O serviço de saúde da Região Autónoma da Madeira é um exemplo para o seu congénere do continente no que diz respeito aos rácios de enfermeiros e de clínicos de medicina geral e familiar por mil habitantes. Do lado oposto estão os médicos especialistas e internos, com mais presença no Serviço Nacional de Saúde (SNS) do que no Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira (SSRAM). E confirma-se que já desde 2020 as regiões de Lisboa e Vale do Tejo e do Alentejo apresentavam as maiores dificuldades na resposta à pressão sentida na saúde.Estes são alguns dos pontos em destaque no trabalho intitulado A força de trabalho do SNS e do Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira: análise comparativa, onde são deixados alguns alertas. “Do ponto de vista da política pública, os resultados apontam para a necessidade de medidas e ações orientadas para a redução das assimetrias territoriais. Tal implica investir na expansão da formação especializada nas regiões mais carenciadas, reforçar, diferenciadamente, os mecanismos de contratação e apostar na retenção de profissionais considerando as especificidades regionais, desenvolvendo pacotes de incentivos diferenciados que favoreçam a fixação de profissionais de saúde em regiões mais carenciadas, como o Alentejo e Lisboa e Vale do Tejo”, pode ler-se no documento de quatro dezenas de páginas.Nesta análise, divulgada ontem pelo Centro de Planeamento e de Avaliação de Políticas Públicas (PLANAPP), apresenta-se um diagnóstico comparativo dos dois sistemas e em dois períodos específicos: 2020 a 2022, no que concerne ao número total de profissionais de saúde do SSRAM e a sua desagregação por grupo profissional; e 2017 até 2022, sobre grupos profissionais específicos do SSRAM, nomeadamente o dos médicos especialistas, o dos médicos internos, e o dos enfermeiros. Dados que permitiram a análise comparativa com os mesmos grupos no SNS.Neste trabalho ficam demonstradas as diferenças entre os dois sistemas concluindo-se que a região autónoma “mantém uma posição significativamente mais favorável [no que diz respeito ao número total de profissionais no setor], servindo como um eventual modelo que pode ser explorado para otimizar a alocação de recursos humanos nas restantes regiões. Este nível comparativamente elevado de densidade merece investigação quanto aos grupos profissionais que o explicam e aprofundamento das estratégias que garantem uma elevada proporção relativa de profissionais em relação à população residente na RAM, face à realidade do SNS continental”.De acordo com os dados apresentados, os dois sistemas de saúde registaram um aumento de profissionais entre 2020 e 2022 e com uma percentagem idêntica: 3,95% no caso do SSRAM (5566 para 5786) e 3,79% no continente (145.675 para 151.193). Ou seja, no primeiro caso em 2020 existiam no primeiro ano do estudo 22,09 profissionais por mil habitantes, aumentando para 22,97 em 2021 e reduzindo ligeiramente para 22,77 em 2022. Já o SNS apresentou densidades mais modestas. Em 2020, o rácio era de 14,54 profissionais por mil habitantes, subindo para 15,06 em 2021 e atingindo 15,27 em 2022.Madeira necessita de formar médicosA Região Autónoma da Madeira apresenta dados positivos na evolução dos médicos internos entre 2017 e 2022 com uma variação global, segundo o documento divulgado esta terça-feira, de 24,71% e uma taxa média anual de 4,53%. Por comparação, no SNS este crescimento foi mais moderado: variação global de 10,43% e uma taxa média anual foi de 2%.No que diz respeito aos enfermeiros no SSRAM, o número aumentou de 1730 em 2017 para 1968 em 2022. No SNS o crescimento foi mais expressivo, com o número total de enfermeiros a passar de 41.563 em 2017 para 50.962 em 2022. Por regiões, o Norte foi aquela com mais profissionais contratados.Um dos pontos destacados no trabalho foi o facto de a SSRAM ter apresentado um crescimento estável de médicos internos, o que leva os autores do documento a frisar que a Madeira “ainda permanece aquém da generalidade das ARS do continente”. Uma situação que poderá “indicar limitações na infraestrutura de formação médica (idoneidades formativas) ou na oferta de incentivos para atrair internos para a região. A contínua necessidade de expandir a presença de médicos internos é crítica para garantir a renovação da força de trabalho médica e reduzir a dependência de médicos formados noutras regiões ou no estrangeiro”.Neste ponto em particular, o destaque positivo vai para a região Centro onde “o rácio aumentou de 1,04‰ em 2017 para 1,12‰ em 2022, uma evolução positiva e constante. Este valor elevado pode ser atribuído à infraestrutura hospitalar e de ensino presente na região, além de uma boa capacidade de absorção dos internos nos diferentes serviços de saúde”.As dificuldades com médicos de medicina geral e familiarUm ponto em que a Madeira surge em destaque é na disponibilidade de médicos de Medicina Geral e Familiar, com a densidade a passar de 0,51% médicos de MGF por 1000 habitantes em 2017 para 0,68% em 2022, correspondendo a um aumento de 33,3%. Em 2022, a Madeira, a par das regiões Norte e Centro, registava um dos melhores rácios, contrastando com a escassez observada em Lisboa e Vale do Tejo e no Alentejo – uma questão que continua a marcar o setor..Cerca de 40% dos centros de saúde reportam falta de profissionais e nove em 10 tem falta de material básico.Cuidados de saúde primários. Falta de profissionais e morosidade na contratação são "desafios críticos"