O grupo terrorista Movimento Armilar Lusitano (MAL), que está a ser investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Judiciária, tinha um elaborado sistema de recrutamento online através do qual buscava futuros membros, dando preferência a elementos das polícias e das Forças Armadas, apurou o DN. Este processo fazia parte de um empreendimento mais vasto, que incluía também o fabrico de armas com impressoras 3D e que tinha por objetivo preparar o grupo para os tempos apocalípticos em que iria pegar em armas contra a chamada Nova Ordem Mundial e seus alegados agentes. Nomeadamente, através da luta armada contra o sistema democrático e o sistema constitucional vigente. O MAL tem vários ódios de estimação, segundo as escutas telefónicas, incluindo Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e o almirante Gouveia e Melo, a quem alguns membros não perdoam o facto de ter liderado o processo de vacinação contra a pandemia de covid-19 e, ainda, o ter uma avó de origem judaica, segundo noticiou ontem o Correio da Manhã.Ao que o DN apurou, o Ministério Público concluiu, ainda, que o MAL se inspirou no movimento germânico Reichsbürger, que defende a tese da chamada soberania dos cidadãos e não reconhece legitimidade à República Federal Alemã. Recorde-se que, em 2022, as autoridades germânicas desmontaram um grupo terrorista constituído por adeptos deste movimento, que estava a preparar um golpe de Estado. O grupo em questão contava com membros das forças de segurança e tinha entre os seus líderes um membro de uma antiga família real alemã.Foi neste caldo, que junta adeptos de teorias da conspiração, negacionistas das vacinas e outros extremistas, que nasceu o MAL, em 2018. Ao longo dos anos seguintes, o grupo foi crescendo de forma discreta, até que, na passada terça-feira, 17 de junho, as autoridades detiveram seis elementos do MAL, em flagrante delito. Quatro foram indiciados pela prática, em coautoria, do crime de infrações relacionadas com grupo terrorista e dos crimes de fabrico e detenção de armas proibidas, com intenção terrorista. Um destes detidos é um chefe da PSP, Bruno N. G., em comissão de serviço na Polícia Municipal de Lisboa. Os restantes dois detidos, que são pais de dois dos outros arguidos, foram indiciados pela prática de crimes comuns de detenção de arma proibida.Grupo foi fundado em 2018, por um agente da PSP, um motorista emigrado na Suíça e uma segurança. E tinha processo estruturado de seleção e admissão..Extrema-direita violenta. PJ assume “surpresa” com a quantidade de material de guerra. Ao que o DN apurou, as autoridades concluíram que o MAL foi formado em 2018, numa data ainda não apurada, por três pessoas: Bruno C., motorista de pesados e emigrante na Suíça; Bruno N. G., agente da PSP colocado na Polícia Municipal de Lisboa; e Tatiana L., que trabalha como segurança privada. O objetivo dos fundadores, segundo as autoridades, foi criar um movimento que teria uma milícia armada, com a missão de defender Portugal das ameaças que coloquem em causa a sua existência. Desde o início que ficou claro, acredita o MP, que o objetivo era criar uma alternativa ao regime atual.O MP acredita que cabia a Bruno C. fazer avaliações de potenciais candidatos a membros online, procurando em grupos antissistema e negacionistas. Entrava em contacto com esses elementos e procurava descobrir qual o seu grau de revolta contra o sistema e se estavam dispostos a transformar o descontentamento em ações concretas. Se o candidato passasse no “teste”, passava de seguida a uma entrevista com Bruno G.. Era dada preferência a elementos das forças de segurança e das Forças Armadas. Se passassem no processo de seleção, eram depois admitidos em grupos restritos nas aplicações Telegram e Signal, onde mantinham contactos com os outros membros da organização secreta, que estava a formar células autónomas em vários pontos estratégicos do território nacional. O objetivo último era a eliminação, por meios violentos, do estado democrático de direito..Operação contra a extrema-direita. “Isto é tão perigoso. Nunca pensei ver isto em Portugal”.Intenção era deitar abaixo o regimeDe acordo com o comunicado do Ministério Público, os membros do MAL “agiram com intenção de perturbar e pôr em causa a segurança, o poder e as estruturas públicas e constitucionais”. As autoridades concluíram que este “grupo terrorista nacionalista, de extrema-direita, anti-imigração e antissistema, apoiado numa milícia armada com arsenal próprio, preconizava o recurso à violência ideologicamente motivada como necessária para enfrentar a imigração que considerava descontrolada e uma ameaça para Portugal e para os portugueses”. .Ficam em prisão preventiva quatro dos seis detidos do grupo extremista neonazi Movimento Armilar Lusitano