Ana Paula Martins, ministra da Saúde.
Ana Paula Martins, ministra da Saúde.FOTO: MIGUEL PEREIRA DA SILVA/LUSA

Ministra da Saúde alerta que inverno vai ser “muito duro” por causa de nova estirpe da gripe

Ana Paula Martins assume que a gripe será "um grande desafio”. Por outro lado, anunciou para breve uma linha de financiamento para requalificar urgências em “situação mais fragilizada".
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A ministra da Saúde admitiu esta segunda-feira, 24 de novembro, que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) vai ser sujeito a “uma pressão muito grande” por causa de uma nova estirpe da gripe e alertou que o inverno “vai ser muito duro”.

“Estamos com taxas de cobertura vacinal muito, muito, elevadas e vamos continuar a insistir, a insistir, a insistir, porque, como já todas as entidades competentes da Europa disseram, este é um ano onde, sobretudo, a gripe vai ser um grande desafio”, disse Ana Paula Martins, na Guarda.

A governante prosseguiu o périplo pelas Unidades Locais de Saúde (ULS) do país, no âmbito da preparação do SNS para o período de inverno, tendo visitado a ULS da Guarda de manhã e seguido para a ULS da Cova da Beira e Castelo Branco à tarde.

A ministra da Saúde disse que os hospitais estão preparados com planos de inverno e planos de contingência, de vários níveis, mas admitiu que “a pressão vai ser muito grande”.

“O inverno vai ser muito duro. E nós, além desses planos, temos também a emergência médica com planos reforçados para poder apoiar os hospitais porque a emergência médica pré-hospitalar tem uma importância determinante também nessas alturas de maior pressão”.

Ana Paula Martins acrescentou que foram aumentados durante este período “os dispositivos sazonais habituais com mais meios para poderem ser acionados”.

Além disso, o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) também está “a tentar reforçar os meios, como acontece nestas fases, sobretudo em zonas como o interior”.

Quanto à campanha de vacinação, a ministra considerou que o SNS tem “uma vacinação em massa” e que a procura pelas vacinas contra a gripe tem sido “muito grande, sobretudo nos centros de saúde, nos lares e na rede nacional de cuidados continuados”.

“Através da Direção-Geral da Saúde [DGS], já fizemos vários apelos para que se continuem a vacinar aquelas pessoas que têm indicação para tal. É a maneira que temos de conseguir minimizar as idas às urgências daqueles que têm maior risco e também a mortalidade”, indicou.

Ana Paula Martins reiterou que Portugal tem atualmente taxas de cobertura vacinal “muito, muito elevadas” e que os serviços de saúde vão continuar “a insistir, a insistir, a insistir” para necessidade da população mais idosa e de risco tomar as vacinas porque “este ano a gripe vai ser um grande desafio”

O Ministério da Saúde está a contactar com as ULS para preparar o SNS para o período de inverno e conhecer “detalhadamente a resposta das unidades de saúde aos desafios acrescidos que se verificam nesta época do ano, nomeadamente no que respeita à resposta às doenças sazonais, à gestão das urgências e à coordenação entre os diferentes níveis de cuidados”.

Além de visitas aos serviços de urgência, a ministra da Saúde reúne com os conselhos de administração e com profissionais de saúde. Durante as visitas, serão ainda discutidas “medidas concretas de reforço dos recursos humanos e materiais, bem como estratégias de articulação entre os cuidados primários, hospitalares e continuados, para garantir uma resposta integrada e eficiente às necessidades de população”.

Nestas visitas, o diretor-executivo do SNS, Álvaro Almeida, acompanha a Ana Paula Martins, à exceção da ULS da Guarda. Ma terça-feira, a titular da pasta da Saúde estará na ULS do Alto Alentejo.

Linha de financiamento para requalificar urgências em “situação mais fragilizada"

A ministra da Saúde anunciou entretanto a abertura, em breve, de uma linha de financiamento para requalificar os serviços de urgência que estão numa “situação mais fragilizada” e precisam de obras.

“Existem urgências por esse país fora que têm que ser requalificadas, precisam de obras fundamentais, porque não é possível continuar a trabalhar nas condições em que algumas das urgências hoje estão a trabalhar. A Guarda é um exemplo, Beja, onde estive na semana passada, é outro, mas há mais casos", disse Ana Paula Martins.

A governante adiantou que as intervenções são necessárias para os doentes, “por uma questão de humanização”, mas também para que os circuitos “possam ser organizados da forma mais adequada”, uma vez que “a urgência é uma área difícil".

“A urgência não tem os circuitos adequados que precisamos para que os doentes sejam recebidos, triados, encaminhados e depois fiquem em observação o tempo que precisam. Não podem é ficar em corredores e, neste momento, estão em corredores, mas não é de agora, estão em corredores há muitos anos”.

Ana Paula Martins realçou que as obras permitirão também aos profissionais de saúde continuar a trabalhar em melhores condições e a prestar melhores cuidados.

“Não é possível termos instalações como temos e fazer o que se faz, apesar do esforço imenso, do sacrifício e abnegação das equipas, que é transversal a todo o SNS”, considerou.

Além do investimento na melhoria das infraestruturas, a ministra da Saúde disse que também faltam “alguns equipamentos” e que o Governo vai continuar a investir em TAC’s, ecógrafos, ressonâncias magnéticas e Imagiologia.

