Cerca de uma centena pessoas estão concentradas desde as 15h30 deste sábado, 25 de outubo, na Praça do Rossio, em Lisboa, para exigir habitação digna, emprego seguro e denunciar injustiças sociais, violência sexual e repressão política.. A manifestação, sob o lema “Não nos Atirem Burcas para os Olhos”, foi convocada pela historiadora Raquel Varela nas redes sociais após a aprovação do projeto de lei do Chega que propõe proibir qualquer forma de vestuário que impeça a identificação facial em locais públicos.. Entre sol e chuva, num típico dia de outono, os manifestantes em silêncio exibiam cartazes com frases como “Burka não é crime, Nós não somos criminosas” ou “As casas são do povo, o povo ocupa as casas”.Além de Lisboa, aconteceram concentrações no Porto (Avenida dos Aliados) e em Braga (Avenida Central).Na Invicta, cerca de meia centena de manifestantes realçou que a burca "não é um problema" e só serviu para "desviar as atenções"."Identifiquei-me muito com a manifestação, desde logo pelo título - 'Não nos atirem burcas para os olhos' - porque, de facto, isso não é um problema em Portugal. O que é um problema, de facto, é a habitação, o sistema nacional de saúde e a educação", disse à Lusa, na Avenida dos Aliados, Tânia Ferreira, de 34 anos, bolseira de doutoramento na Universidade do Minho.A manifestante lamentou que "a maioria, no parlamento, não se junte para combater isso, que são os problemas, de facto, e que atingem toda a população" e são "problemas de verdade".A burca "é uma realidade muito mediática mesmo para desviar as atenções daquilo que é importante", considerou, acrescentando que os problemas do país são "arrendar uma casa e ter dificuldades", os "baixos salários" ou querer uma consulta e "esperar meses".Tânia Ferreira diz entender "os argumentos que dizem que as mulheres que usam burca, se não a usarem, também ficam privadas do espaço público e da liberdade", mas "não é isso que preocupa a maior parte dos portugueses hoje em dia"."Também é um problema a violência doméstica. Nós vemos, todos os anos, o número de mulheres assassinadas e o número de queixas por violência doméstica tem aumentado todos os anos, e o que é que o parlamento tem feito de especialmente em relação a isso? Não vemos muita coisa, mas a maioria, sobre um assunto que não tem especialmente relevância, juntou-se para aprovar uma coisa que não faz sentido", frisou.A manifestante admitiu não ter "uma posição definida" sobre a liberdade que uma mulher que use burca efetivamente tem em culturas como a afegã, em que "há um sistema patriarcal que a obriga a usar", mas em Portugal considera "estranho que seja o Estado a dizer" o que uma mulher deve "usar ou deixar de usar"."Criou-se um alarido e uma confusão em torno de um assunto que, a meu ver, não é assunto", referiu.Já a formadora Sandra Monteiro, de 50 anos, concordou que a questão da burca "não é relevante em Portugal", mas acredita que "nalgumas situações as mulheres são obrigadas a utilizar", no caso de "países isolados, fechados, em termos culturais"."Mas também Portugal não o é, por isso é normal as pessoas aceitarem a diferença, e em Portugal o que se está a fazer neste momento é: tudo o que é diferente não se enquadra, pelos vistos. Por isso temos que mostrar que, na verdade, alguém quer colocar uns contra os outros, mas não podemos aceitar", assinalou.A formadora observa que "desde há pelo menos dois anos as coisas têm piorado consideravelmente em Portugal" especialmente quanto "às mulheres", em que se está a "regredir consideravelmente", considerando que além de "novos partidos que vão surgindo", a própria dinâmica internacional pode "pôr em causa a democracia"."Eu não vou permitir que Portugal vire uma ditadura e hei de participar em tudo o que for preciso precisamente por isso", assinalou.Por fim, Álvaro Sampaio, reformado de 74 anos, veio de Vila Nova de Famalicão (distrito de Braga) para o Porto para participar nesta manifestação, mas confessou o "desalento" encontrar "tão poucas pessoas", até porque "os propósitos da manifestação eram importantes".Para o reformado, a burca "não era um assunto que merecia ter o relevo que teve nem ser votada uma lei na Assembleia da República"."Acho que é muito fútil, não é motivo suficiente. Há muitos mais problemas que a sociedade portuguesa tem, desde a habitação, saúde, a educação, tantas coisas. Eu nunca vi ninguém de burca. Nem aqui, nem em Lisboa, portanto acho que é um não interesse", resumiu. .Proibição de burcas em espaço público. O tipo de véu, as multas e as exceções no projeto de lei do Chega que o Parlamento aprovou