O projeto foi crescendo aos poucos e à medida que os Serviços Sociais da Câmara Municipal de Lisboa (SSCML), criados em 1941, também faziam o seu percurso na área da saúde. Começaram com a criação de uma rede de cuidados só para os trabalhadores e para os seus familiares, depois passaram aos acordos com outros subsistemas de saúde, como ADSE ou o da GNR, e por fim chegaram aos acordos com as seguradoras. Hoje, além dos utentes diretos têm também os utentes associados e os do próprio Serviço Nacional de Saúde (SNS). .A partir daqui, olhar para o futuro significava criar condições para uma resposta ainda mais complementar. E é isso que vai nascer em Lisboa, no edifíciona Av. Afonso Costa, desde 2008, no Areeiro. Com 18 mil metros quadrados, dividido em 11 mil abaixo do solo, para três parqueamentos, e sete mil acima do solo, reservados à área médica e serviços administrativos, os SSCML - que já incorporam 120 profissionais da Saúde, dos quais 82 médicos a prestar cuidados em mais de 40 áreas médicas e exames de diagnóstico, desde consultas programadas à Medicina Física e Reabilitação até ao acompanhamento em Saúde Mental, para adultos e infanto-juvenil - vão receber, em 2025, uma nova unidade hospitalar e um Serviço de Atendimento Permanente (urgência básica”. Mas já a 16 de setembro será inaugurada uma nova unidade de Endoscopia Digestiva e reaberta a Unidade de Cirurgia Ambulatória. .O diretor clínico dos SSCML, Rui Julião, diz que o projeto que stá a se levado para a frente pretende complementar o SNS e "potenciar o acesso" a quem não tem..Na prestação de cuidados, os SSCML, nos quais está integrada a componente Saúde, já têm projetos no terreno a dar uma resposta mais próxima da comunidade, nomeadamente através de duas clínicas instaladas no Bairro do Armador, em Marvila, e no Bairro da Alta de Lisboa. O diretor clínico dos SSCML, Rui Julião, explica ao DN que estas clínicas incorporam consultas de medicina geral e familiar e de nutrição e que o objetivo é dar resposta a quem não tem médicos de família ou que tem mas com difícil acesso. E até agora, “os resultados têm sido excelentes”. “A população aceitou muito bem estes serviços e já os está a usar de forma permanente. A taxa de ocupação das consultas é de 80% a mais de 90%, já temos consultas marcadas para daqui a um mês”, diz..A procura tem sido de tal forma que os projetos já estão a alargar, como o da nutrição que vai passar a abranger também as grávidas e as crianças. “Houve muita gente, inclusive colegas, que ficaram admirados por estas clínicas terem consultas de nutrição, mas para mim é uma área fundamental para as populações que vivem com poucos recursos”, justificou. .A maioria das pessoas que procuram as clínicas, são “utentes sem médico de família, mas também com médico de família, mas com dificuldade no acesso ao médico e a consultas no centro de saúde”, refere, exemplificando: “No Bairro do Armador, temos uma população de 26 mil pessoas e cerca de 16 mil não têm médico de família. Na Alta de Lisboa, a falta de resposta ainda mais é flagrante porque foi construído um centro de saúde, era para ter três médicos, mas só um escolheu ficar lá e passados três meses foi-se embora. Os utentes dirigem-se ao centro de saúde do SNS e as funcionárias mandam-nos para a clínica da câmara”..Rastreio de Cancro Colorretal arranca nos SSCML .No entanto, e como salienta Rui Julião, o projeto de Saúde que tem vindo a ser construído pelos SSCML “não pretende substituir o SNS, nem pouco mais ao menos, pretende, sim, ser uma complementaridade relativamente à ausência que se verifica nas respostas”..Os projetos têm surgido de acordo com as necessidades dos cidadãos e tendo sempre em conta “um pensamento para o futuro”, porque, sublinha o diretor clínico, “é no acesso que tudo se diferencia e se determina o futuro. Melhorando o acesso melhora-se a qualidade de vida das pessoas e a sua performance nos seus locais de trabalho”. Ou seja, “melhor saúde, melhor desempenho profissional e mais criação de valor para o país. Ficamos todos a ganhar”. .Neste sentido, e para haver maior resposta, está já prevista a abertura de uma terceira unidade de proximidade num outro bairro de Lisboa, “embora ainda não se saiba onde será instalada”, afirmou ao DN. .OS SSCML prestam cuidados que em amis de 40 especialidades médicas e exames, vão desde consultas de Medicina Geral e Familiar até à Medicina Física e Reabilitação..Mas o mês de setembro traz novidades na ampliação da resposta dos SSCML noutras áreas, nomeadamente na de prevenção. Depois de terem iniciado o rastreio do cancro da mama dirigido a mulheres entre os 40 e os 49 anos, já que o rastreio nacional é realizado a partir dos 50, em parceria com a Fundação Champalimaud, vão passar a realizar também o rastreio ao cancro do colorretal, a partir de 16 de setembro, e com acordo para utentes do SNS..As obras no edifício do Areeiro estão a ser terminadas para que a partir do próximo mês a nova Unidade de Endoscopia Digestiva e de Cirurgia Ambulatória possa entrar em