A preocupação das associações, investigadores e autoridades refletem a realidade do terreno atualmente na área de imigração. De Norte a Sul do país, os estrangeiros sentem na pele os desafios que aparecem nos estudos e nos discursos políticos da pré campanha eleitoral - quando lembrados. Alguns dos problemas são comuns a todos, como o DN constatou nas diversas reportagens que realizou a respeito do tema: demora para obter os documentos, ficando "presos" no país, constrangimentos no acesso à habitação, impossibilidade de reunir a família por falta de vagas para reagrupamento, por exemplo. Ao que tudo indica, são problemas que em 2024 vão continuar a acontecer e acumular-se, porque os imigrantes não param de chegar..Além das dificuldades que unem a maior parte da comunidade migrante, existem as questões específicas que variam conforme a nacionalidade e a região que escolhem para viver em Portugal. É um desafio a mais para as autoridades que precisam adequar as respostas conforme as necessidades que surgem..No Alentejo, é uma realidade a atuação das máfias que exploram os trabalhadores imigrantes. Trata-se do ponto de partida para uma vida longe de casa com miséria, fome, jornadas de trabalho abusivas - até mesmo condições análogas à escravidão, com violência física e retenção dos ordenados, justificados como o pagamento de uma dívida pela viagem até Portugal e alojamento precário. Em Beja e Odemira, por exemplo, basta sair às ruas para verificar os trabalhadores que vivem nestas condições, muitos sem acesso à habitação e a morar nas ruas ou em prédios desocupados com riscos à saúde e sem acesso aos direitos humanos básicos, como o DN mostrou na edição de 23 de dezembro..No ano que se aproxima, não há indicativos que a situação mudará. Na última megaoperação, realizada em novembro passado, Manuela Santos, diretora da Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT), reconheceu que a criminalidade da qual os trabalhadores imigrantes são vítimas "se pode mitigar, mas dificilmente acabará"..Em Lisboa, onde está concentrada a maior parte dos estrangeiros do país, também são verificadas jornadas exaustivas em áreas como a restauração, com baixos ordenados e trabalhos precários a recibos verdes. Como consequência, segue-se a superlotação nas casas pela impossibilidade de arrendar uma habitação melhor e o risco de exclusão social. Paralelamente, de acordo com o relatório Imigração em Números 2023, o setor de serviços entraria em "colapso" sem o trabalho dos imigrantes. São brasileiros, indostânicos, angolanos e de outras regiões do globo que ajudam a fazer girar a máquina do trabalho na capital..No Centro e Norte do país, a situação é semelhante, especialmente no que diz respeito à habitação e à precariedade laboral. Segundo o DN mostrou a 22 de dezembro, são cada vez mais brasileiros, argentinos, colombianos e do norte de África a procurar ajuda por estarem desalojados em Braga, conhecida por ser um dos destinos preferidos dos cidadãos do Brasil que mudam-se para Portugal..Em todas as zonas do país, crescem os relatos de xenofobia, principalmente contra brasileiros. Os relatos viralizam nas redes sociais com vídeos e são amparados com estatísticas. Segundo o Relatório Anual sobre a situação da Igualdade e Não Discriminação Racial e Étnica, 34% das queixas são de cidadãos brasileiros. O tema está a ser usado na corrida eleitoral que se aproxima é também alvo de populismos..Somados os problemas, está também a incerteza das leis. No final de novembro, o Conselho de Ministros aprovou o decreto regulamentar sobre a "entrada, permanência, saída e afastamento de cidadãos estrangeiros". Por trás do nome burocrático, estão decisões importantes - ainda não divulgadas, sobre o futuro dos imigrantes no país, especialmente sobre a renovação dos títulos de residência, documento que permite aos cidadãos estarem no país e o que, de facto, a residência CPLP permite, como viajar pelo Espaço Schengen e reagrupamento familiar. Contactado pelo DN, o gabinete da Presidência da República afirmou que o documento deu entrada ontem em Belém. O prazo de apreciação é de 40 dias..amanda.lima@globalmediagroup.pt