Número de alunos no Ensino Superior é 7 vezes maior do que há 50 anos
O aumento da escolaridade obrigatória e o reconhecimento da mais-valia de um curso superior ajudam a explicar um dos principais dados do estudo sobre o ensino em Portugal que o EDULOG, o think tank para a Educação da Fundação Belmiro de Azevedo, apresenta hoje: nos últimos 50 anos, o número de alunos no Ensino Superior (ES) aumentou sete vezes. Este trabalho é o último de várias publicações inseridas nas celebrações dos 50 anos do 25 de Abril intituladas O Ensino em Portugal antes e depois do 25 de Abril.
Em declarações ao DN, Alberto Amaral, um dos autores responsáveis pela reflexão e membro do Conselho Consultivo do EDULOG, avança com várias justificações para o aumento de alunos no ES. “Há várias razões, uma sucessão de medidas que explicam estes números, como o aumento da escolaridade obrigatória e o reconhecimento de que um curso superior é uma mais-valia em termos de emprego e melhor salá- rio”, explica
Alberto Amaral conta também que “o Ensino Superior em Portugal passou por mudanças significativas nas últimas décadas e o 25 de Abril desempenhou um papel fundamental nesse processo, sobretudo na equidade de acesso”.
“Em 1950, apenas 15 780 alunos frequentavam as universidades do país, realidade que viria a ter uma transformação crescente em 1974, quando 56 910 passaram a frequentar o Ensino Superior. Hoje a realidade é bem diferente e os dados mais recentes (ano letivo de 2022/2023) mostram que 446 028 indivíduos estão inscritos no Ensino Superior, um número 7 vezes superior ao registado há 50 anos”, pode ler-se na reflexão do 4.º e último volume das séries históricas O Ensino em Portugal antes e depois do 25 de Abril.
Segundo os dados apresentados no artigo O acesso ao Ensino Superior, foi na década de 90, que Portugal registou o maior crescimento de alunos no ES: em 1989/ 1990, o número de alunos inscritos no Ensino Superior era de 131 014 e, em 2000/2001, esse número quase triplicou para 373 745 alunos. O número de mulheres no ES também registou um aumento progressivo. A partir de 1984/ 1985, começou a ultrapassar o número de homens inscritos nas universidades.
O relatório da OCDE (2022) alerta, todavia, para os problemas do sistema e que são resultado da evolução demográfica negativa. As projeções apontam para uma redução da população jovem (entre os 20 e 29 anos), no período de 2020 a 2035, de mais de 70 000 homens e 72 000 mulheres. “Sabendo que estes jovens constituem a grande maioria da procura pelo Ensino Superior, é de prever, no futuro, dificuldades para atrair novos alunos”, refere o documento.
Alberto Amaral mostra-se preocupado com “o problema da natalidade em Portugal”, que resulta na diminuição de alunos, desde o Ensino Básico ao ES, amenizado pelo aumento de alunos estrangeiros nas escolas e universidades portuguesas. “As universidades têm tentado compensar isto com alunos estrangeiros. Basta olhar para o Secundário para se perceber a dimensão do problema. Só não diminuiu mais porque houve um aumento da escolaridade obrigatória, que acabou por tapar os buracos, e porque a taxa de aproveitamento no ensino não-superior também aumentou”, sublinha.
A igualdade é também uma preocupação, “um problema não-resolvido na maioria dos países e em Portugal, onde o sistema de Ensino Superior ainda apresenta deficiências no acesso dos alunos economicamente mais carenciados”. Em 2021/2022, os dados mostram que, em média, 20,24% de todos os alunos do Ensino Superior eram bolseiros, havendo 17,02% do ensino universitário e 25,45% do ensino politécnico, o que permite concluir que os alunos provenientes de famílias mais desfavorecidas optam por esta via de Ensino Superior.
“As instituições localizadas em Lisboa são as que têm menos bolseiros e, ao nível dos cursos, as classes mais favorecidas optam pela Medicina ou Engenharias, enquanto as classes menos favorecidas (mas com aptidões académias iguais) acabam por escolher cursos com trajetórias menos ambiciosas como a Enfermagem e a Educação”, refere o estudo.
Alberto Amaral alerta ainda para o facto de as escolhas dos cursos nem sempre acompanharem as necessidades do país, havendo “uma carência muito grande na área da Informática”. “Muitas vezes, as necessidades do mercado de trabalho variam a uma velocidade que não é acompanhada pelas escolas. Nem sempre a oferta de formação acompanha o mercado de trabalho”, alerta.