Diminuição da criminalidade em Lisboa. "Vou continuar a lutar por mais polícia", defende Moedas
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa reagiu à notícia do DN desta terça-feira que dá conta de que a criminalidade na capital registou a segunda maior descida em 10 anos. Carlos Moedas diz que os números, ainda provisórios, que constam no artigo "são uma boa notícia para a cidade", mas alega que os crimes "têm um grau de violência diferente". Diz que continua preocupado e que vai continuar a lutar por mais polícia na capital.
"Se estes números se confirmarem são uma boa notícia para a cidade", disse o autarca numa primeira reação à notícia que faz a manchete da edição desta sexta-feira do DN, agradecendo "à PSP e à Polícia Municipal pelo trabalho que têm feito em conjunto".
Afirmando que quer esperar pela confirmação dos números no Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), Moedas disse que analisou os dados oficiais da PSP que constam na notícia do DN ao referir que a mesma tem números que o "deixam também preocupado".
"É bom saber que a média baixou, mas quando olhamos para a notícia e vemos, por exemplo, algumas freguesias.... O caso de Santa Maria Maior que, em 2023, apresenta o maior valor da década", disse o autarca, referindo ainda Marvila e Parque das Nações, em que "os números quase que duplicaram numa década". "Ou seja, ao terem descido entre 2023 e 2024 não nos podem deixar descansados, ainda há muito trabalho por fazer e há uma preocupação", considerou.
E justificou a sua posição ao enumerar crimes que têm sido noticiados. "Temos que ver o que se está a passar na cidade. Na semana passada reportaram, pelo menos as notícias assim o fizeram, que eu saiba, quatro alegadas violações. Nós tivemos um triplo homicídio à queima roupa ao pé de Santa Apolónia", indicou Moedas.
Questionado sobre se teve um discurso alarmista sobre criminalidade e perceção de insegurança na capital, Moedas respondeu que falou nos "crimes e na maneira como são praticados" e que "não estava a falar do número, se foram mais ou menos".
A notícia do DN, com base em dados oficiais da PSP, dá conta que a criminalidade geral participada no concelho de Lisboa caiu 12,6% em 2024, mas também a criminalidade violenta e grave diminuiu 10,4%.
O autarca assinala esse facto. "A criminalidade violenta que está ali naqueles números parece ter diminuído, vamos ver a confirmação no RASI, mas a maneira... as armas brancas...", disse, referindo que, muitas vezes, há "assaltos à mão armada para roubar um relógio, assaltos que muitas vezes não são sequer reportados à polícia, as pessoas têm medo".
"Aquilo que dizia é que Lisboa é uma cidade segura, repeti-o várias vezes mas não podemos descurar", acrescentou para depois sublinhar: "não é por esta notícia que nós não temos de dizer que precisamos de mais Polícia de Segurança Publica em Lisboa".
"Eu insisto que os crimes que são praticados nesta cidade, neste momento, têm um grau de violência diferente. Assaltar uma pessoa para roubar um relógio com uma arma à cabeça da pessoa não é normal e nunca tinha acontecido em Lisboa, ter casos como estas violações também não é normal. Quando há um triplo de homicídio e nós vemos aquilo que se passa na cidade, que nunca tinha acontecido, também não é normal".
Estes dados agora revelados, apesar de mostrarem uma diminuição da criminalidade em Lisboa, são encarados com "preocupação contínua" pelo autarca.
Moedas reitera. "Eu disse sempre que a maneira como os crimes eram praticados era mais violenta". Mas a criminalidade violenta também diminuiu, como refere a notícia do DN. "Os números oficiais de 2023 eram esses", justifica Moedas as suas declarações, indicando que ainda não tem dados oficiais do ano passado.
"Não podemos ter como desculpa ter esta notícia e ter estes números e dizer que não precisamos de mais polícia em Lisboa. Eu vou continuar a lutar por mais polícia em Lisboa", garantiu o autarca. "Sou eu que estou nos bairros, sou eu que tenho as pessoas que, hoje, na Avenida de Liberdade, algumas que trabalham no comércio, têm medo de sair à noite, o que não acontecia há tantos anos", refere. "Há crimes de mão armada com facas, tudo aquilo que não acontecia na cidade, isso está a acontecer... pode até ser em menor número de crimes", acrescentou.
Moedas voltou a referir os "relatos de quatro violações" na semana passada no centro da cidade. "Porque é que isso está a acontecer? Como é que acontece um triplo homicídio à queima roupa em Lisboa? Como é que acontecem estes casos de roubos violentos?", questiona Moedas.
"A questão é que pode ou não haver crimes numa certa zona da cidade. Eu sou engenheiro, sou técnico, estamos a falar de uma média. A média é um número. Falem com o presidente da junta de freguesia de Santa Maria Maior. Aquilo que eu digo é que precisamos de mais PSP e precisamos da polícia municipal a poder fazer detenções. Eu mantenho os meus pedidos", afirmou Moedas, falando com base na sua "vivência da cidade", que lhe dá "casos concretos".
"Uma coisa são os números e a média. Outra coisa são os casos concretos", vincou o autarca, indicando casos "de pessoas que acabam por não reportar o crime". "Pessoas que são atacadas e que depois não vão à polícia. Ora isso não está nas estatísticas", defendeu o presidente da Câmara de Lisboa.
"Nós podemos ter 10 crimes e baixar para oito crimes, mas a maneira como eles são praticados é completamente diferente do que era há cinco anos nesta cidade", enfatizou o autarca, dizendo que não tem de se retratar "sobre nada". "Quem tem de se retratar é quem não quer reconhecer a realidade daquilo que são crimes praticados de forma mais violenta", considerou.
Ainda assim, Moedas voltou a destacar que estes dados, "a confirmarem-se", "são uma excelente notícia para a cidade". "Estamos a fazer um bom trabalho e, pelos vistos, esse trabalho, segundo estes números, está a dar bom resultado".
Os números totais “ainda estão a ser consolidados” para serem apresentados em março no RASI, mas os dados provisórios dados pela PSP indicam que a descida de 12,6% na criminalidade geral participada no concelho de Lisboa corresponde a um valor absoluto de pouco mais de 28 mil crimes (28 147) participado em 2024 no município. Um valor só superado pelos dois anos da pandemia, 2020 e 2021.
A tendência de descida também foi registada na área coberta pelo Comando Metropolitano de Lisboa da PSP (COMETLIS), que inclui todos os concelhos do distrito, com menos 8,9% de crimes, dos quais os violentos com menos 1,4%.