Novo projeto de telescola para ajudar crianças ucranianas deslocadas a estudar

A St. Dominic's International School comprometeu-se a devolver o ambiente escolar e a integrar os jovens vítimas da guerra através de uma iniciativa de aulas online com uma professora ucraniana em Portugal.
Publicado a
Atualizado a

"Se conseguirmos impactar a vida de cinco crianças é perfeito. Se conseguirmos ajudar quinhentas, ainda melhor". É com este mote que a St. Dominic"s International School (SDIS) em São Domingos de Rana, Cascais, iniciou um projeto de telescola para ajudar as crianças ucranianas vítimas da guerra, que estão privadas do acesso à educação. Em parceria com a Cruz Vermelha, a Cáritas Internacional e a Câmara Municipal de Cascais, o colégio promete devolver o sentido de ambiente escolar e ajudar na integração de crianças e jovens até aos 18 anos.

Ao DN, o reitor Stephen Blackburn conta que a SDIS se dispôs a "ajudar o povo da Ucrânia, principalmente as crianças deslocadas, a continuar com a sua educação e a manter o ritmo de aprendizagem" a que estavam habituados no seu país. Com início agendado para a época da Páscoa, este projeto vai abranger crianças desde o pré-escolar até ao ensino secundário num programa que visa aulas online, através de um link com acesso à instituição, para que seja acessível em qualquer parte do mundo.

Preocupado com as diferenças linguísticas, Stephen explica que as aulas serão sobretudo em ucraniano, mas com uma grande aposta na língua inglesa para que a integração em contexto internacional seja mais fácil. Assim, o conteúdo das aulas será também dividido por idades: pré-escolar, voltado para contos e trabalhos manuais; dos 6 aos 11 anos, com jogos, artes e literacia e, dos 12 aos 18 anos, vão ser abordados temas como literatura, cidadania e direitos humanos.

Para dar início a esta iniciativa, o reitor explica que foi imprescindível a ajuda dos docentes da escola, especialmente da professora ucraniana Viktoriya Dubchak, que vai ser responsável pelas aulas e se encarregou de reunir voluntários do seu país para participar no projeto. "Mandei a proposta aos professores e, logo no mesmo dia, recebemos 12 respostas positivas para avançar com esta ajuda.", explica.

Tendo em consideração o contexto vivido na Ucrânia, estarão presente em todas as aulas, a partir dos 6 anos, "estratégias de coping e de resolução de conflitos", que vão orientar os estudantes para a "devolução" da esperança perdida na guerra.

"Estas crianças não estão em condições de passar a estudar a matemática, a história ou a geografia que estavam a estudar. Primeiro têm que reaprender a esperança da vida e, na primeira fase, o nosso programa contempla isso. Voltam à sala de aula online, voltam ao ambiente escolar que lhes foi retirado e, pouco a pouco, com histórias, culturas locais, jogos, literacia e ajuda psicológica, esperamos que vá aparecendo a esperança de vida, a esperança de andar para a frente", explica Catarina Formigo, administradora e diretora pedagógica da instituição.

Projetos de ajuda humanitária e educacional não são novidade na SDIS. De acordo com Stephen Blackburn, é comum esta comunidade escolar envolver-se em ações em Braga, Moçambique, e agora na Ucrânia. "Este é um novo projeto específico dada a situação na Ucrânia, mas não é um conceito novo na escola. Desde o início que sempre tivemos o lema de acolher, de integrar e de criar um impacto na educação e na vida das pessoas. Não é só a aprendizagem comum dentro da sala de aula que é importante. É também a aprendizagem da vida", admite.

Os dois responsáveis pelo colégio não poupam elogios às iniciativas dos alunos, que desde o início da guerra se mostraram solidários com os refugiados ucranianos. Pelos corredores da escola, estão espalhadas várias caixas de cartão com donativos que seguirão para a Ucrânia e, segundo o reitor, "todas as manhãs em frente da escola temos muitos sacos com coisas que os alunos trazem para ajudar". Além disso, os alunos do 11.º ano vão participar no projeto online, dando aulas aos novos estudantes ucranianos.

Começando pela telescola, a St. Dominic"s International School - a mais antiga escola internacional em Portugal - reforça que não quer ficar só por este projeto e promete fazer mais. O próximo passo será "direcionar esforços educacionais" para crianças e jovens ucranianos refugiados em Portugal.

O número de estudantes ucranianos continua a aumentar em Portugal desde o início da guerra. Segundo os dados divulgados recentemente pelo Ministério da Educação as escolas portuguesas já receberam a inscrição de meio milhar de 500 alunos ucranianos fugidos da guerra. "Formalmente, já se inscreveram cerca de 500 crianças e jovens no nosso sistema educativo", indicou Tiago Brandão Rodrigues, antecipando que o número continue a aumentar nos próximos dias, depois de as famílias se instalarem em Portugal.

De acordo com o ministro cessante, os alunos ucranianos que chegam às escolas são desde logo integrados numa turma, mas o primeiro passo é terem aulas de português.

Os alunos têm-se fixado nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e "chegam principalmente aos sítios onde existem comunidades ucranianas". No entanto, para agilizar a integração destes novos estudantes estão previstas medidas e estratégias nas escolas do país.

ines.dias@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt