A Área Metropolitana de Lisboa prepara-se para receber um dos mais ambiciosos projetos de mobilidade da última década: o LIOS - Linha Intermodal Sustentável (Ocidental). Trata-se de um sistema de BRT (Bus Rapid Transit) elétrico, em via dedicada, que liga Algés a Alcântara e ao Colégio Militar/Benfica, com arranque previsto para 2028.O investimento, estimado em 93,5 milhões de euros, pretende oferecer uma alternativa real ao automóvel nos acessos ocidentais à capital, reduzindo tempos de viagem, emissões e congestionamentos. A ambição é clara: substituir minutos perdidos em filas por viagens previsíveis, frequentes e confortáveis, reduzindo o uso do automóvel e reforçando a competitividade económica de Oeiras e Lisboa.A ideia de uma “linha intermodal” no corredor ocidental não é nova. O Metropolitano de Lisboa estudou o conceito LIOS como uma ligação estrutural entre Oeiras e Alcântara (Ocidental) e, no polo oposto da cidade, entre Santa Apolónia e Sacavém (Oriental). A opção tecnológica evoluiu, entretanto, para BRT em canal próprio, por razões de custo, prazo e integração com redes existentes. O objetivo permanece: uma coluna vertebral de transporte de alta qualidade, com interfaces chave e ganhos ambientais, sociais e económicos quantificáveis.Basicamente, explica Joana Baptista, vereadora do Ambiente e Mobilidade na Câmara Municipal de Oeiras, o LIOS é um transporte coletivo em sítio próprio, que liga duas linhas do Metropolitano: a Vermelha, em Alcântara, à Azul, no Colégio Militar. Uma “linha de metro à superfície”BRT é um sistema de autocarros operado em corredores exclusivos, com estações tipo “metro de superfície”, pagamento antecipado, prioridade semafórica e elevada frequência. O resultado é uma velocidade comercial superior ao autocarro e fiabilidade semelhante a modos sobre carris, mas com investimento e tempo de execução inferiores. Em Lisboa e Oeiras, a tradução prática é um canal dedicado que isola o serviço do tráfego geral, reforçado por soluções ITS (sistemas inteligentes de transporte), informação em tempo real e frota elétrica.O conceito não é novo: o BRT nasceu na América do Sul e ganhou terreno em várias cidades do mundo. Em Lisboa e Oeiras, a aposta materializa-se no LIOS Ocidental, que será operado com 16 autocarros 100% elétricos, a circular em 21 quilómetros de canal exclusivo.Ao todo, estão previstas 29 estações semelhantes a paragens de metro de superfície, com plataformas acessíveis, bilhética validada antes da entrada e informação em tempo real.No LIOS, os dois eixos principais - Algés-Alcântara e Algés-Benfica (Colégio Militar) - articulam bairros residenciais, polos de emprego e interfaces com Metro, CP, Carris Metropolitana e mobilidade suave. O desenho privilegia Algés como porta de entrada/saída metropolitana e a faixa ocidental de Lisboa (Ajuda-Restelo), além de Miraflores, Linda-a-Velha e Carnaxide, em Oeiras.Segundo a informação institucional partilhada pelas Câmaras de Lisboa e Oeiras e pela Carris, o LIOS foi apresentado com tempos de viagem reduzidos em até 35% face à situação atual. Em termos práticos, significa menos cerca de 7 minutos entre Algés e Colégio Militar e cerca de menos 13 minutos entre Algés e Alcântara, com poupanças mensais acumuladas de até 8 horas para quem faz estas ligações em horário pendularMas o projeto, na sua globalidade, é mais amplo do que “apenas” o LIOS. Há outras linhas a “apanharem” a parte Oriental da cidade e ainda a possibilidade de o LIOS estender-se até ao concelho da Amadora, num futuro próximo. “Este sistema de transporte público, como se designa técnica e tecnologicamente, como um sistema ligeiro, ou seja, em oposição aos sistemas pesados que tipicamente são aqueles que operam em cima de carris”, explica Nuno Soares Ribeiro, sócio da VTM e responsável por coordenar a equipa que fez o estudo de procura e viabilidade económica do LIOS. A grande diferença (uma delas, talvez a principal) reside no facto de lhe ser dada prioridade na circulação. O executivo aponta ainda que este sistema foi inicialmente pensado para articular a parte ocidental da cidade de Lisboa, nomeadamente Alcântara, com Algés, mas que o município de Oeiras quer dar-lhe uma articulação maior. O resultado final foi o desenvolvimento de um sistema que “proporcionará ligações em transporte público com elevado nível de serviço, atualmente inexistentes”. Nuno Soares Ribeiro acrescenta ainda que o LIOS “terá uma oferta de elevado nível de qualidade, em ligações que atualmente ou não existem ou não têm essa qualidade, e assegurará a articulação entre os modos pesados, seja o Metropolitano de Lisboa ou a ferrovia, nomeadamente os serviços da CP”. À questão “porquê apostar na considerada mobilidade leve - BRT e não pesada - em carris?”, responde que é preciso perceber que “os sistemas pesados tipicamente desenvolvem-se ao longo de eixos com elevada procura”, referindo ainda que o sistema BRT tem a vantagem de ser mais rápido a implementar, exigir menos investimento e implicar menos disrupção no quotidiano das pessoas, dado que não requer projetos tão complexos. “Hoje em dia há a perceção de que é preciso investir em soluções de mobilidade alternativas ao automóvel e é preciso investir nestas ligações que não têm níveis de procura tão elevados como os sistemas pesados, mas que são relevantes porque detetamos potencial para servir um elevado número de passageiros”, refere o sócio da VTM, que acrescenta que, apesar de servirem um elevado número de passageiros, não é suficientemente elevado para justificar um modo pesado. “Um autocarro é significativamente mais barato do que um comboio e o processo construtivo é muito mais simples porque estamos a falar de redesenhar o sistema rodoviário”, explica Nuno Soares Ribeiro. As estimativas, apesar de não demasiado aprofundadas, apontam para que, com a implementação do LIOS (na sua globalidade), sejam retirados cerca de “4 mil viagens em automóvel todos os dias”. Traduzindo isto em passageiros, na versão mais simples do LIOS - diga-se apenas a articulação entre Oeiras e Lisboa - os números deverão rondar entre os 22 e os 25 mil passageiros por dia útil. Num cenário mais amplo, com ligação à Amadora, o número, refere o sócio da VTM, poderá ultrapassar os 30 mil. Um meio de transporte mais sustentávelA implementação do LIOS (e principalmente a sua interligação com outros sistemas de transportes públicos) vai beneficiar não só os cidadãos, mas também o ambiente. Desde logo porque “é possível operar este sistema com veículos de tecnologia limpa”, explica Nuno Soares Ribeiro. Por outro lado, vai “proporcionar ligações de transporte coletivo mais diretas a pessoas que hoje têm deslocações mais penosas dentro da rede de transporte público”, o que, na prática, significa encurtar (e melhorar) as deslocações das pessoas. O que significa aumentar a sua qualidade de vida. Por fim, mas não menos importante, mais pessoas a usar os transportes públicos significa menos automóveis na estrada. Por outras palavras, menos congestionamento e menos poluição.Para Oeiras, o LIOS representa uma oportunidade estratégica. O concelho concentra alguns dos maiores polos empresariais do país, como o Taguspark e o Lagoas Park, mas depende fortemente do automóvel privado. “O LIOS é fundamental para valorizar o território e dar melhores condições a quem aqui trabalha”, defendeu a Câmara Municipal de Oeiras durante a apresentação pública. Com interfaces em Algés e Miraflores, espera-se que milhares de trabalhadores optem pelo transporte público, aliviando a pressão nos acessos rodoviários.Para Lisboa significa uma melhor interligação com os territórios adjacentes, o aumento de atratividade e competitividade, e o melhoramento do tráfego, com a consequente diminuição associada à circulação de viaturas. A estimativa é de uma redução de dezenas de milhares de toneladas de CO₂ ao longo de 30 anos, além de menor poluição sonora.Com 21 km de corredor rápido, 29 estações e 16 veículos elétricos, o LIOS promete transformar o quotidiano de milhares de pessoas entre Oeiras e Lisboa.Se cumprir o calendário e garantir qualidade de serviço, poderá tornar-se um símbolo da transição para uma mobilidade mais sustentável, reduzindo filas, poluição e dependência do carro..Traçado, rotas e interfacesO LIOS terá dois eixos centrais:- Algés-Alcântara: ligação rápida entre a “porta ocidental” de Lisboa e a frente ribeirinha, com acesso reforçado a Monsanto e a zonas de forte densidade de emprego.- Algés-Benfica (Colégio Militar): eixo transversal que encurta deslocações pendulares, alimentando interfaces com Metro (Colégio Militar/Luz) e ligações a bairros da Ajuda, Restelo e corredor de Benfica.- Nós de Oeiras: Algés, Miraflores, Linda-a-Velha e Carnaxide funcionam como portas de entrada/saída e captadores de procura dos polos empresariais (Arquiparque, World Trade Center, Lagoas Park/Taguspark por articulação). As interfaces de Algés, Miraflores, Linda-a-Velha e Carnaxide serão pontos de captação de passageiros vindos de Oeiras, enquanto Alcântara e Colégio Militar funcionarão como portas de entrada na rede de Lisboa, com ligação ao Metro, CP e Carris Metropolitana.Os números do LIOSDe acordo com os estudos apresentados em julho de 2025, o sistema permitirá reduções de até 35% no tempo de viagem face à situação atual.Entre Algés e o Colégio Militar, a viagem ficará sete minutos mais curta; no eixo Algés-Alcântara, a poupança é de 13 minutos. No total, um passageiro pendular poderá ganhar até oito horas por mês de tempo livre.As estimativas apontam ainda para 22 mil passageiros por dia, dos quais 27% serão novos utilizadores que hoje usam carro. Com isso, o projeto prevê retirar cerca de 4000 automóveis por dia da rede viária.A tecnologia do LIOSFrota elétrica de alta capacidade: - Autocarros articulados, piso rebaixado, climatização eficiente e acessibilidade universal, preparados para carregamento rápido e gestão energética otimizada. A transição energética reduz emissões locais e ruído, melhorando o conforto a bordo e a qualidade do espaço público envolvente. Canal dedicado e prioridade operacional:- A infraestrutura separa o LIOS do tráfego geral, garantindo regularidade e velocidade comercial. Em pontos críticos, a prioridade semafórica reduz tempos de travessia. A operação está pensada para frequências elevadas, com intervalos reduzidos em hora de ponta, e integração tarifária no passe metropolitano.ITS e informação ao passageiro:- Sistemas de gestão centralizada, monitorização de serviço e informação em tempo real nas estações e aplicações móveis. Nas interfaces, o passageiro terá correspondências fluidas para Metro, CP e rede rodoviária, incluindo mobilidade ligeira e parques dissuasores.Características- Extensão total: 21 km- Frota: 16 veículos elétricos - Número de paragens: 29Pontos de partida em Lisboa: - Alcântara - Estação de Metro (linha vermelha) - Benfica - Estação de Metro do Colégio Militar (linha azul)Ponto de partida em Oeiras:- Algés - Estação da CPNúmeros importantes- Procura estimada: 22 mil passageiros por dia útil.- 27% da procura estimada é captada a quem usa hoje o automóvel. - Cobertura demográfica: 91.380 habitantes a menos de 500 metros do traçado total.- Percentagem da população abrangida: 85% da zona envolvente.- Pontos chave do eixo Alcântara-Algés: Algés - Av. dos Bombeiros voluntários - Hospital São Francisco Xavier - Escola Secundária do Restelo - Alto do Restelo - Polo Universitário da ajuda - Monsanto - Alvito - Alcântara (futura ligação metro linha vermelha).- Pontos chave do eixo Benfica-Algés: Miraflores - Portela Carnaxide - Pina Manique - Estação Ferroviária de Benfica - Centro Comercial Fonte Nova - Estação intermodal Colégio Militar (ligação metro linha azul).Investimento financeiro e cronograma- Valor global de investimento: 93,5 M€- Projeto cofinanciado com estimativa de financiamento de 58,6M€ e comparticipação nacional de 34,9M€ - Financiamento sustentável 2030 - Final da obra: 2028- Entrada em operação: 2028Mais-valias geradas- Benefícios económicos 155M€ (58% em tempo de viagem, 35% custos veículos, 7% ambientais)- Redução de entrada de 4.000 veículos/dia (2029)- Redução de 38,7mil tCO2e (acumulação 30 anos)- + rápido (-35% tempo viagem): autocarro ~37 minutos vs 24 minutos (Algés - Colégio Militar)- + rápido (-35% tempo viagem): autocarro ~35 minutos vs 22 minutos (Linda-a-Velha - Alcântara)- Melhoria do acesso ao transporte público para mais de 90 mil residentes