A criminalidade geral participada à PSP no concelho de Lisboa caiu 12,6% em 2024 e a criminalidade violenta e grave diminuiu 10,4%, de acordo com dados desta força de segurança facultados em exclusivo ao DN. A mesma tendência de descida foi registada na área coberta pelo Comando Metropolitano de Lisboa da PSP (COMETLIS), que inclui todos os concelhos do distrito, com menos 8,9% de crimes, dos quais os violentos com menos 1,4%. Embora não tenham sido cedidos os números totais, com a justificação de que “ainda estão a ser consolidados” para serem apresentados em março em sede do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), a descida de 12,6% corresponde a um valor absoluto de pouco mais de 28 mil crimes (28 147) no concelho.Comparando com os valores publicados pela Direção-Geral de Políticas de Justiça (DGPJ) e com a evolução percentual dos últimos 10 anos, é possível concluir que em 2024 a criminalidade em Lisboa registou a segunda maior redução desde 2014. .O número total de crimes participados à PSP no ano passado foi o terceiro mais baixo desde 2014: apenas 2020, com 23 638, e 2021, com 24691, foram inferiores.. Só em 2020, em plena pandemia, o decréscimo foi mais elevado (-27%). O número total de crimes participados à PSP no ano passado foi o terceiro mais baixo desde 2014: apenas 2020, com 23 638, e 2021, com 24691, foram inferiores. Quanto à descida da criminalidade violenta e grave, tendo em conta que esta força de segurança 95% das o ocorrências da capital, comparando com os dados do RASI do mesmo período (que inclui também alguns crimes participados e investigados por outras polícias), é apenas possível fazer a comparação com os crimes participados em todo o COMETLIS. Assim, a queda de 1,4% corresponde a uma estabilização da criminalidade, com o número absoluto a ficar por cerca de 5000 crimes em 2024, só menor, mais uma vez, em 2020 e 2021. .Estes dados estão em sentido oposto à perceção que tem sido expressa por alguns políticos, incluindo o presidente da Câmara Municipal, Carlos Moedas.. Estes dados estão contrariam a perceção que tem sido expressa por alguns políticos, incluindo o presidente da Câmara Municipal, Carlos Moedas. “As pessoas na política em geral não têm noção do que está a acontecer na cidade. Há uma preocupação genuína, porque hoje há crimes mais violentos na cidade e as pessoas estão preocupadas”, assinalou o autarca em entrevista ao DN no início do mês. No mesmo contexto, que ocorreu já depois da controversa operação da PSP no Martim Moniz, Moedas sublinhou que não estava “só a falar” dessa zona, “mas da cidade em geral, daquilo que” lhe era “reportado”, pedindo mais meios para a Polícia Municipal.“Os dados não correspondem à perceção de insegurança”Estas declarações foram feitas já mês e meio depois de o comandante do COMETLIS, superintendente Luís Elias, ter anunciado na cerimónia comemorativa dos 157º deste comando, que “ao comparar os primeiros 10 meses de 2023 e de 2024, a criminalidade geral na área do Comando Metropolitano de Lisboa diminui 9,4%” e a “criminalidade violenta e grave decresceu também ligeiramente cerca de 0,2%, o que representa uma estagnação”. E concluía: “os dados estatísticos sobre a criminalidade registada não são assim correspondentes ao sentimento de insegurança difundido na redes sociais e em certos setores da opinião publica”.Os números totais de 2024 aqui revelados, vêm reforçar a tendência que já tinha apresentado em novembro.Será necessária uma análise mais fina da criminalidade, por tipo de crimes, para tirar conclusões exatas sobre o que influenciou mais esta evolução. No concelho de Lisboa, os 10 crimes mais participados têm-se mantido, com algumas oscilações, estáveis nos últimos 10 anos aqui verificados (ver gráfico). . O primeiro é a burla informática, seguido do furto por carteirista, de outras burlas, de furtos em lojas, de furto em veículos, da violência doméstica, das agressões simples, dos furtos de oportunidade / objetos não guardados, dos roubos na via pública sem esticão e da condução com taxa