atividade. “Vamos juntar-nos ao SNS para potenciar o acesso em áreas que são absolutamente determinantes. Teremos uma consulta de rastreio para o cancro colorretal seguida de uma consulta de gastro e de proctologia. Os casos positivos farão, no prazo máximo de dez dias, os respetivos exames, como uma colonoscopia, e serão referenciados ao hospital de origem para serem seguidos ou à Unidade de Saúde Familiar de origem”. Este acordo com o SNS para a área da endoscopia digestiva permite que “qualquer cidadão tenha acesso a fazer os exames na unidade dos SSCML”, reforça. .Nova unidade hospitalar funcionará com um SAP .As parcerias com o SNS e outros sistemas de saúde não ficam por aqui. Do projeto dos SSCML faz parte a criação de uma unidade hospitalar mais virada para os cuidados ambulatórios - “uma espécie de hospital de dia, esta é a designação correta”, explica o diretor clínico. Um projeto que surge, naturalmente, pela diferenciação dos cuidados que já são prestados no edifício do Areeiro, onde ficará a funcionar. .De acordo com Rui Julião, foi o tal “pensamento sempre virado para o futuro que nos levou à criação de condições que nos permitirão ter uma nova unidade hospitalar em Lisboa”, a qual, diz, “deverá estar a funcionar no primeiro quadrimestre de 2025, com todas as especialidade médicas que já incorporamos e também com internamento no âmbito da cirurgia do ambulatório”. O hospital deverá começar a funcionar numa primeira fase direcionado para os trabalhadores da CML e familiares, depois para os associados e por fim para população de Lisboa em geral. .À pergunta se não tem falta de médicos para dar resposta a tudo o que se propõe, um dos motivos que tem gerado constrangimentos no SNS, Rui Julião diz que até agora não teve problemas desses. “Há um projeto que tem enraizado em si uma cultura e dimensão humanista e social, e as pessoas aceitam muito bem trabalhar com projetos. Provavelmente vamos ser capazes de responder de forma diferente ao que vemos noutras instituições. O nosso foco e a nossa aposta é essa, fazer a diferença”. .O Serviço de Atendimento Permanente, que fucnionará como urgência básica, terá um horário das 08:00 às 20:00, numa primeira fase.Outra novidade é que esta unidade hospitalar virada para o ambulatório irá incorporar um Serviço de Atendimento Permanente (SAP), que começará a funcionar ao mesmo tempo que o hospital, para situações agudas, não urgentes ou emergentes - basicamente para situações que não encontrem resposta nos cuidados primários. Rui Julião explica o SAP irá funcionar numa primeira fase no horário das 08.00 às 20.00, mas que depois “avançará para o horário das 08.00 às 00.00 e das 08.00 às 08.00”. .SSCML querem ser projeto piloto para USF Modelo C .Mas as novidades não ficam por aqui. Esta unidade hospitalar irá incorporar também uma Unidade de Saúde Familiar, Modelo C - ou seja, será uma unidade hospitalar com ambulatório, uma urgência para doença aguda e uma unidade de cuidados primários a funcionar no mesmo edifício e em articulação. . O médico Rui Julião diz mesmo que com todas as valências que temos “não faz sentido que não nos candidatemos a uma Unidade de Saúde Familiar, Modelo C” - o último grau do modelo de delegação de prestação de cuidados primários através de gestão autónoma do SNS. A este modelo de gestão de uma unidade poderão candidatar-se, por exemplo, cooperativas formadas por médicos, unidades privadas ou sociais, como é o caso dos SSCML, para dar resposta aos utentes do SNS. Rui Julião está confiante e afirma: “Se não existir aqui uma USF Modelo C será difícil existir noutro sítio. Temos tudo para prestar cuidados primários e hospitalares. Além da atividade de ambulatório temos capacidade para exames de diagnóstico desde análises à TAC ou à Ressonância. A nossa candidatura poderá funcionar como projeto piloto, devendo haver mais três ou quatro, para depois serem avaliados e tirar-se ilações”, defende..Rui Julião tem um percurso de mais de 20 anos nos SSCML e a perspetiva de que “se deve partilhar o que é feito de forma correta”. Por isso, considera que chegou a hora de partilhar a resposta em saúde com o SNS, do qual diz ser um defensor. Sobre os SSCML reconhece que tudo o que foi feito até aqui e o que está para vir “só foi possível devido ao apoio de um conselho de administração, que deu cobertura a todos os meus desejos e aos projetos que valorizassem o acesso, a eficiência e a qualidade, porque é aqui que tudo se diferencia”. .Por isso mesmo, assume ser a favor dos pactos de regime na saúde. considerando que “os serviços sociais da CML e os seus associados também têm um dever, o de disponibilizar tudo o que foi criado a outras pessoas, nomeadamente com o SNS. A partilha é uma obrigação de todos quando fazemos algo que sabemos ser o certo”. “Temos de fazer tudo para que o SNS se mantenha com a dimensão qualitativa que sempre teve. Não interessa o partido que está no Governo, os pactos de regime são para isso mesmo, o que importante é saber-se que caminho se vai trilhar e realizar”, finaliza.