Menos testes do pezinho em ano de pandemia. Janeiro começa mal
Houve menos 1908 testes do pezinho em 2020 comparativamente com 2019, o que significa que nasceram menos crianças em Portugal. E o mês de janeiro de 2021 não traz melhores notícias sobre a taxa de natalidade. Há uma diminuição dos testes diários e também os médicos de família têm menos grávidas para acompanhar. O que significa que, se o ano passado foi mau para a demografia nacional, a pandemia pode agravar a situação.
O DN teve acesso aos dados do Programa Nacional de Rastreio Neonatal (PNRN) de 2020, vulgarmente denominados como "teste do pezinho". Foram referenciados 85 456 recém-nascidos, menos 1908 bebés do que em 2019 (87 364).
Significa isto que houve uma grande quebra de natalidade e que voltámos aos valores de 2015 (85 056),quando a taxa de natalidade aumentava depois de ter batido no fundo devido à crise de 2008, 2016 foi um bom ano, houve uma ligeira quebra em 2017, para aos mais de 87 mil em 2019. Portugal estava com um índice sintético de fecundidade (filhos por mulher em idade fértil) de 1,42, depois de ter atingido 1,21 em 2011.
Destaquedestaque8043 testes em janeiro
Os últimos registos indicam uma quebra de 2,2% no número de testes que diariamente chegam à Unidade de Rastreio Neonatal, Metabolismo e Genética, do Departamento de Genética Humana, no Porto, Instituto Ricardo Jorge.
Laura Vilarinho, a responsável pela unidade, aponta duas razões, e ambas têm a ver com a situação pandémica a nível global. "Realizaram-se menos testes do pezinho no ano passado, e, em janeiro, a nossa média diária tem sido abaixo do que era expectável. A dúvida é se há menos testes porque os pais têm medo de levar os bebés aos centros de saúde por causa da covid-19. Por outro lado, verificámos que há menos mães estrangeiras, o que significa não só que houve menos imigração como alguns terão regressado ao seu país."
As dúvidas serão totalmente tiradas quando o Instituto Nacional de Estatísticas publicar os dados dos nascimentos. Estatísticas feitas a partir dos registos das conservatórios e com valores idênticos aos do teste do pezinho. Em 2019, realizaram-se 87 364 testes e foram registadas 87 036 crianças. Destas, 12,6% (11 041) tinham mães estrangeiras
Destaquedestaque85 456
A diferença entre os números de registos e o dos rastreios é que o teste do pezinho se deve fazer entre o terceiro e o sexto dia. Ou seja, quem nasce a partir de 29 de dezembro só é registado no ano seguinte. Em 75% dos casos, as crianças não estão nas maternidades e os pais deslocam-se aos centros de saúde da área de residência.
No primeiro confinamento (em março de 2020), o Instituto Ricardo Jorge emitiu uma circular para que os hospitais realizassem o teste às crianças que estivessem na unidade no terceiro dia após o nascimento. Não sentiram necessidade de reforçar a indicação, uma vez que os centros se reorganizaram de forma a não haver cruzamento de doentes com covid-19.
Rui Nogueira, médico de família, refere que os pais continuam a ir aos centros de saúde. "A nossa preocupação não é tanto com a primeira consulta, em que se faz o teste do pezinho, mas em realizar as consultas subsequentes, nos dois primeiros anos de vida. A pandemia não nos deve fazer esquecer que existe o Plano Nacional de Vacinação."
Destaquedestaque25 015 testes em Lisboa
O que está a notar é uma diminuição no número de grávidas e que isso resultará da pandemia. "Ainda não se veem muito os efeitos em 2020, mas acredito que irão nascer ainda menos crianças neste ano. As pessoas são responsáveis e, numa situação em que perdem ou temem perder o emprego, adiam ter filhos", explica o médico.
O primeiro caso de infeção com SARS-CoV-2 em Portugal foi divulgado a 2 de março de 2020 e, duas semanas depois, o país entrou em confinamento. As contas que os especialistas fazem dos "bebé da pandemia" indicam que o mês de dezembro é o primeiro indicador dos efeitos da crise sanitária na natalidade.
Em dezembro, realizaram-se 7082 testes do pezinho, uma média diária inferior aos outros 11 meses (descontando fevereiro, que tem menos dias). Ainda assim, foram mais do que os realizados no mesmo mês em 2019, 2018 e 2017. Mas em janeiro realizaram-se 8043 testes, o recorde do ano. Novembro será o mês com menos bebés.