, pode acreditar”, garante Randall. Estava saboroso, é o que posso dizer. E sabia a bacalhau.
O Lonely Siren tem também uma vasta garrafeira, com tintos e brancos portugueses. Também tem, claro, vinho do Porto e até ginjinha. Quando se prepara para a fotografia, Randal pega num alvarinho, de marca Nórdico. “É dos que saem bem com os clientes americanos”, explica. Também vai buscar um galo de Barcelos que um português lhe ofereceu um dia para reforçar a decoração portuguesa do restaurante. Tem mais.
Fico a saber que as sardinhas na brasa são igualmente um sucesso, também o frango com molho piri-piri. Randal diz ter carinho por Portugal e que já visitou o país com a namorada. Ficaram os dois maravilhados com a gastronomia e os vinhos.
Em Seattle