de álcool superior a 1,2 gramas por litro de sangue.Em 2024, de acordo com informação recolhida pelo DN junto a fontes da PSP que estão na posse das estatísticas, o padrão não se terá alterado, mas salientam alguma notas: “terá contribuído para a descida da criminalidade geral, uma descida significativa de participações dos crimes de condução sob efeito do álcool, no primeiro semestre do ano, provavelmente devido a uma menor proatividade policial; na criminalidade violenta, devido a um apertar de malha a partir do segundo semestre, com mais operações e maior visibilidade policial houve menos roubos na via pública e menos ofensas à integridade física com armas brancas”. .A divisão com mais crimes participados é a 3ª, que abrange grandes freguesias como a de Benfica, a do Lumiar e a de Carnide: 7 491 em 2023, o maior número desde 2017 e o terceiro maior desde 2014.. Olhando para a evolução da criminalidade nas várias freguesias da cidade desde 2014, com informação disponível das divisões da PSP (ver mapa), é possível constatar, através dos dados da DGPJ que é a divisão com mais crimes participados é a 3ª, que abrange grandes freguesias como a de Benfica, a do Lumiar e a de Carnide: 7 491 em 2023, o maior número desde 2017 e o terceiro maior desde 2014. . A área da 1ª Divisão - integrando as freguesias de toda a zona da baixa, como Santa Maria Maior (na qual se situa o Martim Moniz), vem a seguir, com 5994 crimes participados à PSP, o valor mais elevado em 10 anos. Em terceiro lugar está a 2ª Divisão, com responsabilidade da segurança em freguesias como Olivais, Marvila e Alto Pina, com 5 501 crimes registados em 2023, igualmente o número maior numa década. De seguida, a 4ª Divisão, com freguesias como a de Alcântara, a de Campo de Ourique, Ajuda e Estrela, contabilizou 3 766 crimes, também o número mais elevado dos últimos 10 anos. Finalmente, a 5ª Divisão, com as Avenidas Novas, Beato e Penha de França, entre outras freguesias, com 3101 crimes participados, o maior número desde 2018 , mas o menor de entre os anos anteriores. De todas as zonas, foi a da 2ª divisão que mais aumentou: entre 2014 passou de 3130 crimes participados para 5501, mais 75%.Reorganização das esquadras ainda na gavetaDesde 2014 que foi decidida uma reorganização do dispositivo da PSP na cidade, que prevê o encerramento de algumas esquadras e adaptações operacionais do dispositivo, de forma a dar mais visibilidade à polícia nas ruas e proporcionar à população um reforçado sentimento de segurança. Nesse ano, era António Costa presidente da Câmara de Lisboa e Passos Coelho primeiro-ministro. Chegaram a acordo e o plano foi aprovado pela autarquia, depois de muitas horas de debate, envolvendo presidentes das juntas de freguesia, negociações, cedências de todas as partes, com metas definidas. A estimativa era que, em resultado da reorganização, haveria quase mais 300 polícias disponíveis para patrulhar as ruas da cidade.As premissas que então inspiraram o acordo inédito mantêm-se atuais: “Reforço da presença e da visibilidade de polícias nas ruas”, “redução do sentimento de insegurança do cidadão”, “acréscimo da componente preventiva e reativa, através de uma gestão otimizada dos recursos operacionais disponíveis”, “melhoria das condições de atendimento ao público, em especial das vítimas de crime”, “melhoria das condições de trabalho dos polícias, através da recuperação e/ou reinstalação gradual das esquadras mais degradadas e reforço da mobilidade através de mais e melhores meios”, “a potenciação da eficácia policial e estreitamento do relacionamento com as autoridades locais”, a “racionalização dos recursos humanos e materiais, por via da adequação dos mesmos às necessidades locais de segurança, aumentando a eficácia e eficiência operacional” .Contudo, o plano nunca chegou a sair da gaveta. A atual ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, prometeu, logo a seguir a ter tomado posse, em abril do ano passado, voltar a revisitar o processo e executar uma reorganização de todo o dispositivo da PSP.