Mário Machado pede ajuda de Elon Musk e Trump para evitar prisão
Mário Machado, condenado a cumprir pena dois anos de 10 meses de prisão efetiva por incitamento ao ódio e violência contra mulheres, pediu ajuda ao bilionário Elon Musk para não ser preso. Em publicação no X (antigo Twitter), solicitou se pode receber asilo político na embaixada americana após a posse de Donald Trump.
"@elonmusk - Serei preso em fevereiro de 2025 por ter escrito um Tweet de sete palavras em tom irônico e sarcástico contra ativistas de esquerda.
É a primeira vez em Portugal que alguém vai para a prisão por tuitar.
Será possível pedir asilo político à embaixada dos EUA em Lisboa depois que Trump assumir o cargo?", escreveu na conta Racismo Contra Europeus, a qual administra.
O post é acompanhado de uma foto de Mário Machado e de um print screen do comentário que originou a condenação. A pena de prisão efetiva foi confirmada no mês passado pelo Tribunal da Relação de Lisboa (TRL).
A publicação rapidamente repercutiu. Miguel Arruda, deputado do Chega, foi um dos primeiros a manifestar apoio ao criminoso. "Sou deputado português e posso dizer com certeza que Mário Machado é um preso político", escreveu, em inglês para Elon Musk. Não foi a primeira vez que o deputado do partido de André Ventura defende publicamente Mário Machado. Outros membros do Chega, como Miguel Lourenço, da juventude do partido, também manifestou apoio.
Perfis no X de cunho nacionalista também aderiram a esta campanha online pelo asilo político do português. A página da Resistência Lusitana, com mais de 32 mil seguidores, fez o mesmo apelo à Musk e Trump.
"Mario Machado é um nacionalista português que será preso em fevereiro por postar um tweet irônico onde ele estava conversando com um amigo.
Isso é 100% uma prisão política, há alguma chance de fazermos isso chegar a Elon Musk? Vamos marcar Elon nos comentários e ajudar Mario", lê-se no post.
A publicação também foi partilhada pelo próprio Mário nos grupos do Telegram relacionados com grupo 1143, do qual é o líder. São dezenas de chats, tanto nacionais quanto por núcleos.
Mário Machado, com extensa ficha criminal e assumidamente neo nazi, foi condenado por apelar no X à prostituição forçada" das mulheres dos partidos de esquerda, e que visaram em particular a professora e então dirigente do Movimento Alternativa Socialista (MAS) Renata Cambra. O mesmo foi decidido em relação ao outro arguido do processo, Ricardo Pais, que foi condenado a um ano e oito meses de prisão suspensa por um período de dois anos.
A dupla tentou recorrer da decisão. No caso de Mário Machado, a Relação rejeitou as alegações de que as declarações em julgamento eram um "exercício de humor", defendendo tratar-se, isso sim, do que "verdadeiramente pensa e pretende" o militante neonazi, a quem atribuem também um alvo circunscrito e identificado.
"Na verdade, as condenações constantes no certificado de registo criminal do recorrente, elencadas na sentença em sede de factos provados e acima mencionadas, espelham um carreira criminosa e uma insensibilidade face às primeiras condenações, que nada serviram para que alterasse a sua conduta e repensasse o seu modo de vida, pelo que é manifesto que qualquer pena que não seja a de prisão e a simples censura do facto e a ameaça da prisão já não realizam de forma adequada e suficiente as finalidades da punição", argumentou o TRL.
As desembargadoras entendem ainda que Mário Machado, quer pela "não assunção das suas responsabilidades", quer pela "ausência de empatia" para com a vítima, Renata Cambra, não permitiu ao tribunal concluir que não voltará a cometer crimes, "pelo que não se suspende a pena de prisão em que é condenado".
No apelo, o qual o DN teve acesso, a defesa até tenta usar uma frase de Cristiano Ronaldo para convencer as juízas. "Atente-se na seguinte frase da assistente [Renata Cambra] de teor algo jocoso para com o arguido [Mário Machado]: Ele escreve na 3ª pessoa, mas isso o Cristiano Ronaldo também faz. Salvo o muito respeito, não pode a meritíssima juiz a quo controlar, perceber, interiorizar as reacções do arguido (aliás como de ninguém na sala de audiências)".
O recurso de Machado rejeitado pela Relação invocava um pretenso estilo humorístico do arguido - “as frases imputadas ao recorrente são declarações não sérias” - que o trio de juízas desembargadoras rejeitou, defendendo tratar-se do que “verdadeiramente pensa e pretende” o militante neonazi, assinalando um alvo perfeitamente identificado: “Apenas as mulheres de esquerda são objeto das palavras do arguido. Palavras essas desprovidas de qualquer sentido de humor e com o intuito óbvio de humilhar.”
De resto, Mário Machado viu recusados todos os quatro pontos do seu recurso: erro de julgamento, preenchimento do tipo legal de crime, adequação da medida da pena e suspensão da execução da pena de prisão.
amanda.lima@dn.pt