O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), considerou esta sexta-feira "muito grave" que o Governo não tenha consultado as autarquias para definir as medidas para responder à crise da habitação, criticando a postura de imposição e proibição.."Este tipo de medidas não podem ser como um centralismo do Estado a tentar resolver o problema das pessoas. Temos de resolvê-los ao nível das autarquias, ao nível do que são as cidades hoje, portanto a cidade vai ser o ator para resolver o problema da habitação e essa resolução do problema não pode ser por imposição ou por proibição ou por obrigação", declarou Carlos Moedas, à margem da inauguração de um polidesportivo na freguesia lisboeta de Marvila..Na quinta-feira, o primeiro-ministro, António Costa (PS), apresentou um pacote de medidas para responder à crise da habitação em Portugal, inseridas no programa Mais Habitação, com cinco eixos de atuação: aumentar da oferta de imóveis utilizados para fins de habitação, simplificar os processos de licenciamento, aumentar o número de casas no mercado de arrendamento, combater a especulação e proteger as famílias..O programa Mais Habitação foi aprovado em Conselho de Ministros e ficará em discussão pública durante um mês. As propostas voltarão a Conselho de Ministros para aprovação final, em 16 de março, e depois algumas medidas ainda terão de passar pela Assembleia da República, segundo o primeiro-ministro..Em reação ao anúncio do Governo, o presidente da Câmara de Lisboa manifestou "uma estranheza grande" por não ter sido consultado.."Hoje, a habitação é um dos maiores desafios nacionais, mas é um desafio que tem de passar por medidas nas autarquias. Ora, o Governo não consultou, nem ouviu as autarquias - a autarquia de Lisboa seguramente que não - e, portanto, é uma grande estranheza ver todo este pacote de medidas sem elas terem passado por alguma auscultação dos presidentes da câmara e, em particular, da cidade de Lisboa", lamentou Carlos Moedas..Rendas, benefícios fiscais e uma revolução no licenciamento: as medidas do governo para a habitação.O autarca do PSD realçou a intervenção do município para responder à crise da habitação na cidade, indicando que a câmara está a construir mais de 1.000 apartamentos e prevê ajudar 1.000 famílias que têm dificuldade em pagar a renda, através do Subsídio Municipal ao Arrendamento Acessível (SMAA).."Estamos, realmente, a construir todos os dias soluções como, por exemplo, as cooperativas - vamos lançar cinco cooperativas -, portanto tudo isto tem de ser feito com as autarquias", reforçou..O presidente da Câmara de Lisboa disse não perceber como é que "medidas desta dimensão" para responder à crise da habitação são feitas através do Estado central, que "impõe e proíbe àquilo que é a vida dos autarcas, entra no território dos autarcas e diz que vai proibir o alojamento local e isto e aquilo".."Não podemos [os autarcas] admitir que se entre na gestão do nosso território sem nos consultar, pensamos que isso é muito grave", apontou..Carlos Moedas disse que já falou com outros autarcas que "também não foram consultados" e considerou que "não é normal que a Câmara de Lisboa não tenha sido ouvida".."Já nem digo consultada, mas ouvida", indicou, escusando-se a comentar as medidas anunciadas pelo Governo.."Não vou comentar, porque não fui ouvido, ou seja, aquilo que conheço sobre estas medidas é o que a comunicação [social] conhece sobre as medidas. Acho que o presidente da Câmara de Lisboa merecia um bocadinho mais", reclamou o social-democrata, sem responder à questão da constitucionalidade de algumas das medidas em que poderá estar em causa o direito à propriedade privada..O autarca do PSD defendeu que o caminho para Portugal não pode ser voltar a uma visão dos anos de 1970, "de um centralismo do Estado a comandar as autarquias, a decidir pelas autarquias", com uma postura "de imposição e de proibição"..O presidente da Câmara de Lisboa lembrou que o município está a trabalhar na alteração do Regulamento Municipal do Alojamento Local, tendo proibido novos registos "em muitas partes da cidade", assim como a Câmara do Porto, presidida pelo independente Rui Moreira, que apresentou esta semana uma primeira ideia desse regulamento.."E, de repente, há uma proibição nacional [do alojamento local], isso não faz nenhum sentido", frisou Carlos Moedas, considerando que "é impensável" que o Governo não tenha envolvido as autarquias na definição das medidas..Apesar de ter "muita pena" por existir desarticulação e falta de diálogo com o Governo, o autarca de Lisboa assegurou que vai continuar a trabalhar no "maior programa de investimento na habitação que [a cidade] alguma vez teve", com 40 milhões de euros destinados aos bairros municipais, inclusive na reabilitação de casas devolutas, e com a atribuição de 2.000 fogos habitacionais.