Mais de nove em cada dez centros de saúde não têm profissionais dedicados especialmente às demências, segundo um inquérito feito às unidades de cuidados de saúde primários a nível nacional..Os dados constam do documento "Bases para a Definição de Políticas Públicas na Área das Demências", que esteve em consulta pública até sexta-feira e que pretende apresentar propostas para uma estratégia que enquadre os cuidados a prestar às pessoas com demência..No inquérito feito nos cuidados primários de saúde foram recebidas mais de 670 respostas de várias unidades de 55 agrupamentos de centros de saúde..Dessas respostas conclui-se que 91,6% das unidades não tem, nas equipas, elementos dedicados especialmente às demências, sendo que e 2,5% das unidades não responderam.."Este dado sugere a premência de envolver mais diretamente os cuidados de saúde primários nesta área clínica", referem os autores do documento, coordenado por António Leuschner e por Manuel Lopes..Em declarações à agência Lusa, António Leuschner, do Conselho Nacional de Saúde Mental, destacou precisamente a necessidade de dar mais formação aos profissionais de saúde e também aos profissionais que lidam com idosos institucionalizados, como os que vivem em lares..A necessidade de reforçar os cuidados de saúde primários é um dos pontos prioritários identificados pelos peritos, a par da colaboração entre centros de saúde e cuidados hospitalares.."Existe ainda necessidade de dotar os profissionais de saúde e do setor social de conhecimentos sobre défice cognitivo e demências", indicam os especialistas que elaboraram as bases para uma política na área das demências..É ainda aconselhado que os currículos do ensino superior pré e pós-graduado dos profissionais de saúde e do setor social incluam temas associados à demência.."O percurso de cuidados deve ser coordenado, considerando o doente integrado no seu meio familiar como centro de cuidados, complementado com o apoio informal possível e desejável", refere o documento, que esteve um mês em consulta pública..Os peritos consideram ainda que há "muito poucas" respostas sociais a nível nacional que tenham acordos de cooperação em vigor com o Instituto de Segurança Social e intervenção especializada na prestação de cuidados a pessoas com demência..Foram identificados um lar e quatro centros de dia da Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer com cuidados especializados. Em 2013 foi criada uma unidade de cuidados continuados em Fátima, da iniciativa das Misericórdias e que é destinada a pessoas com demência..Como recomendações essenciais, o psiquiatra António Leuscnher destaca a necessidade de se elaborar um plano ou estratégia para as demências em Portugal, embora o importante não seja nem o nome nem a designação que lhe é dada.."Estou mais preocupado com o facto de haver efetivamente respostas concretas às pessoas e famílias que precisam de cuidados e de atenção especial e que têm muitas vezes de correr 'Ceca e Meca'", afirmou à Lusa..Esse plano nacional terá de ser necessariamente ajustado às realidades regionais, com António Leuscnher a exemplificar que as necessidades de Castelo Branco, a região mais envelhecida do país, são diferentes das de Braga, o "distrito mais jovem"..Mais de 80 especialistas mundiais em doenças neurodegenerativas vão estar na próxima semana na Fundação Champalimaud, em Lisboa, a debater a doença de Alzheimer, a mais prevalente entre as demências..O encontro tem como objetivo discutir e partilhar os recentes progressos em duas áreas: a da intervenção terapêutica e a área de investigação..As fundações Champalimaud e Rainha Sofia participam na organização do encontro, que contará com a presença da Rainha Sofia de Espanha, com o Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, com o comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação, Carlos Moedas, com o diretor de saúde mental da Organização Mundial da Saúde, Shekkar Saxena, e com a presidente da Champalimaud, Leonor Beleza.