É professor na Universidade de Maryland, agora está em Portugal como Fulbrighter. Mesmo sendo a América um país altamente industrializado, e Portugal nem tanto, a situação dos oceanos, ou do Oceano Atlântico, é compartilhada pelos EUA e Portugal? Ou seja, a haver problemas, são problemas comuns aos dois países? Absolutamente, sim. Compartilhamos um oceano, somos os dois lados do Atlântico Norte, então o que está a acontecer no Atlântico Norte e nos oceanos ao redor do mundo está afetar todos os países, incluindo os Estados Unidos e Portugal. Particularmente com a mudança climática, o oceano está a mudar. E compreender isso é importante para todos, interessa a todos partilhar informação..Pode dar-me alguns exemplos de como as mudanças climáticas afetam o Atlântico Norte? Por exemplo, a subida do nível do mar, que todos já ouvimos, está a causar inundações devidas ao avanço do mar ao longo da costa em muitos países, incluindo os EUA e a Europa. Uma coisa que as pessoas podem, talvez, não perceber é que uma parte importante da circulação superficial do Atlântico Norte é a Corrente do Golfo, que está a desacelerar por causa das mudanças climáticas. Isso está, na verdade, a causar a aceleração da subida do nível do mar na costa leste dos Estados Unidos. Então, o que está a acontecer no Atlântico Norte, vai ter muito impacto em ambos os lados do Atlântico Norte, seja no lado americano seja no europeu..É possível dizer que há diferentes tipos de efeitos da mudança climática em diferentes oceanos? Por exemplo, quando se olha para o Oceano Índico, por ser muito diferente dos oceanos Atlântico e Pacífico porque não vai até ao Polo Norte? Ou quando se olha para o Oceano Pacífico, por ser imenso? É diferente, o impacto da mudança climática no Atlântico, no Índico, no Pacífico? Claro que há algumas diferenças entre o Atlântico Norte e o Pacífico Norte. Poderá ser um pouco técnico de mais para explicar, mas, por exemplo, há o que chamamos de circulação termoalina, e nisso os oceanos são diferentes entre si. Mas quando olhamos para o impacto do oceano em regiões costeiras há muitas semelhanças. Há impactos similares que os cientistas de diferentes países podem estudar e tentar aprender uns com os outros. E eu gostaria de destacar alguns deles. As pessoas estão familiarizadas com a forma como as mudanças climáticas e os oceanos em mudança afetam as inundações costeiras. Mas pode haver coisas que não se veem tão bem. Por exemplo, as mudanças climáticas e o aquecimento dos oceanos podem fazer com que os oceanos percam oxigénio. É o que chamamos de desoxigenação. E isso está a acontecer no oceano profundo. Isto para além das condições de hipoxia que sabemos que ocorrem com mais frequência em regiões costeiras e que se devem principalmente e historicamente à eutrofização. Despejamos muitos nutrientes nas águas, como por exemplo muitos dos fertilizantes que usamos para as plantações agrícolas. No entanto, nas últimas décadas, a mudança climática também tem contribuído para piorar a hipoxia nas regiões costeiras..Qual é já o impacto da perda de oxigénio do oceano em termos, por exemplo, dos peixes? Os peixes, assim como os humanos, precisam de oxigénio para sobreviver. Portanto, serão afetados. Têm que ir para outros lugares onde a concentração de oxigénio seja maior, ou sofrem com a falta de oxigénio. Desaparecem, de qualquer forma..Deixe-me perguntar um pouco sobre as regiões costeiras. Em Maryland o impacto da mudança climática é mais importante para as comunidades locais do que o da poluição industrial? O impacto aí é mais sobre a mudança climática em geral, ou também tem o impacto da população urbana, das fábricas? O que afeta mais os oceanos? Quer dizer a atividade humana?.Sim. Atividade humana direta. Está a afetar mais o litoral do que a mudança climática geral? Essa é uma pergunta muito boa. Acho que a atividade humana pode afetar o oceano de diferentes maneiras. Acabámos de mencionar que a atividade humana, a atividade de agricultura, o uso de fertilizantes, leva à entrada de muitos nutrientes no oceano e que isso pode causar eutrofização, e o oceano perde oxigénio por causa da respiração biológica e hipoxia. Mas a atividade humana, libertando dióxido de carbono para a atmosfera, causa aquecimento. Então, nas regiões costeiras onde as pessoas vivem, ambas as atividades humanas estão a contribuir para alterações no oceano..Se isso está a afetar todas as regiões do mundo, todos os oceanos, a única solução possível é algum tipo de cooperação internacional? Acho que temos que perceber que as pessoas têm que cooperar para controlar as emissões. E acho que há algumas ideias, ainda experimentais, tentando ver se podemos fazer algo para remover o dióxido de carbono do oceano e da atmosfera. Por exemplo, a remoção de dióxido de carbono marinho tornou-se recentemente num grande tópico de debate, tanto para a comunidade científica como para o público em geral. É hoje reconhecido que limitar ou reduzir as emissões de carbono pode não ser suficiente para controlar o aumento da temperatura para menos de 1,5 ou 2 graus. Temos, portanto, de fazer mais. A título de exemplo daquilo que se está a fazer, há o desenvolvimento de tecnologias para a remoção de dióxido de carbono do oceano. Nos Estados Unidos estamos a aumentar a alcalinidade das águas residuais com o objetivo de investigar se isso facilita a deposição do carbono no oceano..É professor nos EUA, cidadão americano, mas é originário da China. Acha que preocupação com a mudança climática hoje em dia é compartilhada por todos os países, sobretudo os grandes países? Acho que a maioria das pessoas reconhece que esse é um desafio que todos enfrentamos neste planeta e que temos de trabalhar juntos para resolver esse problema.Qual é o objetivo da sua investigação aqui em Portugal? Estou a tentar perceber como se originam e desenvolvem as proliferações de microalgas nocivas, pois certas espécies de microalgas produzem toxinas que se acumulam nos moluscos bivalves e os tornam impróprios para consumo humano. Tenho alguns trabalhos realizados sobre proliferações de microalgas nocivas nos EUA, tanto na Baía de Chesapeake como na costa oeste da Florida. Esta é uma ótima oportunidade para eu colaborar com alguns dos grandes cientistas do IPMA para tentar entender melhor esses fenómenos naturais que são as proliferações de microalgas nocivas, como elas produzem toxinas que podem afetar tanto os moluscos como os humanos..Vê semelhanças entre a Baía de Chesapeake e a foz do rio Tejo? Ambos são estuários. Há água doce de rios a montante e trocas abertas com o oceano. Mas sobre isso eu sei muito mais sobre a Baía de Cheseapeake do que sobre o rio Tejo. Espero que durante esta visita aprenda muito mais sobre o Tejo. Um dos problemas emergentes que afeta tanto a Baía de Chesapeake como o estuário do Tejo é a intrusão de água salgada mais para montante nos estuários e rios de maré devido à subida do nível do mar e à seca extrema. A intrusão de águas salgadas pode atingir zonas de captação de água para beber ou para irrigação na agricultura.