Manifestantes antifascistas foram mais do que os do grupo 1143. E foram quem tentou atos violentos.
Manifestantes antifascistas foram mais do que os do grupo 1143. E foram quem tentou atos violentos.André Rolo/Global Imagens

"Não passarão!" Antifascistas superam manif de nacionalistas no Porto

Durante todo o trajeto do protesto do grupo 1143, manifestantes antifascistas em maior número responderam com gritos de ordem e também com violência - dois deles foram presos. A PSP destacou um forte aparato policial e teve de proteger o grupo de Mário Machado
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Durante todo o trajeto do protesto do grupo 1143, manifestantes antifascistas em maior número responderam com gritos de ordem e também com violência - dois deles foram presos. A PSP destacou um forte aparato policial e teve de proteger o grupo de Mário Machado.

“25 de Abril sempre, fascismo nunca mais” e “não passarão” foram as frases gritadas contra os seguidores do grupo 1143 - um movimento de extrema-direita fundado em 2003 na Juventude Leonina, ligado ao grupo de cabeças rapadas hammerskins liderados pelo neonazi Mário Machado - alinhados no protesto “Menos imigração, mais Habitação” no protesto no Porto. Diferente do que aconteceu em Lisboa, os nacionalistas liderados por Machado foram recebidos por centenas de manifestantes antifascistas na cidade Invicta.

Os contra manifestantes eram em um número muito maior do que o 1143 conseguiu reunir, apesar da intensa divulgação realizada nas redes sociais. Mário Machado havia expressado publicamente o desejo de “ocupar as ruas”, que “não seriam somente da extrema-esquerda”. Desde o início da tarde, mais de mil pessoas juntaram-se na Praça dos Poveiros e seguiram em caminhada sem conflitos. Além da defesa dos imigrantes, o ato teve outras bandeiras, como o clima, a Palestina e os direitos LGBT+.

Depois de terminaram o trajeto, alguns dos manifestantes foram até a Praça Dom João I, onde ocorria a concentração do grupo 1143. O clima de tensão começou logo e os antifascistas cercaram a praça, enquanto porta-vozes com megafones repetiam frases sobre a necessidade de expulsar os imigrantes que vivem em Portugal e os antifascistas respondiam com gritos de ordem e provocações. Diferente de Lisboa, o protesto não teve tochas, somente foguetes.

Na praça Dom João I, dois jovens tentaram atacar os militantes nacionalistas com violência e foram detidos pela PSP ainda na concentração. Um deles estava com um saco de pedras na mochila e outro jogou um saco com cascas de frutas. Alguns membros do 1143 tentaram rebater também com violência, mas foram contidos pelos próprios colegas que pediam para que mantivessem a calma e também pelos polícias. 

Manifestação do grupo 1143 acabou por ter de ser protgida pela polícia. Foto: André Rolo/Global Imagens

Com dois megafones, bandeiras, cartazes e faixas, os porta-vozes do 1143 falavam sobre a necessidade de “devolver Portugal aos portugueses” e de “parar a invasão” de estrangeiros no país. O grupo atribui exclusivamente aos imigrantes a crise na habitação vivida em Portugal. Mário Machado defendeu que os estrangeiros não deveriam ter os mesmos direitos que os demais cidadãos que vivem em Portugal.

Rui Roque, outro porta-voz do 1143, defendeu o fim da recém flexibilizada Lei da Nacionalidade e repetiu a falsa narrativa de que existe uma “substituição” dos portugueses em curso. Roque era militante ativo do partido Chega, mas foi expulso por criar uma moção para remover ovários de mulheres que praticassem o aborto. Além do hino nacional gritos “AU, AU”, a imitar os guerreiros do filme "300" - referência ao grito de guerra dos guerreiros de Esparta - , os nacionalistas entoaram “Dizemos não à imigração, fechem de vez as fronteiras” e insultaram jornalistas que cobriam a manifestação. 

Depois da chegada de mais reforços policiais, com equipas da polícia de intervenção e cães, o grupo saiu da praça Dom João I em trajeto até a Câmara Municipal do Porto. A polícia teve de manter longe os antifascistas - sempre em maior número e logo atrás do grupo de Mário Machado. “Racistas, fascistas chegou a vossa hora, os imigrantes ficam e vocês vão embora”, cantavam. 

O protesto seguiu até a Praça dos Aliados, em frente à Câmara Municipal do Porto, sob forte escolta policial que impedia a saída do perímetro. Novamente, Mário Machado e os demais militantes foram cercados por antifascistas de ambos os lados da praça, que também estavam contidos pelos agentes da PSP.

Enquanto os membros do 1143 faziam saudações nazi e gritavam “Salazar, Salazar”, os contra manifestantes gritaram frases sobre o 25 de Abril. Além dos antifascistas, pessoas que passavam pelo local, um dos mais movimentados da cidade, juntaram-se ao coro. Cidadãos do Porto que acompanharam os atos afirmaram ao DN que “há muitos anos” não viam nada semelhante na Invicta.

Por volta das 20.00, o grupo de Mário Machado foi escoltado pela PSP até as carrinhas estacionadas, em meio a vaias e gritos de “há aqui, antifascistas”. Três carrinhas com membros do 1143 passaram pela praça e foram novamente vaiados. Depois de se irem embora, os antifascistas foram até a frente da Câmara Municipal do Porto, no exato mesmo sítio ocupado minutos antes pelo grupo 1143. Celebraram com a música “Grândola vila morena” e disseram que “as ruas do Porto tem dono”. 

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