"Nova vaga de Unidades Locais de Saúde é o caminho para o futuro", defende ex-ministro
Fórum Saúde XXI, organização que tem como chairman Adalberto Campos Fernandes, debate hoje, no Infarmed, em Lisboa, a integração dos cuidados no serviço público. O ministro diz que a reunião pretende ser "um impulso" para a medida já anunciada pela direção executiva do SNS.
A Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS) anunciou em dezembro que irá abrir mais quatro Unidades Locais de Saúde (ULS), que se irão juntar às que existem, embora poucas, e que o seu objetivo é cobrir a totalidade do país com este modelo de integração de cuidados. E o Fórum Saúde XXI, organização que reúne especialista na área e que tem como chairman o antigo ministro Adalberto Campos Fernandes, decidiu avançar com uma conferência, que hoje se realiza, no Infarmed, Parque Saúde, em Lisboa, para debater quais as vantagens deste modelo de integração de cuidados perante os desafios do futuro.
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"Integração & Proximidade - O Papel das Unidades Locais de Saúde" é o mote da reunião, que Adalberto Campos Fernandes diz pretender "dar impulso à medida", alertando consciências de que "problemas antigos precisam de soluções novas. Senão os problemas mantém-se sem resposta".
Fernando Araújo, diretor executivo do SNS, vai estar presente para encerra a reunião, mas desta constam outros oradores, como o economista Pedro Pita Barros ou a ex-ministra da Saúde, Maria de Belém Roseira, já que foi durante o seu mandato, entre 1995 e 1999, que foi criada a primeira ULS, em Matosinhos. Uma medida que tem quase 30 anos, e que, agora, volta a ser uma aposta do ministério de Manuel Pizarro e de quem lidera o SNS. "É um modelo interessante, porque, do ponto de vista organizativo, responde àquilo que é importante para um sistema público eficiente, através da integração de cuidados", responde Adalberto Campos Fernandes.
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Na verdade, as ULS são conhecidas por ser um modelo que reúne todos os níveis de cuidados, funcionando todos em articulação, desde os hospitais aos cuidados primários, aos cuidados continuados ou de proximidade. Não é um modelo aceite por todos os agentes da saúde, mas para o chairman do Fórum Saúde XXI "é o modelo que permite uma relação funcional e estreita entre todos os cuidados, e sob o mesmo comando. Ou seja, governação institucional e clínica conjunta".
Na sua opinião, com este modelo "há maior eficiência na partilha de recursos e uma maior eficiência, sobretudo para o utente, que consegue obter respostas centralizadas num único interlocutor", explicando: "Numa ULS o percurso do doente é conhecido e trabalhado em conjunto pelos diferentes níveis de cuidados".
Portanto, sublinha, "esta nova vaga de ULS, que Direção Executiva do SNS vai lançar é, do meu ponto de vista, o caminho do futuro. É o caminho da integração de cuidados, que é o que serviço público necessita". Ao contrário do sistema privado, refere o ex-ministro, "o serviço público funciona à demasiado tempo de forma fragmentada e dispersa. Daí que o objetivo desta reunião seja o de debater as vantagens desta fórmula organizativa".
Uma das vantagens, avança, é de facto a trabalhar um ponto único como contacto, facilitando ao cidadão no ativo, com filhos e horários a cumprir, respostas "rápidas e eficientes", mas concorda que para tal é necessário, "claramente, uma revolução digital na Saúde, e agora há muito dinheiro do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), para que se faça essa transição. O utente tem de ter em seu poder todos os exames que realiza e toda a informação clínica em seu poder e, ao mesmo tempo, não perder tempo".
Como diz, "os portugueses perdem milhões de horas do seu tempo por causa da fragmentação dos serviços". Este é um dos desafios para a Saúde no século XXI e "nunca estaremos a defender o serviço público, e aqui alargo-me um pouco até ao perímetro da Educação, se mantivermos na esfera de influência de decisão um pensamento que é datado, um pensamento dos anos 1980 e 1990, que ainda vive com a ideia de uma grande arquitetura pública de um modelo burocrático muito organizado em cadeias verticais de poder", argumenta o ex-governante.
Na sua opinião, "é preciso aproximar os serviços públicos das pessoas, sob pena das pessoas se afastarem dos serviços públicos" e procurarem outras alternativas, nomeadamente privadas. Basta Vermos as notícias, "o setor privado da Saúde não pára de crescer e as escolas privadas também já têm listas de espera para receber alunos". Quem defende o serviço público, "não pode continuar a defender um certo conservadorismo situacionista, isso é o pior que pode fazer pelos serviços públicos. É preciso aproximar os serviços que as pessoas pagam com os impostos, que são pesadíssimos".
E, neste sentido, defende que "é preciso haver coragem para cortar com alguns modelos organizativos, que estão fora do que é a vida moderna. Há 10 anos não havia Saúde Digital nem Telesaúde. Depois da pandemia, os próprios municípios já oferecem consultas à distância. Se o Estado não percebe isto não é capaz de reformar a Saúde. O objetivo desta reunião é debater as respostas que as ULS podem dar ao cidadão".