A velocidade média dos transportes públicos rodoviários está a baixar em Portugal, sobretudo nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. A capital é uma das cidades mais congestionadas de trânsito da Europa, com a oitava pior velocidade a nível europeu - 18 km/hora. Em 2023, o número de horas perdidas por ano no trânsito em Lisboa - 57 - aumentou 21% face aos registos de 2019, o ano pré-pandemia..Estes são dados do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) e o DN conversou com o presidente desta entidade, João Jesus Caetano, e com a investigadora do ISCTE Sofia Kalakou para perceber como pode ser melhorada a mobilidade dos cidadãos, sem recurso ao automóvel..Ao mesmo tempo, uma nova pós-graduação em Mobilidade do Futuro irá ser lecionada no ISCTE, numa parceria entre esta instituição, o IMT e as universidades do Porto e do Minho. “É um momento muito interessante para se trabalhar em mobilidade pois atravessamos um período de profunda reformulação dos transportes”, começa por dizer João Jesus Caetano. O presidente do IMT fala em “novas soluções de mobilidade que estimulam a forma como pensamos todo o sistema de mobilidade e transportes mas também como organizamos o espaço público”..Andar a pé ou de bicicleta inserem-se nessas novas formas de mobilidade. “As cidades estão a ser redesenhadas para favorecerem andar a pé e de bicicleta. Novas tipologias de veículos e novos serviços de mobilidade são introduzidos todos os anos, colocando novos desafios de segurança, mas proporcionando também novas soluções para quem necessita de se movimentar.”.Ao mesmo tempo, João Jesus Caetano aponta para as novas tecnologias ao serviço da mobilidade. “O telemóvel está a tornar-se cada vez mais a nossa plataforma de mobilidade pessoal, na qual planeamos viagens, compramos e validamos bilhetes, pagamos estacionamentos ou acedemos a serviços de mobilidade partilhada.” .Para Sofia Kalakou, investigadora do ISCTE, “o desafio é fazer as pessoas usarem mais o transporte público, para servirmos melhor os cidadãos e termos serviços que possam substituir a utilização do carro privado”. Também, para a académica, as novas tecnologias têm, nesta temática, um papel fundamental. “Podemos ter mais informação sobre onde há mais oferta, a que horas. Isto através de mapas que podem ser criados para podermos analisar estes fluxos melhor e ajustar os serviços às necessidades.” .Nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto têm sido introduzidas novidades nos serviços de transporte público, com vista a uma melhor mobilidade. “As recentes reformulações das redes de serviços de transportes públicos, a construção em curso de novas linhas de metropolitano, a expansão das redes cicláveis, a renovação de autocarros, material circulante e barcos, a crescente visibilidade dos veículos elétricos e a expansão dos pontos de carregamento ou o desenvolvimento, para breve, dos serviços de Bus Rapid Transport (BRT)”, aponta o presidente do IMT..Para este responsável, a forma como a mobilidade urbana é pensada tem vindo a evoluir. “Em poucos anos passámos de uma abordagem exclusivamente centrada no automóvel e na necessidade de resolução dos problemas de trânsito, através de cedências progressivas de espaço a um tráfego automóvel cada vez mais lento, para a procura de soluções que equilibram a utilização do automóvel com o uso do transporte público.”.João Jesus Caetano refere, ainda, que há falta de profissionais qualificados no setor, algo que a nova pós-graduação em Mobilidade do Futuro se propõe trabalhar. “A requalificação dos profissionais terá de visar, em primeiro lugar, o aprofundamento da capacidade para um pensamento pluridisciplinar”, avança o presidente do IMT..“A melhoria da mobilidade dos cidadãos não é solucionável através da abertura de uma via adicional numa avenida ou da reversão de um sentido de trânsito. É um problema mais complexo e o desenho do respetivo quadro de soluções exige conhecimentos aprofundados sobre mobilidade em áreas tão diversas como a engenharia, economia, gestão, planeamento ou a sociedade de informação”..Em relação à pós-graduação Mobilidade do Futuro, João Jesus Caetano refere que irá abordar várias dimensões, desde “a digitalização dos transportes, a descarbonização dos sistemas de mobilidade, a multimodalidade e a inclusão e equidade na mobilidade, através de uma abordagem pluridisciplinar que integra as dimensões social e técnica”.