Um menino de 13 anos, que estava no grupo de extrema-direita no 25 de Abril, foi identificado pela Polícia de Segurança Pública (PSP) como uma das pessoas que agrediram manifestantes do grupo contrário, sabe o DN. Este é um dos oito indivíduos já identificados pela PSP na sequência dos confrontos da passada sexta-feira no Largo de São Domingos, em Lisboa. A PSP acredita que a criança foi levado à manifestação não autorizada pelo pai ou outro responsável adulto.O facto de um adolescente estar entre os radicais demonstra na prática um dos alertas sobre a extrema-direita retirados do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) do ano passado. “Em ambiente digital, continua a verificar-se uma proliferação dos canais de conversação, cada vez mais diversificados e sofisticados, que incluem as plataformas de jogos online, e dos grupos de partilha de conteúdos, que promovem a difusão em massa de conteúdos extremistas e facilitam os processos de recrutamento e (auto)radicalização. As plataformas online têm sido o palco privilegiado de atuação dos movimentos descentralizados de extrema-direita de matriz aceleracionista e/ou satânica, onde, através de uma cultura de comunicação através de memes, recrutam e radicalizam indivíduos cada vez mais jovens, muitos deles com idades inferiores a 16 anos. A evolução deste fenómeno nos últimos anos impõe que ameaça representada por eventuais atores solitários de extrema-direita, sobretudo menores de idade, não possa ser desprezada”, lê-se na chamada “versão de trabalho” do documento, à qual o DN teve acesso..Extrema-direita ignora parecer da PSP e avança com ato no Martim Moniz.O DN sabe que o grupo 1143 tem recrutado menores de idade, especialmente nas redes sociais. De acordo com conversa no antigo chat do Telegram do 1143, Mário Machado celebrou, no ano passado, que um adolescente mentiu aos pais e reuniu-se com o grupo para participar na designada “ação de ativismo” em Lisboa, que consiste na colagem de autocolantes com mensagens xenófobas em paredes da cidade.A identificação deste adolescente, que aparece a dar pontapés num dos manifestantes contrários, foi realizada a partir de um minucioso trabalho realizado pela PSP na análise das imagens daquela tarde. E imagens não faltam: vários canais de televisão estavam a transmitir em direto a situação, bem como filmagens de outros jornalistas. Além disto, a própria PSP filmou toda a ação, cujas imagens estão agora a ser usadas pela investigação.Pelas imagens também foi possível identificar Jorge Bento, o homem que estava infiltrado entre os manifestantes defensores do 25 de Abril. Várias filmagens, inclusive uma realizada pelo DN, mostram que Bento estava a gritar as frases de ordem contrárias ao grupo 1143 e o Ergue-te, quando começou a agredir, pelas costas, os manifestantes, incluindo mulheres.Este foi o tiro de partida para rixas generalizadas entre os grupos, cujo resultado foi ter deixado dois polícias feridos, além de um repórter de imagem e um cidadão que passava pelo local naquele exato momento. João Bento é uma conhecida figura do 1143 e amigo de Mário Machado. Está sempre presente nas grandes manifestações do grupo e participa de ações como a distribuição em caixas de correio de panfletos com desinformação sobre imigrantes, retratando-os como invasores..Oito pessoas identificadas. "Quem convive mal com a tolerância não é digno do 25 de Abril, diz Montenegro.Outros dois identificados e detidos são conhecidos. Um deles o militante neonazi Mário Machado, líder do 1143 e condenado a uma pena efetiva de que já não pode recorrer, mas que ainda não se entregou às autoridades. O DN tentou saber informações com o advogado que o defende, José Manuel de Castro, mas não obteve resposta. Esta não será a primeira vez que Mário Machado vai para a cadeia. O neonazi, conhecido pelo comportamento violento, já cumpriu pena por discriminação racial, coação agravada, posse de arma ilegal, ameaça e dano e ofensa à integridade física qualificada.O outro detido é o ex-juiz Rui da Fonseca e Castro, atual líder do partido Ergue-te (antigo PNR) e conhecido por posições negacionistas na pandemia de Covid-19. Castro foi expulso da magistratura, mas continua a atuar como advogado. O terceiro detido é integrante dos grupos extremistas liderados por Machado e o ex-juiz, que tem se aproximado recentemente. No entanto, em relação ao voto, o DN sabe que os participantes dos movimentos estão divididos entre apoios ao Ergue-te e o Chega. Entre os oito identificados está também um manifestante do grupo antifascista. Esta segunda-feira, às 10h00, devem apresentar-se voluntariamente no Campus de Justiça os três detidos para serem ouvidos em processo sumário no tribunal.amanda.lima@dn.ptvalentina.marcelino@dn.pt.Grupos de ódio mobilizaram campanha do Chega e "preparam o terreno" para que partido tome ações mais radicais.Largo de São Domingos passou do clima de confronto para o de 25 de Abril após saída de manifestantes