Modelos deviam apresentar atestados? "Não temos cá manequins anoréticas"
Quem quiser ser modelo em França é obrigado a apresentar um atestado médico, que confirme que é saudável. Trata-se de uma nova lei, que pretende acabar com a magreza excessiva nas passerelles. Contactadas pelo DN, as agências de modelos portuguesas dividem-se na apreciação à nova lei, mas dizem que a discussão não faz sentido em Portugal, pois não há casos de manequins demasiado magras.
A proposta que estava em cima da mesa pretendia afastar todas as modelos que não tivessem um índice de massa corporal igual ou superior a 18. Muitas foram as vozes na indústria da moda que se levantaram contra, por considerarem que o IMC não indica se a pessoa é ou não saudável. Com a nova lei, é o médico que determina se a manequim está apta para exercer a profissão, tendo em conta esse e outros critérios, nomeadamente a idade, o sexo, a forma do corpo ou a história alimentar. Quem não cumprir a legislação será punido com pena de prisão até seis meses e multas que podem chegar aos 75 mil euros.
[destaque:Estilista Fátima Lopes considera medida patética]
Para a estilista Fátima Lopes, a nova lei "é uma anormalidade e um ato de discriminação". Destacando que esta medida é "tão patética quanto a do IMC", diz que "se achar que uma manequim é demasiado magra ou tem um ar doente" não a vai aceitar, "mesmo que tenha um atestado médico". Até porque, destaca, "há sempre forma de darem a volta às coisas". Em Portugal, garante, "não há modelos anoréticas". E assume já ter recusado raparigas que queriam ser modelos por serem demasiado magras. "Um esqueleto andante não é bonito."
Em França, é estimado que 30 a 40 mil pessoas - em 90% dos casos adolescentes - sofram de anorexia nervosa. Hélio Bernardino, diretor da Elite Lisboa, até vê com bons olhos que as modelos francesas sejam obrigadas a apresentar atestados médicos. No entanto, acredita que é uma medida que "não vai dar em nada". "Em Espanha [onde já foram proibidos manequins muito magros], as modelos iam para os castings com pedras nos bolsos e, em França, também vão arranjar maneira de contornar a situação", alerta.
Em Portugal, Hélio Bernardino crê que não faz sentido uma discussão deste género. "A mulher portuguesa é muito mais roliça, tem ancas. Às vezes o difícil é conseguir mulheres magras", realça. Segundo o diretor da Elite, existem menos agências em Portugal, pelo que as pessoas estão mais atentas a qualquer situação que pareça desviante. "Não temos esse tipo de mulheres muito magras em Portugal", diz.
Para Alexandra Macedo, diretora da Best Models, "é louvável que se lute contra tudo o que sai fora do equilíbrio do que é saudável". Reconhece que a nível internacional "existem modelos muito, muito magras", mas também não tem conhecimento de "fenómenos de magreza extrema ou anorexia com modelos portuguesas". Este tipo de problemas, prossegue, resolve-se, acima de tudo, "com uma mudança de mentalidades".
Na publicidade, por exemplo, Alexandra Macedo diz que já se tenta que quem dá a cara seja próximo da pessoa comum. O mercado nacional "é bastante mais pequeno" do que o espanhol ou francês e procura "muito o que é saudável. Não se explora esse conceito de magreza extrema". No entanto, para a diretora da Best Models faz mais sentido a apresentação de um atestado médico do que a imposição de um índice de massa corporal.
Fotos retocadas assinaladas
Na sexta-feira foi ainda aprovada uma outra medida, que obriga as publicações a rotularem com "fotografia retocada" todas as imagens de modelos que forem modificadas. Quem não cumprir, conta o The Guardian, enfrenta uma multa que pode chegar aos 37 500 euros, ou 30% do valor do anúncio onde o modelo aparece.
Na opinião de Fátima Lopes, "um bocadinho de Photoshop não faz mal nenhum e até costuma ser mais usado em quem não é modelo do que nas manequins".