Médicos alertam que cuidados nas urgências de Santa Maria vão ficar em risco
Alertam que "a degradação das condições de trabalho", "o número excessivo de horas extraordinárias, equipas subdimensionadas para o trabalho prestado" e a realização de trabalho fora do âmbito da sua especialidade "compromete uma adequada e segura prestação de cuidados de saúde aos doentes na urgência".
Chefes de urgência, assistentes e internos do Departamento de Cirurgia do Centro Hospitalar Lisboa Norte alertaram esta terça-feira que em dezembro a prestação de cuidados de saúde nas urgências pode estar em causa por falta de médicos.
Relacionados
O alerta dos chefes de equipa de urgência, dos assistentes hospitalares e internos da formação específica da especialidade de Cirurgia Geral do Departamento de Cirurgia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) é feito numa nota de esclarecimento enviada à Ordem dos Médicos e ao Sindicato Independente dos Médicos (SIM), a que a Lusa teve acesso.
No documento, os médicos esclarecem as suas posições das últimas semanas, como a indisponibilidade para realização de horas extraordinárias, demissão dos cargos de chefia de equipas de urgência, e invocação de exclusão de responsabilidade disciplinar face "ao funcionamento anómalo do Serviço de Urgência Central".
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Os especialistas afirmam que "a degradação das condições de trabalho" neste serviço, "o número excessivo de horas extraordinárias, equipas subdimensionadas para o trabalho prestado" e a realização de trabalho fora do âmbito da sua especialidade "compromete uma adequada e segura prestação de cuidados de saúde aos doentes na urgência".
Compromete também "a atividade assistencial não urgente, a formação contínua dos médicos do Departamento de Cirurgia, com exaustão do presente quadro clínico do serviço", sustentam.
"Esta situação, há muito previsível, foi continuadamente reportada ao longo dos anos, seguindo a hierarquia institucional, sem que tenham sido concretizadas respostas com impacto na prática clínica, por parte da tutela", afirmam.
No documento, os médicos detalham o que aconteceu desde 21 de outubro, dia em que os assistentes hospitalares informaram formalmente a direção de departamento e a direção clínica da sua indisponibilidade para continuar a fazer horas extraordinárias, além das previstas por lei, "já em muito ultrapassadas nesta data".
A 10 de novembro, os chefes de equipa de cirurgia solidários com as questões levantadas, e na ausência de qualquer resposta por parte da direção clínica, apresentaram a demissão do seu cargo, que formalizaram 12 dias depois, pedindo recusa de horas extraordinárias e dispensa de obrigação de prestar Serviço de Urgência, ao abrigo da legislação em vigor, por terem ultrapassado o limite de idade.
"No dia 24 de novembro de 2021 e perante a manutenção dos problemas identificados, também os internos de formação específica decidiram recusar a realização de horas extraordinárias", salientam no documento.
Os médicos afirmam que, à data, decorreram diversas reuniões com os órgãos de administração hospitalar, mas que a maior parte das questões expostas continuam sem resolução.
Tendo em conta esta situação, os médicos alertam que, a partir de dezembro "não estão assegurados critérios para constituição de equipas de Urgência Externa no CHULN que garantam o atendimento dos doentes sem risco de ofensa direta à 'legis artis' e sem produção, embora involuntária, de eventuais danos aos doentes a cargo desta instituição".
Na segunda-feira, o Sindicato dos Médicos da Zona Sul alertou para a inexistência de escala médica para as urgências do Hospital de Santa Maria a partir de 01 de dezembro, mas a administração garantiu o habitual funcionamento.