A decisão de retirar três crianças – uma menina de oito anos e gémeos de seis - de uma família que vive isolada numa zona de floresta em Palmoli, na região de Abruzos, está a gerar um debate aceso em Itália. O caso, que junta questões de proteção infantil, liberdade educativa e intervenção do Estado, ganhou dimensão nacional após a entrada em cena de figuras políticas de topo e acusações de interferência na Justiça.Em causa está um casal angloaustraliano que decidiu ir viver numa zona florestal isolada, sem água canalizada nem eletricidade, para usufruir de uma ligação direta à natureza. No entanto, tudo mudou depois de uma intoxicação por cogumelos, em outubro de 2024, que levou os cinco membros da família ao hospital e desencadeou uma investigação dos serviços sociais italianos.Após várias inspeções, o Tribunal de Menores de L’Aquila ordenou a transferência dos três menores para uma comunidade educativa em Vasto. A medida permite a permanência da mãe com os filhos durante um período de observação, enquanto o pai continua a residir na casa do bosque.Para suportar a sentença, o tribunal invocou três fatores: isolamento extremo, precárias condições habitacionais e exposição mediática das crianças. Os juízes sublinharam que os menores não frequentavam a escola, não tinham contacto com outras crianças e viviam num ambiente sem condições de higiene, segurança ou estabilidade. A sentença refere ainda que a ausência de vida social põe em causa direitos fundamentais garantidos pela Constituição italiana.O advogado da família, Giovanni Angelucci, fala em “decisão repleta de falsidades” e garante que o ensino doméstico das crianças estava documentado. Afirma ainda que os pais criaram as crianças “com carinho” e que a vida na floresta “nunca comprometeu a saúde ou a segurança dos menores”.O pai das crianças, Nathan Trevallion, não esconde a dor e disse aos media italianos que a intervenção do Estado "destruiu a vida de cinco pessoas", que as crianças ficaram “traumatizadas” e que não havia motivo para tirá-las de um lar onde, diz, “eram felizes”. O recurso da decisão do tribunal já foi apresentado e deverá ser analisado nos próximos dias.. Enquanto isso, o caso extravasou para o plano político. O vice primeiro-ministro Matteo Salvini classificou a intervenção do Estado como “vergonhosa”, dizendo que não se podem “roubar crianças” só porque a família vive sem água ou luz. Também a primeira-ministra Giorgia Meloni mostrou preocupação com a atuação dos magistrados, o que levou, por seu lado, associações de juízes a acusarem o governo de ingerência num processo ainda em curso.Nas redes sociais, a mobilização não pára de crescer. Uma petição acumula já mais de 30 mil assinaturas a pedir que a família possa regressar à floresta.Nas próximas semanas, relatórios técnicos e avaliações psicológicas vão determinar se os três irmãos podem voltar à vida que sempre conheceram ou se o Estado terá de impor medidas permanentes. Até lá, o debate segue dividido, entre quem vê uma família vítima de excesso de zelo e quem considera que a que a liberdade dos pais está a pôr em causa os direitos das crianças.