“Estamos a usar o PRR para isso e a privilegiar unidades de saúde, como a da Guarda, mas sobretudo no interior do país, que foram ficando para trás em áreas cirúrgicas, de diagnóstico e imagem, e que temos que conseguir compensar agora para recuperar o atraso de mais de duas décadas”, afirmou.

A ministra disse estar convencida que conseguiram “fazer por uma questão de pragmatismo, até de calendário”.

A governante acrescentou que é igualmente necessário atrair recursos humanos, o que pode ser “mais fácil” com obras e equipamentos nos serviços.

Mas ter urgências com melhores instalações e bem equipadas não basta, segundo Ana Paula Martins, também é preciso melhorar a articulação com os cuidados de saúde primários.

“A pergunta que faço é porque nos vêm parar tantos doentes verdes e azuis às urgências, aqueles que precisam de acompanhamento, tantos doentes de lares, que vêm aqui parar quando não precisavam, portanto, temos que organizar melhor os circuitos”, considerou.

A ministra recordou que as ULS integram cuidados de saúde primários e que é preciso funcionarem para triar a doença menos urgente.

“Melhorámos do ano passado para este, retirámos cerca de 40 por cento das urgências da doença aguda, considerada menos urgente, para atendimentos complementares nos cuidados de saúde primários, aquilo que chamamos consulta diferida”, revelou.

Segundo a governante, isso foi conseguido sobretudo através da Linha SOS 24, mas não pode ser só por essa via.

“Temos que ter respostas de proximidade e os centros de saúde, que, hoje, a maioria é modelo B, tenho a certeza que podemos melhorar muito a esse nível também e esse é o desafio que temos para os profissionais dos cuidados de saúde primários”, concluiu.

Ministra quer levar mais cuidados de saúde aos lares para evitar internamentos sociais

A ministra da Saúde disse ainda que é preciso levar os cuidados de saúde aos lares e às casas dos idosos para evitar que continuem a aumentar os internamentos sociais nos hospitais portugueses.

O jornal Público noticiou esta segunda-feira que o número de idosos internados, apesar de terem alta clínica, continua a aumentar e que as respostas da Segurança Social estão a cair para metade desde a pandemia, havendo 832 utentes nessas condições, no final de outubro, à espera de vaga numa estrutura residencial.

Ana Paula Martins começou por dizer que a situação não é nova, mas acrescentou que o Governo está a tentar solucionar o problema.

"Há muitos anos que temos muitos casos sociais, o diagnóstico está feito. O Governo, através da Saúde e da Segurança Social, está a procurar encontrar mais espaços, mais lugares, mais apoio domiciliário. Mas ainda há muito trabalho a fazer, nomeadamente com os lares, porque é preciso levar os cuidados aos lares para que os lares não tenham que trazer um idoso ao hospital", afirmou a governante.

Segundo Ana Paula Martins, “muitas vezes não é necessário tirar o idoso do conforto da sua casa ou do lar onde está, porque temos maneiras de chegar lá. Essa é uma aposta que temos de conseguir ganhar”.

No entanto, a ministra da Saúde ressalvou que isso “não se ganha num ano, nem em dois ou em três, porque a verdade é que temos uma situação muito frágil no âmbito dos cuidados de longa duração”.

Ana Paula Martins refutou também a ideia de que muitos projetos de Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI) tenham ficado na gaveta após os apoios do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) terem sido reduzidos para metade.

“O que aconteceu foi que existiam, estavam definidos quando foi feito o Plano de Recuperação e Resiliência, mas os atrasos nos avisos foram tantos e a taxa de execução era de cerca de 2%, agora está em cerca de 24, 25, 26%”, disse.

Para a governante, o que aconteceu foi que “algumas dessas entidades que assinaram protocolos chegaram à conclusão que não conseguiam concluir obra até agosto, que é quando terminamos, e, portanto, para não entrar numa situação de penalização acabaram por desistir”.

No entanto, Ana Paula Martins garantiu que esse financiamento do PRR para fazer requalificações de ERPI “em tempo útil” da Rede Nacional de Cuidados Continuados e integrados não está perdido.

“Temos algumas unidades a precisar de obras e uma grande parte desse investimento que se consegue fazer em nove meses vai ser feito”, assegurou.

A ministra da Saúde realçou também que são precisos recursos humanos “não só no Serviço Nacional de Saúde, mas no sistema de saúde como um todo”, adiantando que se está a “investir muito” nas equipas de cuidados domiciliários.

“Não é só um serviço para a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, é também para os cuidados paliativos e para a hospitalização domiciliária. Com a transformação em termos tecnológicos, com a monitorização à distância, conseguimos fazer quase tudo. Nada nos impede de, daqui a dois ou três anos, termos um panorama diferente”, admitiu a ministra.

No entanto, para Ana Paula Martins, uma coisa é certa: “Vamos ter que trabalhar mais rápido nos próximos cinco anos do que trabalharmos nos últimos 15 anos, sem dúvida”.

Segundo o Público, há casos extremos em que alguns idosos doentes aguardam há mais de quatro anos e muitos morrem antes da transferência.

O jornal refere que as admissões em lares através da Segurança Social revelam que de 2.175 em 2021 passaram para apenas 923 no ano passado, menos 38% face a 2023.

Em 2024, até 22 de outubro, registaram-se apenas 697 admissões. Lisboa, Porto e Setúbal são as regiões mais pressionadas, adianta o Público.

A falta de vagas (533 em todo o país ao abrigo da portaria que regula estes internamentos) está a bloquear camas hospitalares e a impedir internamentos programados, contribuindo para o congestionamento das urgências.

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